sexta-feira, 30 de maio de 2008

Considerações acerca do Prêmio TIM

No último dia 28, no Rio de Janeiro ocorreu a sexta edição do Prêmio TIM de música brasileira. Na categoria Samba os indicados eram:

Para melhor disco
DISCO: Sambista Perfeito
ARTISTA: Arlindo Cruz
PRODUTOR: Leandro Sapucahy
GRAVADORA: Deckdisc

DISCO: Estação Melodia
ARTISTA: Luiz Melodia
PRODUTOR: Humberto Araújo
GRAVADORA: Biscoito Fino

DISCO: Acústico MTV
ARTISTA: Paulinho da Viola
PRODUTOR: Luiz Pereira – Adilson Tokita
GRAVADORA: Sony/BMG

Ganhou Acústico MTV Paulinho da Viola.


Para melhor grupo
ARTISTA: Casuarina
DISCO: Certidão
GRAVADORA: Biscoito Fino

ARTISTA: Cristina Buarque e Terreiro Grande
DISCO: Ao Vivo
GRAVADORA: Dançapé

ARTISTA: Fundo de Quintal
DISCO: O Quintal do Samba
GRAVADORA: LGK Music

Ganhou Fundo de Quintal - O Quintal do Samba.


Para melhor cantor
ARTISTA: Jair Rodrigues
DISCO: Em Branco e Preto
GRAVADORA: Trama

ARTISTA: Luiz Melodia
DISCO: Estação Melodia
GRAVADORA: Biscoito Fino

ARTISTA: Paulinho da Viola
DISCO: Acústico MTV
GRAVADORA: Sony/BMG

Ganhou Paulinho da Viola.


Para melhor cantora
ARTISTA: Alcione
DISCO: De Tudo que eu gosto
GRAVADORA: Indie Records

ARTISTA: Elza Soares
DISCO: Beba-me Ao Vivo
GRAVADORA: Biscoito Fino

ARTISTA: Fabiana Cozza
DISCO: Quando o céu clarear
GRAVADORA: Gravadora Eldorado

Ganhou Alcione

Dito isso, agora darei os meus pitacos. O prêmio de melhor disco ficou em boas mãos, porém não seria ruim se o Luiz Melodia levasse essa, já que seu disco está muito bonito, tanto quanto o Acústico do Paulinho.

Quanto ao melhor grupo, é aqui que acontece uma das maiores injustiças desta premiação. Digo isso porque quando o Fundo de Quintal foi no programa do Faustão para escolher o repertório do próximo CD, que conteria os melhores sambas de todos os tempos, fizeram uma apresentação pífia, tocando as músicas de qualquer jeito e até mesmo esquecendo letras de sambas mais que consagrados. Do outro lado se encontra o Terreiro Grande, um grupo que se notabilizou justamente por interpretar a obra dos grandes baluartes do samba com delicadeza, emoção e sem esquecer as letras.

Sobre o melhor cantor, acredito que qualquer um dos três poderia levar o prêmio numa boa!

E quanto a melhor cantora, apesar de não gostar muito do repertório da Alcione, considero-a uma boa cantora e acredito que poderia ser entregue a qualquer uma das três.

Veja aqui os outros indicados, e aqui os outros ganhadores.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Saudosa Caderneta!

Depois de dois longos posts nada melhor do que uma coisa leve, sem muitas palavras. E nesse escrito da seção 30 segundos de samba, uma leve diferença: não utilizaram um samba na publicidade, mas criaram uma música especial para isso.

Como uma forma de dar mais destaque à marca, personalidades são convidadas e, claro que por uma boa grana, atrelam seu nome a uma marca. Em 1978, Adoniran Barbosa compôs um sambinha para a Caderneta de Poupança Unibanco.



Confira a letra:
Eu já botei muita nota no chorinho
Mas quem gasta muita nota fica falando sozinho
Já tirei muita nota do meu pinho,
Mas a nota que faz falta não é da flauta, nem do cavaquinho

Se der um breque eu brinco
Se der um branco, eu me manco
Se a coisa aperta eu tenho onde segurar
Na caderneta de poupança Unibanco
Tem uma nota certa que jamais vai me faltar

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Reduto do choro - Sobre vida, música e arte

Um dos principais pontos de encontro de sambistas dos anos 60 e 70 foi a loja Contemporânea no Bairro Santa Ifigênia. Por ter sido a primeira loja de instrumentos musicais de São Paulo, lá figuras como Cartola, Martinho da Vila, Jamelão e Clara Nunes se juntavam, tocavam e trocavam seus sambas e pagodes. A prática levou o nome de Samba na Vitrine e apesar de hoje não contar mais com as mesmas figuras, após 30 anos ainda continua a reunir amantes do gênero aos sábados, na Rua General Osório 46.
Mas atualmente, a maior parte das pessoas que visitam a Contemporânea aos sábados vem atraída pela roda de choro que acontece nos fundos da loja, das 10 às 14 horas. A roda foi organizada pelo dono da loja, Miguel Fasanelli, 75 anos, para que os chorões tivessem um local oficial onde pudessem se reunir. O encontro, ali, entre chorões da velha-guarda, jovens instrumentistas e curiosos, já se estende por 16 anos.

Como a roda não conta com a participação de integrantes fixos, variam-se muito os músicos que podem ser encontrados aos sábados. Atualmente, as meninas do Choro das 3, Corina, Lia e Elisa, que lançaram recentemente o CD ‘Meu Brasil Brasileiro’, têm chorado com freqüência por lá.
Mesmo para os ouvintes que não participam efetivamente da roda, há banquinhos de madeira para que possam desfrutar da música de maneira mais acomodada - diga-se de passagem, os jovens não são muitos por lá. Há quem chegue sem receio como Fábio de Bonna, 53 anos “sempre que posso estou por aqui”, tira dois chocalhos pequenos do bolso e participa da percussão. A maioria das pessoas já se conhece, cumprimentam-se e muitas se revezam para entrar na roda e cantar um samba. Apesar da tradição do choro, a roda não é fechada para outros gêneros; sambas e até uma bossa nova mais levada são puxados de vez em quando.

O espaço que a loja Contemporânea reservou para a roda de choro foi carinhosamente batizado de sala Evandro do Bandolim, uma homenagem ao músico e amigo, após sua morte em 1994. As paredes da pequena sala, através de fotos e caricaturas, registram personagens marcantes da música popular brasileira como a pianista Chiquinha Gonzaga, o violonista Zé Barbeiro, Garoto, Benedito Lacerda, Donga – que em 1917 consagrou a gravação de Pelo Telefone, considerado o primeiro samba gravado na história - Paulinho da Viola, e outros músicos que passaram pela roda, menos conhecidos, mas não menos importantes no que se refere à continuidade que dão ao rico legado musical brasileiro.

Ouça Pelo Telefone na voz de Zé da Zilda

Além da roda, o espaço é reservado para aulas de violão e cavaquinho que acontecem durante os dias da semana com Arnaldo, 38 anos, músico e professor funcionário da casa.
Aos sábados, a Contemporânea fecha oficialmente às 14 horas, mas o horário muitas vezes não coincide com a empolgação das pessoas. Então, os músicos seguem para o bar ao lado e continuam o que parecem ter aprendido a fazer com muita graça: a arte de tocar a vida.

terça-feira, 27 de maio de 2008

1967: Noel, 30 anos após sua morte

Em Maio de 1967, fazia 30 anos da morte de Noel Rosa. Precisamente no dia 4, Ruy Castro estreava no Correio da Manhã assinando sua primeira matéria, que falava sobre o sambista da Vila Isabel. A matéria saiu no 2º Caderno e mal pode ser lida no original, que deixamos para você baixar. Justamente por isso, o Vermute com Amendoim transcreveu todo o texto, que pode ser lido abaixo. Bom divertimento.



1937: Noel o samba em funeral
O dia de hoje marca os 30 anos da morte de Noel Rosa. O samba nascido na calçada e no subúrbio encontrou no poeta-cantor de Vila Isabel o seu expoente maior. Genial e boêmio. A tuberculose o levou cedo, aos 27 anos de uma vida noturna e agitada: um samba, entre um copo e outro, fotografando a madrugada carioca.

Uma grande parte das camadas urbanas, proletarizada ou mesmo um pouco acima do salário-mínimo, formula um contexto específico de que o samba nascido na Praça Onze, é apenas uma das incontáveis ramificações. Mergulhado neste contexto, prodruto de uma mistura de mulato, violão e botequim, o samba é a forma de expressão mais rápida para comunicar aquela carga latente de nostalgia & desencanto, conseqüências da marginalização social e econômica.
Essa conjuntura deságua fácilmente em Noel, menino de Vila Isabel, de mãe viúva e professôra, sambista de subúrbio, desemprêgo e madrugada. Cada um de seus sambas ultrapassa o mero aspecto "descritivo" de um fato exótico, para traduzir o microcosmo de uma classe empurrada para o último ou penúltimo degrau da escada social, indo tomar de noite o seu ópio musical, entre o pileque e a serenata.

SEM CHORO NEM VELA
Segundo Almirante, desde 1935 a vida de Noel vinha minando a sua frágil resistência física. A tuberculose já o rondava, por trás de seu defeito no rosto que o fazia comer de menos e beber de mais - dormir todo dia e só depois sair, para seu samba engolir a noite. Constatada a doença, sucederam-se as estações de repouso, mas o samba de Noel não tinha férias nem tomava conhecimento de descanso. O cantor já iria regressar da última viagem, em Piraí, com a moléstia seriamente agravada.

Tudo terminou no dia 4 de maio de 1937, em Vila Isabel, presentes Orestes Barbosa e Marília Batista, e, daí a meia hora Aracy de Almeida acabava de gravar, naquele dia, o último samba de Noel: Eu Sei Sofrer.

TRISTE CUÍCA
A morte de Noel lançou no limbo o compositor, repercutindo quase que únicamente nos arraiais do samba. Isto porque, segundo Almirante e Aracy de Almeida, nos idos de 30 qualquer sambista era violentamente marginalizado e acusado de vagabundagem, sofrendo todos êles os efeitos dessas discriminação. Menos Noel, que, apesar de sua família enfrentar uma série de dificuldades, jamais abandonou aquêle despojamento e desprêzo pelo sucesso.

Os seus sambas continuaram a ser tocados no rádio, sem grande alarme popular. Em 1942, Almirante produziu na Rádio Tupi, o primeiro programa dedicado à revisão de Noel Rosa e, a êste, seguiram-se vários outros. A "redescoberta" do compositor pelos cantores de maior contato com as massas, como Silvio Caldas, acabou de restituir-lhe a plena identificação com o público, especialmente depois de um show de sambas de Noel na Boate Vogue, com Aracy de Almeida, em 1948.

FEITIÇO DE NOEL
Aracy fala do samba, no tempo de Noel: "A gente ganhava pouco ou nada, mas vivia só pra sair de noite, cantar e fazer música, e viver na vida boêmia. Não era à toa que sambista naquele tempo era sinônimo de malandro e vadio. De fato, naquela época, sambista era pinta-braba, tinha muito valente e mal-elemento querendo ser compositor. O Noel, que conhecia todos os pilantras do Rio, nunca foi muito aceito porque não saía da Lapa e do Mangue, de onde voltava com uma porção de sambas escritos em maços de cigarros Odalisca, que depois ele vendia pra pagar a fatura do dia seguinte. Aliás, naquele tempo não houve sambista a quem Noel não tivesse dado uma mãozinha, trocando uma letra aqui, outra ali, e muito samba famoso por causa disso, tem o dedo do Noel Rosa, e ninguém sabe".
Aracy conheceu Noel em 1932 e o seu primeiro contato maior com o compositor nasceu numa noite de samba em caixa de fósforo, regada com cerveja Cascatinha, na Taberna da Glória: era o début boêmio da jovem cantora. Do pileque na Taberna até a morte de Noel, em 1937, Aracy estêve presente a todo o processo de evolução do samba e da noite carioca, nos cabarés da Lapa e nos botequins detrás da Central, ao lado de Noel, com quem saía à noit, para varar as madrugadas. Dessa parceria de cantora & compositor, nasceram Palpite Infeliz, O X do Problema, Pela Primeira Vez, Século do Progresso, Amor de Parceria, Triste Cuíca, Já Cansei de Pedir, Feitiço da Vila, Aracy conta: "Uma noite eu cheguei pro Noel e pedi pra êle fazer um samba pra mim gravar no dia seguinte. Noel pensou um minuto e ali mesmo, na mesa do Café Trianon compôs O X do Problema, nas costas de um maço de Odalisca".



O XIS DO SAMBA
Eo 30 anos, os sambas de Noel foram regravados algumas dezenas de vêzes, desfechando aquela carga poética e musical que tanto influencia os novos compositores. Três livros foram escritos a seu respeito: um dêles, o mais completo, por Almirante, testemunha ocular da história do samba e amigo de Noel desde 1923. Das suas madrugadas, saíram cerca de das centenas de músicas, algumas mulheres e uma série de lendas suobre sua vida e obra. Mas, o chôro da flautam violão e cavaquinho para os 30 anos de sua morte é a sua presença mais constante nêstes 30 anos de samba.

Recolocada em órbita a partir dos anos 40, a sua obra pode ser submetida hoje a um olhar de Raios-X sem perder nada de sua instigante comtemporaneidade. Mesmo porque Noel traduz o X do samba, haja vista que a sua arte permanece pelo tempo, não só pela eternidade de suas criações gravadas na cêra para a posteridade, mas principalmente por sua poderosa influência no que de melhor se faz hoje em samba.

Trinta anos depois de Conversa de Botequim, Com que Roupa?, Coisas Nossas, Mentiras de Mulher, Fita Amarela, Noel encontra um eco nas criações de Chico Buarque de Hollanda e Sidney Miller. A mesma divisão crítica e criativa dos seus sambas, por trás da historinha ingênua e bem temperada, está presente em Juca, Você não Ouviu, A Rita etc, e nas duas mais recentes composições de Chico: Com açúcar e afeto e Quem te viu e quem te vê. E quanto a Sidney Miller é só ouvir O Circo.

A revalorização do trivial, do cotidiano e do popularesco, o reencontro do samba com as suas raízes, que são os vértices da moderna música brasileira, têm como base Noel. Carioca e universal. De 1937 a 1967, Noel tem sido o X do samba.

Baixe aqui a página
Mais no Vermute
Ouça a música mais sexual de Noel Rosa
O Poeta da Vila também parodiou Irving Berlin. Confira
Mário Reis antecipou o estilo de cantar de Noel. Saiba mais

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Bambino da Renault

Mais um comercial que usa uma música de Ernesto Nazareth, o tanguinho “Bambino”. A composição aparece no comercial do Logan, da Renault.



A composição é de 1913, originalmente para piano. É o vigésimo sexto tango de Nazareth e foi intitulado em homenagem ao caricaturista Arthur Lucas, responsável por algumas capas de partituras de Nazareth.

Confira:


Como acontece com alguns choros brasileiros, a música recebeu letra posteriormente. Mas o curioso é que dois artistas fizeram diferentes letras. Catulo da Paixão Cearense foi responsável pela primeira versão pra música, muito mais elaborada. Catulo além de lhe dar os versos, deu um outro título à música: “Você não me dá”.

Ouça na voz de Antonio Adolfo:


José Miguel Wisnik foi o segundo a pegar um dos grandes sucessos de Nazareth e dar-lhe uma letra. Ouça. Esta versão foi gravada no CD “Do Cóccix até o Pescoço”, de Elza Soares.

domingo, 25 de maio de 2008

Disco da semana: Divino Samba Meu - Dona Inah


Ela gravou seu primeiro disco em 1960, na época se apresentava em programas da Rádio Record e por conta disso foi contemplada com a gravação de um 78 rpm. O disco não fez muito sucesso, tanto que Dona Inah dividia sua vida entre bicos de babá, doméstica e cozinheira com a vida de cantora, se apresentando em rodas de samba e em pequenos shows pela noite de São Paulo.

Em 2002 participou do musical Rainha Quelé (em homenagem a Clementina de Jesus) e a partir daí sua carreira decolou. Em 2004, aos 69 anos lançou o seu primeiro CD, que leva o nome de "Divino Samba Meu". O disco conta com composições de bambas de alto gabarito como Noca da Portela, que abre o disco com a música "Peregrino". Além disso há músicas de Noel Rosa, Cartola, Nelson Cavaquinho, Ary Barroso, Ataulfo Alves, Paulo Vanzolini e Eduardo Gudin, que faz uma participação especial no violão e nos arranjos da música de sua autoria, a faixa "Samba de Mágoa".

Porém não é só de boas músicas que se faz um disco. Dona Inah dá o tom sem exageros, cantando o samba da maneira como deve ser feito, com simplicidade e emoção. Em 2005 Dona Inah ganhou o Prêmio Tim de música brasileira como revelação.

Músicas:
1 - Peregrino (Noca da Portela)
2 - Qual foi o mal que eu te fiz (Noel Rosa / Cartola)
3 - Palhaço (Nelson Cavaquinho / Osvaldo Martins / Washington)
4 - Não sou manivela (Ary Barroso)
5 - Armadilhas (Ataulfo Alves / Hermínio Bello de Carvalho)
6 - Feitio de oração (Noel Rosa / Vadico)
7 - Como é que eu posso? (Cartola)
8 - Ladrão que entra em casa de pobre (Jorge Costa)
9 - Ingenuidade (Serafim Adriano)
10 - Ressentimento (José Eduardo Rennó / Heron Coelho)
11 - Samba de mágoa (Eduardo Gudin)
12 - No fim não se perde nada (Paulo Vanzolini / Toquinho)
13 - Divino samba meu (Heron Coelho / Luis Ribeiro / Alexandre Pavan)

Baixe esse disco pelo 4shared.
Dona Inah se apresenta todas as terças no Ó do Borogodó.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Paulo Vanzolini, Assis Ângelo e Osvaldinho da Cuíca juntos em debate

Acontece amanhã na capital paulista um debate entre o jornalista Assis Ângelo, o músico Osvaldinho da Cuíca e o professor e compositor Paulo Vanzolini.

O “Debate: Músicas para São Paulo e a formação cidadã” abordará temas que vão desde a origem da cidade de São Paulo até a qualidade de vida nos grandes centros urbanos.

O evento, que será realizado na biblioteca Cassiano Ricardo no espaço Itamar Assumpção ás 15 horas, é grátis.

Saiba mais aqui.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Vermute com Amendoim apóia o Sesc!

Há pouco mais de um mês começou uma discussão sobre um projeto de lei que o ministro da Educação, Fernando Haddad, assinou no dia 28 de abril e encaminhou ao Congresso Nacional, por meio do qual pretende retirar 33% dos recursos destinados ao chamado Sistema S (que engloba o Sesc, Senai, Sesi, Senac, Sebrae, Senar e o Sescoop) e redirecioná-los para a criação e manutenção do Funtep (Fundo Nacional de Formação Técnica e Profissional).

A principal proposta do projeto de lei é inverter a porcentagem do repassamento das verbas que as entidades voltadas para o serviço social recebem (60%) com relação ao que é destinado ao aprendizado profissional (40%). Ou seja, 60% da verba para a capacitação profissional e 40% para o social.

Assisti em diversas unidades do Sesc, de graça ou a um preço bem acessível, shows memoráveis com grandes nomes da nossa música. Creio que a capacitação de profissionais mereça, sim, mais atenção do governo, porém retirar recursos de uma entidade que tem tanto a oferecer para a população, que em sua maioria não tem condições de freqüentar um teatro pelo custo que demanda, é um enorme retrocesso.

Além disso, o Sesc oferece ações de inclusão social por meio do esporte, programas de alimentação, atividades para a terceira idade, atendimento odontológico etc.

Leia abaixo a carta aberta do diretor regional do Sesc SP.

Carta aberta ao público freqüentador do SESC

Queremos compartilhar com todos vocês o risco ao qual o SESC está exposto neste momento. O governo federal pretende enviar ao Congresso Nacional projeto de lei que retira pelo menos 33% dos recursos do SESC para a criação de mais um fundo de financiamento de programas de formação profissional. Diante desse risco, é nosso dever expor à sociedade brasileira o valor e a importância desta instituição criada, mantida e administrada com recursos privados, provenientes de contribuição compulsória das empresas do comércio de bens e serviços surgida nos anos 40 por proposta voluntária do empresariado.

Esta definição tem amparo na lei e na Constituição Brasileira (art. 240). O SESC promove a educação permanente por meio de suas ações culturais, socioambientais, esportivas, de promoção da saúde e da cidadania, das atividades de lazer e de sociabilização, voltadas prioritariamente às pessoas de menor renda. A melhor maneira de conferir o significado dessa ação é vivenciar o dia-a-dia.nos centros culturais e desportivos. Ouvir o relato dos freqüentadores sobre a importância do SESC em suas vidas e para suas famílias.


Utilizar os equipamentos e instalações de primeira qualidade, abertos a todos os estratos sociais, e participar das inúmeras atividades que abrangem um amplo arco de interesses e necessidades, reunindo um público extremamente diversificado. Acreditamos que todos vocês já tiveram essa oportunidade. São, portanto, testemunhas da natureza beneficamente eficaz, engajadamente eficiente e profundamente educativa do trabalho que o SESC desenvolve há 61 anos.


Esse patrimônio não pode ser sacrificado em favor de prioridades transitórias, em nome das quais se destruiria um trabalho consolidado em mais de seis décadas de atuação, causando um prejuízo incalculável ao desenvolvimento do país. A educação profissional é importante. Mas se dissociada de uma ação voltada ao desenvolvimento integral do indivíduo, torna-se meramente utilitarista, o que levaria a um evidente retrocesso, fruto de uma visão obscurantista e flagrantemente retrógrada.


Diante da gravidade dessa situação, que propõe a retirada de substanciais recursos dos programas socioeducativos do SESC, convidamos a todos para que se manifestem, pelos meios ao seu alcance, em prol da continuidade de nosso trabalho. Um projeto que, afinal, é uma conquista da sociedade brasileira.


Danilo Miranda, Diretor Regional do SESCSP


Veja o que já foi públicado sobre o assunto.
Assine o manifesto em defesa do Sesc.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Reflexões de Sargento

Em 2005 Nelson Sargento deu outras asas à sua poesia. Foi por meio da publicação do livro “Pensamentos”, com algumas frases de autoria própria que não entraram em sambas.

Não entraram e deram o pano de fundo para o show “Pensamentos Cantados”, projeto que tomou forma ao lado de Agenor de Oliveira (não, não é o Cartola). A idéia é selecionar um punhado de frases e cantar uma ou duas músicas relacionadas ao tema.

Algumas, porém, continuam na exclusividade do papel, como é o caso de “O traído é o último a saber. Se fosse o primeiro, não haveria graça” ou “Dançar é a melhor maneira de pegar na cintura da vizinha”.

No vídeo, gravado na Lagoa Rodrigo de Freitas, Nelson é acompanhado do filho Ronaldo Mattos e de Agenor de Oliveira.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Adeus Darcy!


Foi enterrado hoje o sambista Darcy da Mangueira, no cemitério de Inhaúma, em Del Castilho, região da Zona Norte do Rio de Janeiro.

Darcy Fernandes Monteiro foi levado por Nelson Sargento, no início da década de 50, e ingressou a ala de compositores da Mangueira. Em 1970 gravou o disco "A História do Samba Verdadeiro - Darcy da Mangueira".

Pertencia à Velha Guarda da escola e foi um dos autores do Samba Enredo "O mundo encantado de Monteiro Lobato" (1968), feito em parceria com Élio Turco e Jurandir e que consta no CD "Mangueira chegou", produzido pelo japonês Katsunori Tanaka em 1989.

Deixou em seu currículo mais de 300 canções. Darcy faleceu ontem, vítima de um câncer, aos 71 anos.

Chiquita existencialista

Em 1949, João de Barro, o Braguinha, conquistou pela terceira vez consecutiva o carnaval. O sucesso dessa vez foi a marcha que ultrapassou não só a barreira do tempo, como também a fronteira do Brasil.

“Chiquita Bacana” tem uma letra com apenas sete versos, mas um fundo bastante filosófico. A idéia de fazer a música veio do próprio Braguinha, que propôs ao companheiro Alberto Ribeiro fazer algo sobre o tema mais explorado na imprensa da época: o existencialismo.

Sartre, Camus e Simone de Beauvoir talvez ficassem pasmos com a música que trata, com muito bom humor, dos “existencialistas”. Aqueles de vida boêmia, que passavam noites enfurnados nos cabarés parisienses, em volta de um canecão de vinho.

Chiquita bacana lá da Martinica
Se veste com uma casca de banana nanica

Não usa vestido, não usa calção
Inverno pra ela é pleno verão
Existencialista com toda razão
Só faz o que manda o seu coração.

A marchinha fez tanto sucesso que foi gravada nos Estados Unidos, Argentina, Itália, Holanda, Inglaterra e França. O título não ficou o mesmo do original. “Chiquita madame de la Martinique” tem versos de Paul Misraki e faz parte da discografia da sensual Josephine Baker e de Ray Ventura.

Ouça aqui a versão interpretada por Emilinha Borba, lançada pela Continental, ainda em 1949.

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Conheça Lan, um caricaturista estrangeiro que brilhou no Brasil
Veja a entrevista com o diretor do filme "Noel, o Poeta da Vila"
Lembra de Bethânia cantando Carcará? Confira

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Rosa de Ouro na Globo

Em um especial com Paulinho da Viola, em 1981, na Rede Globo, o Conjunto Rosa de Ouro (Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho, Elton Medeiros e Anescarzinho do Salgueiro) se reuniu mais uma vez para relembrar alguns sucessos deste espetáculo que marcou época.

Alguns ilustres acompanham o conjunto como o grande violonista César Faria (pai de Paulinho), Celsinho Silva que toca pandeiro com Paulinho até hoje e Mauro Diniz no violão. No show ainda há particpações especiais de Radamés Gnattali, Maestro Copinha, Canhoto da Paraíba, Zezé Mota e da Velha Guarda da Portela.



Vale lembrar que na formação original Nelson Sargento não figurava. Não à toa uma das músicas canta: "São quatro crioulos...". Acontece que em determinada época o conjunto sentiu falta de mais um violão. Elton Medeiros que lembrou: "Olha, eu conheço um violonista lá em Mangueira".

Era Nelson Sargento. Mas o quinto crioulo demorou para integrar a formação. Só depois de três vezes que Elton Medeiros subiu o morro e deixou recado com Leocádia, que era mulher dele na época, é que Nelson resolveu descer o morro e aparecer no Teatro Jovem, onde eram os ensaios.

Quando ele chegou, nada de violão. Nelson perguntou: "Onde é que é o serviço?". Nelson pensou que havia sido chamado para pintar o teatro. Mal sabia ele que sua colaboração seria muito mais geniosa.

O show em questão encontra-se disponível em DVD e pode ser comprado aqui.

Mais no Vermute
Confira as três seleções de músicas que o Vermute fez para você.
Conheça um dos maiores incentivadores da marchinha: Silvio Santos.
Sabe a história do samba "Lá se vão meus anéis...". Leia aqui.

domingo, 18 de maio de 2008

Disco da semana: Sucessos de Zé Kéti

Não houve quem deixasse a figura do favelado em maior evidência. Zé Kéti soube quebrar a ponte que existe entre a classe média e os sambistas do morro. Fazendo parte do segundo grupo, foi capaz de quebrar barreiras por conta cantando: “Pobre não é um, pobre não é dois...”.

Quando perguntaram qual o nome daquele grupo que juntava Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho e outros, Zé Kéti é que disse: “A voz do morro”. Foi ele que nomeou um dos grupos mais famosos do samba. O homem que compôs “Diz que fui por aí”, “Mascarada” e “Máscara Negra”, os dois últimos feitos para um amor de carnaval.

Zé Kéti do show Opinião e da ginga cantada em “Vestido Tubinho”. O mesmo Zé que canta “Queixa” e “Cicatriz”, que canta a pobreza como um poeta que exalta o que a maioria da população tenta esconder. Um homem que soube o lugar prioritário que o favelado deve ocupar no samba. O lugar daquele que não pode comprar o disco, mas que é homenageado por um dos grandes favelados da música.

Tudo isso no disco “Sucessos de Zé Kéti”, de 1967.

Músicas:
1 - Acender as velas (Zé Kéti)
2 - Cicatriz (H. Bello de Carvalho / Zé Kéti)
3 - Diz que fui por aí (H. Rocha / Zé Kéti)
4 - Opinião (Zé Kéti)
5 - Queixa (Paulo Thiago / Zé Kéti / Sidney Miller)
6 - Vestido tubinho (Zé Kéti)
7 - Favelado (Zé Kéti)
8 - Poema de botequim (Zé Kéti)
9 - Prece de esperança (Zé Kéti)
10 - Máscara negra (Pereira Matos / Zé Kéti)
11 - Viver! (Zé Kéti)
12 - Mascarada (Elton Medeiros / Zé Kéti)

Baixe esse disco no um que tenha.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Vermute Recomenda: Rumo aos Antigos (1981)

Os freqüentadores mais xiitas deste blog, e aqui incluo o dileto colunista Murilo Mendes, poderão me criticar. Quem baixar o disco e não gostar terá motivos para chamar o Vermute com Amendoim de esquizofrênico. Mesmo assim decidi correr o risco de recomendar o disco Rumo aos Antigos, de 1981.


O disco do grupo Rumo, que estourou na década de 80 com arranjos em que a voz passeia por cima da melodia, tem faixas de autoria de nomes de peso, como Noel Rosa, Vadico, Lamartine Babo, Sinhô e outros.


Mas engana-se quem espera encontrar uma marchinha como as executadas lá nos idos da década de 20. Rumo aos Antigos não se acanha em colocar um guitarra distorcida para cantar “Bobalhão” ou um sotaque português para “Não quero saber mais dela”, ambas de Sinhô. Já outras como “Pierrô Apaixonado”, música de Heitor dos Prazeres e Noel Rosa que dá nome a este espaço e "Provei”, de Noel, têm uma levada quase de bossa.

Ouça no player a versão de "Bobalhão" e a original aqui.



Algumas músicas lembram os grandes feitos de Sá, Rodrix e Guarabira, como “Zepelin”. Alguma coisa lembra os bons e velhos Mutantes. Mas a verdade é que Rumo aos Antigos soa único e a certeza é que as 17 faixas são, no mínimo, surpreendentes.

Um dos integrantes do grupo, dono de uma famosa voz, Luiz Tatit, assina a moderna e curta “Pro bem da cidade”. Esta é a que mais lembra a fórmula original que o grupo Rumo adotou nos discos que fizeram grande sucesso.

Baixe aqui o disco

Taí. Pus a cara ao tapa.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O choro em pessoa

Ele já acompanhou artistas do quilate de Moreira da Silva, Orlando Silva, Vicente Celestino, Sílvio Caldas, Pixinguinha e outros tantos.

Altamiro Carrilho começou a tocar, ainda menino, em uma flautinha de bambu. Aos 16 anos saiu de Santo Antônio de Pádua (RJ) e mudou-se para Niterói com sua família. Foi nessa época em que começou a dividir a vida entre o trabalho pela manhã em uma farmácia e os estudos de música, que tinha com o flautista amador Joaquim Fernandes. Ainda neste mesmo período, Altamiro começa a freqüentar os programas de rádio dos flautistas Dante Santoro e Benedito Lacerda.

Os músicos notaram a sua grande capacidade de improvisação e assim em 1943 Altamiro estreou em disco, com uma participação em um 78 rpm de Moreira da Silva, lançado pela Odeon.

Em 1949 Altamiro gravou seu primeiro disco, Flauteando na chacrinha, e um ano depois já possuía seu próprio conjunto, que tocava na Rádio Guanabara. Porém o conjunto só durou até maio de 1951, quando foi convidado para integrar o Regional do Canhoto (que não é o da Paraíba), substituindo Benedito Lacerda. Altamiro ocuparia este posto até 1957.

Na década de 60 passou a excursionar pelo exterior, apresentando-se em Portugal, Espanha, França, Inglaterra etc. Com a redescoberta do choro na década de 70, tornou-se um flautista dos mais requisitados, tanto como solista ou como acompanhante em gravações de choro ou samba.

A partir daí Altamiro participou da produção de diversos álbuns como os discos: 100 anos de música popular brasileira 1, 2 e 3, Antologia da flauta, Velhos sambas... velhos bambas, entre outros.

É por isso que Altamiro Carrilho, hoje com 84 anos, e totalmente na ativa possui por volta de 200 composições, e mais 100 participações em discos.

Veja aqui a discografia de Altamiro Carrilho.

Baixe músicas de Altamiro Carrilho.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

A Fidalga e o Telefone

Este post não está para discutir se Donga compôs “Pelo Telefone”, se ouviu lá na casa da Tia Ciata ou se adaptou de cançonetas antigas que corriam na boca do povo. Também não quer deixar claro se era um samba, um maxixe, um tanguinho ou uma valsa amaxixada.

A idéia é falar sobre uma das duas paródias que se conhece dessa música. Obviamente, a menos conhecida. Deixemos Gilberto Gil de lado para falar de algo mais importante: a Cerveja Fidalga.
Registrada pela Brahma em 20 de julho de 1914, a cerveja fazia parte de uma seleção de rótulos que a Brahma inaugurava naquele ano, como a Carioca, a Suprema e a Malzebier, a última que vinha com a epígrafe: “Saborosa e nutriente, recomendada especialmente à senhoras que amamentam”.
A música de Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga, veio dois anos depois. Aliás, foi registrada precisamente no dia 27 de novembro de 1916 na Biblioteca Nacional.

A publicidade se valeu da força que levava o registro do "primeiro samba" e fez disso uma fonte de dinheiro, vendendo a Cerveja Fidalga. O registro de som provavelmente se perdeu ou está guardado em um lugar de acesso bem restrito. Mas dá para entrar no clima, se a versão original é conhecida. Se não, ouça-a aqui:


Pelo Telefone (Donga / Mauro de Almeida) --- Zé da Zilda



A versão publicitária não mudou muito a letra, mas surtiu bastante efeito. Tanto que foi tema de uma matéria na edição de 11 de dezembro de 1917 do Jornal do Brasil.

O chefe da polícia
pelo telefone
mandou me dizer
que há em toda parte
Cerveja Fidalga
para se beber


A cerveja Figalda parou de ser vendida no ano de 1971, mas acabou entrando para a história da publicidade.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Camarada Laurindo estamos a sua disposição!

"Não acabou a Praça Onze, não!" É o que gritava Laurindo enquanto subia o morro. O samba “Laurindo” de Herivelto Martins foi composto para o carnaval de 1943 e funcionava como uma espécie de continuação do “Praça Onze”, do próprio Herivelto em parceria com Grande Otelo.

O curioso é que Laurindo, que nunca existiu, acabou se tornando um personagem bastante forte no imaginário popular da época. Tanto que foi personagem de sambas de outros compositores, como Wilson Batista, Haroldo Lobo e Zé da Zilda. E hoje em dia há ainda quem questione e existência do sambista.

Nos versos de Wilson Batista, Laurindo abandonou a bateria da Mangueira para ir lutar no front, e voltou “coberto de glórias” e com uma cruz no peito e com divisas que ele ganhou fez um discurso bem comovente em um comício que foi realizado em Mangueira.

Lá Vem Mangueira (Wilson Batista - Haroldo Lobo - Jorge de Castro) / Cabo Laurindo (Wilson Batista - Haroldo Lobo) / Comício em Mangueira (Wilson Batista - Germano Augusto) --- Cristina Buarque e Chico Buarque



Zé da Zilda não botou fé na história do Cabo Laurindo e deu o seu recado:

Conversa Laurindo
Peço que não leve a mal
Você não foi onde estava o rival
Anda dizendo que lutou como herói
E, no entanto nem saiu de Niterói
Aproveitou a nossa vitória
E assim conseguiu o seu nome na História
Agora vejo você falando que viu a cobra fumando
Lá na linha de frente
Nem eu nem você fizemos nada
Ficamos na retaguarda
Aplaudindo nossa gente


Laurindo ainda aparece em composições de Noel Rosa (Triste Cuíca) e em outras composições de Herivelto Martins (As Três da Manhã, em parceria com Príncipe Pretinho, Quem Vem Descendo e Desperta Dodô em parceria com Heitor dos Prazeres).

Ouça mais músicas sobre o Laurindo
Praça Onze
As Três da Manhã
Quem Vem Descendo
Tríste Cuíca

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A sete dicas de Tinhorão para ouvir "Cartola"

Mais uma seção que o Vermute com Amendoim estréia. "Está dito" tentará resgatar os melhores textos publicados em jornais sobre shows e discos e entrevistas de diversos artistas. Para começar José Ramos Tinhorão fala sobre o primeiro disco de Cartola, lançado em 1974, quando Cartola tinha 65 anos:

“Pouco mais de seis meses após produzir para a Odeon o melhor elepê de Nélson Cavaquinho (Nélson Cavaquinho, CMOFB – 8809), o paulista J. C. Botezelli, o Pelão, acaba de confirmar sua condição de boa fada dos melhores compositores populares brasileiros com o lançamento de um novo trabalho de sua resposabilidade: o elepê Cartola (Disco Marcus Pereira 403.5007).

Por incrível que pareça, esse disco que só a perspectiva histórica permitirá compreender a verdadeira importância, no futuro, é o primeiro long-play de um dos poucos verdadeiros gênios da música popular brasileira, o compositor Angenor de Oliveira, chamado Cartola.

(...) Em certo sentido, porém, foi bom que o primeiro elepê de Cartola tivesse demorado tanto. Graças ao entusiasmo de Pelão e ao sentido cultural do trabalho de Marcus Pereira, o disco Cartola é perfeito. Sem citar o próprio compositor, que canta suas músicas com um admirável sentido de interpretação (de agora em diante, cantor que gravar samba de Cartola precisa ouvi-lo primeiro, para aprender), o elepê reúne dez dos mais competentes músicos populares brasileiros ligados à fonte popular, a saber, Horondino Silva, o Dino, e Jaime Florence, o Meira (violões), Valdiro Tramontano, o Canhoto (cavaquinho), Raul de Barros, fazendo uma espécie de gloriosa reentrée (trombone), Nicolino Cópia (flauta), Gilberto (surdo e pandeiro), Milton Marçal (cuíca e caixa de fósforo), Roberto Pinheiro, o Luna (tamborim e agogô), Jorge da Silva, o Jorginho (pandeiro), e Wilson Canegal (ganzá e reco-reco).

Dirigidos por Horondino José da Silva, o maior violão de sete cordas do Brasil, o que fizeram esses músicos e ritmistas? Ofereceram ao velho Cartola, com aquele sentimento de alegre companheirismo do povo, a melhor, mais competente, mais criativa e mais bonita moldura musical que qualquer compositor-cantor poderia esperar, para nela exibir seu talento.

Assim, fica difícil apontar o que é melhor nesse disco sem defeitos desde a capa, onde Cartola sorri, por trás dos seus óculos escuros, numa foto granulada que o mostra indefinido e único como os insondáveis mistérios do seu próprio gênio criativo. Dizer qual dos sambas do disco é o melhor? Mas como, se qualquer um deles só pode ser comparado aos de Nélson Cavaquinho, e quando se pergunta ao próprio Nélson Cavaquinho qual é o maiôs compositor brasileiro ele responde – Cartola.

De qualquer forma, há algumas recomendações que um estudioso de música popular brasileira pode fazer ao público, e que passo a enumerar: 1º) comprar com urgência o elepê de Cartola e, após ouvi-lo dez ou vinte vezes em seguida, começar a pressionar os amigos a fazerem o mesmo, sob pena de não poderem mais falar em música popular; 2º) atentar bem para certas passagens de sambas de Cartola, e comparar sua harmonia com o que os compositores da geração bossa-nova afirmaram ter sido a maior contribuição do movimento à música popular brasileira; 3º) ouvir com atenção o violão de Dino; 4º) demorar-se na apreciação do trabalho de trombone de Raul de Barros, em suas duas pequenas intervenções; 5º) procurar avaliar bem a riqueza do ritmo, não apenas na parte da percussão, mas de todo o conjunto; 6º) sentir o imprevisto, a originalidade e a beleza poética de certos versos (atenção para os sambas em parceria com Carlos Cachaça) e 7º) tirar o chapéu para os artistas das camadas populares urbanas brasileiras.

Porque este long-play de Cartola revela, afinal de contas, é esta verdade que qualquer pessoa imbecilizada pela cultura de massa sabe muito bem: quando a grandeza da criação repousa no espontâneo, fora do povo não há salvação. E é com ele que se deve aprender”.
José Ramos Tinhorão - Jornal do Brasil (11 de junho de 1974)

Baixe no Um que Tenha o disco Cartola, de 1974

Mais no Vermute
Foram descobertas 63 novas letras de Cartola. Saiba mais
No Mercado Informal, samba vale grana. Veja
Baixe aqui o documentário "Fala Mangueira"

Dica: A música para quem gosta

Querer se aproximar da música de qualidade. Este me parece o principal objetivo de qualquer pessoa que gosta de som. Seja feita no piano, no chapéu, no baixão de pau ou na caixinha de fósforos...quando é bom, tem que aparecer.

É sair de uma circunferência de raio curto para entrar num universo. É atravessar a ponte do eruditão ou do popularesco para chegar a um terreno neutro, onde possa ser simplesmente apreciada. Sem encheção de saco.

Por isso que o Vermute com Amendoim apóia o CAIS (Criação e Administração de Idéias Sonoras), uma idéia recente de promover a música de qualidade. A partir de hoje você poderá acessar o site desta ONG pelo Vermute.

Clique aqui ou veja a seção de sites amigos.

Abraços e boa música,

domingo, 11 de maio de 2008

Disco da semana: Cachaça dá Samba! - Alfredo del-Penho & Pedro Paulo Malta


O que a cachaça e o samba têm em comum? Além de serem duas coisas genuinamente brasileiras, ouvir um bom samba ou beber uma boa cachaça pode ser igualmente inspirador.

Quem sacou isso foi a dupla Alfredo del-Penho e Pedro Paulo Malta, que em conjunto com a Cachaçaria Mangue Seco desenvolveram um espetáculo homônimo ao disco “Cachaça dá Samba!”. O repertório do show e do disco são frutos da pesquisa de: Alfredo del-Penho, Henrique Cazes, Luís Filipe de Lima, Cristina Buarque e Paulo César Andrade.

As músicas são cantadas quase todas em dupla, com exceção de duas músicas de Noel Rosa, que aliás, é o compositor mais prestigiado do disco com quatro músicas de sua autoria (Por esta vez passa, Maria Fumaça, Prá Esquecer e É Bom Parar, esta em parceria com Rubens Soares) Alfredo dá o tom sozinho na “Pra Esquecer” e Malta fica com a música “Maria Fumaça”.

O disco ainda conta com clássicos como a famosa marcha “Cachaça” (aquela que diz: Se você pensa que cachaça é água / Cachaça não é água não...) e a “Moda da Pinga”, música que ficou consagrada na voz de Inezita Barroso.

Músicas
1 - Ai, cachaça! (Manezinho Araújo - Fernando Lobo)
Bebida, mulher e orgia (Aniz Murad - Luiz Pimentel - Manoel Rabaça)
2 - Quem não sabe beber (Elino Julião - Severino Ramos)
3 - A verdade é pura (Moacyr Luz)
4 - O pingo e a pinga (Antônio Almeida - Pedro Caetano)
5 - Malvada Pinga (Moda da Pinga) (Laureano)
6 - Delírio alcoólico (E. Briu)
7 - Por esta vez passa (Noel Rosa)
8 - Maria Fumaça (Noel Rosa)
9 - Prá Esquecer (Noel Rosa)
10 - É Bom Parar (Noel Rosa - Rubens Soares)
Quem mandou você beber (Bide)
Não deixarei de beber (Sebastião Gomes - Jorge Gonçalves - Irineu Silva)
11 - Moenda Velha (Zeca Pagodinho - Wilson Moreira)
12 - Baranga das Dez, broto das Duas (Jota Canalha)
13 - O que me dão pra beber (Candeia)
Beberrão (Aniceto do Império - Molequinho)
14 - Deixa-me beber (J.G. De Carvalho)
Cachaça (Héber Lobato - Lúcio Girão - Marinósio Filho - Mirabeau Pinheiro)

Baixe esse disco no Prato e Faca

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Samba e Psicodelia na Disney

Falando em Ernesto Nazareth...

A dupla Zé Carioca e Pato Donald se conheceu no Rio de Janeiro, como o Vermute mostrou alguns posts atrás. Porém estes dois passaram por mais bons bocados para mostrar a beleza do samba. E dessa vez mais um personagem aparece no filme: o pica-pau Folião.

O trecho a seguir é do filme “Melody Time”, lançado em 1948. Era uma época em que os estúdios Walt Disney não estavam lá em bons lençóis. A Segunda Guerra Mundial fez com que as finanças na europa ficassem congeladas e a saída foi investir em filmes pacotes. Você já ouviu falar do clássico da Disney, “Fantasia”? Foi nessa fórmula que Walt investiu para conseguir vender.

No Melody Time, mais seis trechos de música são apresentados: “Once Upon a Wintertime” fala de um casal de namorados patinando no invero, “Bumble Boogie” apresenta uma abelhinha que interage com instrumentos musicais, “Johny Appleseed” conta a história de Johny Semente de Maçã, um plantador de maçãs, e “Trees”, que se trata de uma peça acompanhada por uma versão musical do poema de Joyce Kilmer

A música em destaque do trecho “Blame it on samba” é “Apanhei-te cavaquinho”, de Ernesto Nazareth. As canções de Ernesto agradavam e muito os ouvidos fora do Brasil. Não é à toa que existem várias citações ao compositor brasileiro por aí.

A psicodelia do trecho ficou por conta da diretora de arte, Mary Blair. Personagens reais, como a mulher que toca primorosamente o piano na interpretação do choro, contracenam com os três, um recurso bastante usado no passado.

Vale a pena assistir.



Mais no Vermute
Quer ouvir o choro "Apanhei-te cavaquinho"? Clique aqui.
Veja como Zé Carioca conheceu Pato Donald
Ernesto Nazareh caiu nas graças de Fred Astaire. Confira

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Astaire homenageia Nazareth

Fred Astaire é, indiscutivelmente, um gênio da dança. Ao lado de Ginger Rogers, dançando e atuando, o casal conquistou milhares de fãs durante os anos 30 e 50. Até hoje é impressionante ver a beleza com que Astaire passa pelos salões, conduzindo a bela companheira.

As músicas também não ficavam atrás. Ainda que não fosse de uma beleza excepcional, Astaire cantava, dançava e a música parecia perfeita. O maxixe "Dengoso", de Ernesto Nazareth foi uma dessas músicas utilizadas nas cenas de Astaire.

A obra, composta nos idos de 1912, por si só já vale a pena. Executada pela orquestra do canadense Percy Faith, fica mais ainda entusiasmante. A ocasião da transmissão foi o programa 'Music of the 60s', de Ed Prentiss transmitido em 1962.



Voltando a Astaire, o astro do bailado homenageou, no seu décimo filme, "The Story of Vernon and Irene Castle", em 1939, Ernesto Nazareth. Havia três anos que o compositor de “Apanhei-te cavaquinho”, do tango "Odeon" e choros diversos já havia morrido tragicamente.

Na cena, o casal executa os passos em uma sala grande, enquanto os figurantes se limitam a olhar a dança. Tá bom, a música é animada e os dois são entrosadíssimos. Mas mesmo assim, arrisco a dizer que falta uma ginga brasileira, não?




Ah, para quem ficou curioso sobre como foi a morte deste grande compositor: Em 1933, com 70 anos, Ernesto começou a desenvolver problemas mentais. Havia perdido a esposa quatro anos antes e já não escutava tão bem, tendo que colocar o ouvido perto do piano para ouvir suas notas soarem. Foi internado em um hospital psiquiátrico, mas fugiu um ano depois. Foi encontrado morto por afogamento, em um lago atrás do manicômio.



Gosta de cinema? Saiba muito mais no E-digomais!



Mais no Vermute
Veja Astaire dançando uma música parodiada por Noel Rosa
"Apanhei-te cavaquinho" vira propaganda de tevê. Confira

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Choro na Praça

Entre uma barraquinha de antiguidades e outra de óculos com armações coloridas bastante modernas, pessoas circulam atraídas pelos artesanatos variados, roupas, livros, LP's raros, fotografias, pinturas. Rodeada por restaurantes, bares e lojas de decoração, a Feira da Praça Benedito Calixto é freqüentada tanto pela molecada mais jovem, como por casais com crianças e idosos, que aos sábados procuram a praça como uma opção de lazer na cidade de São Paulo.

Mas o que faz dessa, uma feira ainda mais atraente não são as barraquinhas de artesanato, nem de comidas típicas brasileiras, mas a tradicional roda de choro que acontece lá mesmo, no meio da Praça de Alimentação, a céu aberto, todos os sábados das 14h30 às 18h30.


O grupo é o Quinteto da Praça, formado por chorões e uma chorona. São quatro senhores e uma jovem clarinetista, todos muito bons instrumentistas. Durante a tarde, eles fazem um apanhado do choro relembrando clássicos como "Flor Amorosa" de Antonio Callado e "Um a Zero" do mestre Pixinguinha. Conforme os músicos vão tocando, pessoas param para observar melhor a roda. Há quem ache uma dupla e arrisque uns passos. Há quem arrisque os passos mesmo sozinho.

Wilson, 79 anos, é o mais antigo no grupo. Há 15 ele participa da roda tocando violão sete cordas. "Nunca vivi de música", conta ele "mas quem gosta mesmo não se aparta nunca", explica. Ágil e talentoso, Wilson é o que se pode chamar de macaco velho do choro. Com muita naturalidade e leveza, ele faz soar os baixos do violão mostrando que também se improvisa no choro.

O que chama bastante atenção nessa e nas tradicionais rodas é o fato de os chorões não usarem partituras. As aproximadamente 45 músicas que o Quinteto da Praça mostra aos sábados são tocadas de cor. E, diga-se de passagem, erros ou problemas técnicos que comprometam a execução não são freqüentes. Angélica, responsável pelos solos de clarinete explica que durante dois anos estudou o repertório para então entrar na roda. "Não é proibido tocar com partitura, mas o músico que usa não é muito bem-visto".

Ela é a única mulher do grupo e também a única que tem formação musical acadêmica. Estudou na Unesp e além de clarinete, toca sax e se dedica ao jazz. Dentre os compositores de choro que mais gosta, Angélica destaca Pixinguinha, apesar de ser dele "Um a Zero", a música que mais deu trabalho a ela durante os estudos. Nada mais compreensível; Tocar a seqüência ininterrupta de notinhas no ritmo, e tudo isso sem perder o fôlego exige uma respiração adequada, além de muita agilidade nos dedos. Veja só:



Angélica enfim pode descansar um pouco nas partes em que passa o solo para Rodolfo, 74 anos. Assim, clarinete e bandolim vão se revezando durante as partes "A" e "B" das músicas. Essa é uma divisão típica do choro que normalmente apresenta duas partes distintas que se caracterizam por apresentarem melodias trabalhadas em tonalidades diferentes.

O mais sorridente do grupo é Zezinho do Pandeiro, 79 anos, que entre um golinho e outro de cerveja, que é oferecida pela Associação da praça, vai marcando o ritmo das músicas com muita precisão e graça. "É por isso que eu bebo... para tocar", se diverte rindo. Ele, que fugiu de casa para poder tocar o instrumento – o pai queria que seguisse carreira na Marinha –, acompanhou Elizeth Cardoso, na época em que tocava em bares no Rio de Janeiro, e outros grandes músicos com destaque para Elis Regina, Jair Rodrigues e Elza Soares, na ocasião em que fez parte da orquestra Carlos Piper. Essa foi uma orquestra importante e que ficou muito conhecida por acompanhar músicos no programa O Fino da Bossa.

Zé do cavaquinho, 82 é o mais velho da roda. Ele carrega um comprimido de isordil no bolso, por ter sofrido dois ataques cardíacos. "Já fui bom no cavaquinho. Hoje estou até esquecendo o choro", diz rindo.

Quando o relógio marca 18h30, depois de 4 horas intercaladas por pequenos intervalos de 15 e 30 minutos, Wilson anuncia a saideira e quando o grupo termina, são aplaudidos. O movimento por ali já é bem menor, porque a noite cai e a maioria das barracas já encerrou suas atividades. Os músicos também encaixotam seus instrumentos, se despedem e rapidamente deixam a praça. Cada um recebe 70 reais. Zé do cavaquinho e Wilson do violão 7 cordas vão embora juntos. A neta de Zé passa para pegar o avô e Wilson vai também, de carona.

Choro na Praça, só no sábado que vem. Mas fica o exemplo de valorização da música brasileira e a dedicação a esse gênero tão nosso.

Confira o clima do Choro na Praça


A feira na Praça Benedito Calixto só acontece aos sábados, a partir das 9 horas da manhã.


terça-feira, 6 de maio de 2008

O samba pintado por Lan

Desta vez não se trata de um pintor de telas, mas sim de um cartunista, que por incrível que pareça nem brasileiro é. Ainda assim, foi umas das pessoas que melhor representou o samba. O post da seção "O Samba pintado" de hoje é dedicado a Lanfranco Aldo Riccardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini, ou simplesmente Lan.

Lan nasceu na Itália e chegou ao Brasil acompanhado do pai, um talentoso músico. Mas não criou raízes. Depois de um tempo integrando a Orquestra Sinfônica de São Paulo, mudou-se para Montevidéu, no Uruguai. Lá é que Lan estudou arquitetura e, apesar de não exercer a profissão, o desenho o levou a Buenos Aires, onde passou a trabalhar como caricaturista em diversos jornais da capital argentina.




Lan chegou Rio de Janeiro por conta de uma viagem que havia programado com o objetivo de conhecer o continente americano, porém a Cidade Maravilhosa o fisgou e Lan não conseguiu nem cumprir o roteiro da sua viagem e nem regressar à Argentina. No Rio, logo tratou de se ajeitar. Arranjou trabalho e se casou com Olívia, que junto com Mary e Norma formavam o trio de dançarinas Irmãs Marinho.

Jair do Cavaquinho


Lan não só desenhou o samba, mas também imortalizou muitos de seus personagens mais importantes. E mais do que ter se naturalizado brasileiro, Lan se naturalizou carioca, flamenguista e portelense fanático. E é por isso que recebeu da dupla Moacyr Luz e Aldir Blanc um samba em sua homenagem chamado “Mitos Cariocas: Lan”.

Mitos Cariocas:Lan (Moacyr Luz / Aldir Blanc)




Martinho da Vila


Chegou a pintar figurões da sociedade carioca, como Roberto Marinho, Carlos Lacerda, Armando Falcão, Getúlio Vargas e outros. Até no futebol deixou seus traços fortes. Foi tão importante para o Rio de Janeiro que foi declarado "Cidadão Carioca honorário" em duas ocasiões. Para saber mais sobre Lan, clique aqui.


Noel Rosa


Novidades no Vermute

O Vermute com Amendoim ficará mais robusto. Isso porque nesta quarta-feira estreará mais uma colunista, que além de ser grande amiga, é exímia conhecedora de música: Paula Duarte. Além do texto agradável, Paula tem muito mais conhecimento técnico do que eu e o Murilo.

Não à toa. Flautista e dona de uma bela voz, Paula já participou de alguns grupos musicais cantando jazz e música brasileira de qualidade. Seus textos também não ficam atrás e é isso que ela mostrará no Vermute a partir de amanhã. Vale a pena aguardar.


Abraços e boa música,

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Vingança de mestre

No post anterior destaquei um samba-canção com uma muita influência do jazz, composto por Antonio Valente e Elton Medeiros. Dessa vez, a Orquestra Tabajara dá o glamour necessário para o samba-canção “Vingança”, composto pelo gaúcho Lupicínio Rodrigues.

A música é datada do ano de 1951 e tem história verdadeira por trás. A canção conta a história de um homem traído que fica sabendo que sua mulher está na pior,chorando e bebendo em um botequim. A reação do ex-amante é inesperada: gostou tanto da notícia que tem que fazer esforço para ninguém notar.



A vingança foi do próprio Lupicínio Rodrigues, que viveu um tempo com uma pequena chamada Mercedes (conhecida por Carioca). A moça tentou trair Lupicínio com um empregado seu, mas se deu mal. A fidelidade do empregado fez com que ele denunciasse Carioca, que acabou sendo abandonada.

Tempos depois ficou sabendo do rumo da moça, triste e bebendo no bar. Lupicínio, então continuou sua vingança e escreveu o ácido samba. O primeiro a cantá-lo foi Jorge Goulart, na noite carioca. Acontece que Jorge não podia gravar o samba porque era artista da Continental, enquanto Lupicínio era da RCA. A música foi parar nas mãos de Herivelto Martins, que gravou junto com o Trio de Ouro.

Mas fez sucesso mesmo com Linda Batista (foto), que a gravou duas vezes. A primeira com o conjunto do violonista Fafá Lemos, que estourou nas paradas de sucesso. E a segunda, com uma orquestra de cordas, que ficou pouco conhecida e só saiu em elepê. A música, porém, será ouvida na voz de Jamelão, aquele que Lupicínio considerava seu melhor intérprete.

Em 1963, no jornal Última Hora, o compositor afirmou a veracidade dos versos: “Nunca se está livre de ter, num momento de rancor, algum desejo de vingança”.

Mais no Vermute
Confira o disco da semana
Veja outros da série "Vermute conta o samba"
Conhece Caio Bassit? Leia a entrevista que o Vermute elaborou!

domingo, 4 de maio de 2008

Elton com mais sabedoria

O último CD de Elton Medeiros tem uma cor muito diferente dos de lançados em 1973 e 1980. Até mesmo do de 2001. No Bem que Mereci, Elton parece mais calmo, cantando com mais tranqüilidade. O tempo parece ter tirado uma dor de boemia e lhe dado uma sabedoria na voz, que transparece no disco inteiro.

Na primeira vez em que ouvi demorei para chegar na faixa três. Tamanha a beleza do samba-canção com belos solos do pianista e arranjador Gilson Peranzzetta e do saxofinista alto Mauro Senise. A letra fica por conta de Antonio Valente e é um discurso inteiro sobre a saudade. Elton deu seu tom, mais uma vez com a uma melodia em que é quase impossível arriscar o caminho dela.

Saboreie a faixa dois do disco, "Antigas Lembranças"


O título do disco fica para uma parceria de Elton com Paulinho da Viola, seu parceiro mais constante. Mais uma vez, o piano dá o fundo para o samba, com arranjos de Cristóvão Bastos. A produção é de Luciana Rabello.

A seleção das faixas ainda conta com Vestido Tubinho, de Zé Keti, Lavo minhas mãos, de Nelson Cavaquinho, e Partiu, de Cartola. O disco não é só de obras-primas, mas não tem samba ruim.

Com 78 anos, este deverá ser o penúltimo disco de Elton Medeiros, que tem a meta de gravar apenas mais um disco. Infelizmente.

Fica a dica.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Seleção Vermute: Homenagens

Esta seleção não está vinculada a nenhuma data específica como foram as outras duas realizadas aqui neste mesmo blog, mas sim na própria filosofia deste espaço que é “Espaço destinado à valorização da música brasileira!”. Assim, escolhemos músicas de grandes mestres homenageando seus ídolos.

A seleção começa com uma homenagem bem singular de Nelson Sargento ao mestre Cartola. Sargento compõe uma canção só com nomes das músicas de Cartola. Sargento ainda usa essa mesma técnica para prestar uma homenagem ao seu grande amigo Paulinho da Viola.

Há ainda algumas músicas que merecem atenção especial como o choro “Um Sarau Para Raphael”, que foi feita para o violonista e cunhado de Paulinho da Viola, Raphael Rabello, que morreu nos anos 90 e era considerado por muitos como o “Mozart do choro”.

Outra canção que merece nossa atenção é o choro “Naquela Mesa”, composta para Jacob do Bandolim por seu filho.

E por fim é válido dizer que, o também choro, “Rosinha, Essa Menina”, composta em homenagem a violonista, cantora, arranjadora e compositora Rosinha de Valença.

A seguir as músicas e seus respectivos homenageados.

Músicas:
01- Homenagem ao Mestre Cartola (Nelson Sargento) Canta: Nelson Sargento / Homenageado: Cartola.
02- Um Samba pro Cyro Monteiro (Wilson das Neves) Canta: Wilson das Neves e João Nogueira / Homenageado: Cyro Monteiro.
03- Homenagem (Moreira da Silva) Canta: Moreira da Silva / Homenageado: Noel Rosa.
04- Um Sarau Para Raphael (Paulinho da Viola) Tocam: Nó em Pingo D’Água e Paulinho da Viola / Homenageado: Raphael Rabello.
05- Naquela Mesa (Sérgio Bittencourt) Canta: Nélson Gonçalves / Homenageado: Jacob do Bandolim.
06- Som de Prata (Moacyr Luz / Paulo César Pinheiro) Canta: Moacyr Luz / Homenageado: Pixinguinha.
07- Wilson, Geraldo e Noel (João Nogueira) Canta: João Nogueira / Homenageado: Wilson Batista, Geraldo Pereira e Noel Rosa.
08- Silêncio que o Natal Morreu (Picolino da Portela) Canta: Picolino da Portela / Homenageado: Natal da Portela.
09- Homenagem a Paulinho da Viola (Nelson Sargento) Canta: Nelson Sargento / Homenageado: Paulinho da Viola.
10- Tempo de Glória (Wilson Moreira / Nei Lopes) Canta: Wilson Moreira e Nei Lopes / Homenageada: Clementina de Jesus.
11- Rosinha, Essa Menina (Paulinho da Viola) Tocam: Paulinho da Viola, César Faria e João Rabello / Homenageada: Rosinha de Valença.
12- Exaltação a Villa-Lobos (Jurandir da Mangueira / Cláudio) Canta: Jurandir da Mangueira / Homenageado: Heitor Villa-Lobos.
13- Homenagem a Antenor Gargalhada (Geraldo Babão) Canta: Geraldo Babão / Homenageado: Antenor Gargalhada.
14- Flores em Vida (Pra Nelson Sargento) (Moacyr Luz / Aldir Blanc) Canta: Moacyr Luz / Homenageado: Nelson Sargento.
15- Um Ser de Luz (João Nogueira / Paulo César Pinheiro / Mauro Duarte) Canta: João Nogueira / Homenageada: Clara Nunes.
16- Harmonia em Mangueira (Carlos Cachaça) Canta: Carlos Cachaça / Homenageado: Vários.
17- Confraternização nº1 (Walter Rosa) Canta: Walter Rosa / Homenageado: Vários.
18- Mais Feliz (Elton Medeiros / Paulo César Feital / Carlinhos Vergueiro) Canta: Elton Medeiros / Homenageado: Vários.

Seleção de músicas: Murilo Mendes.


Veja aqui as outras seleções que o Vermute já elaborou.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Nada de show da CUT!

Essa não dá pra perder. Quem é de São Paulo e acabou ficando em casa no feriado, poderá ter a honra de ver o mestre Paulo Vanzolini no palco da Biblioteca Temática de Música Cassiano Ricardo, neste sábado, às 18h.

No show, Vanzolini falará sobre sua relação com a cidade de São Paulo. Também se apresentarão a cantora Ana Bernardo e o violonista Ítalo Perón, que ficarão por conta das interpretações de Boca da Noite e Volta por cima.

Para quem ainda não se convenceu em ir tem mais um atrativo. É o documentário "A ciência do samba", de Edson Maurício Cabral e Lívia Maninni, que fala sobre Vanzolini, que divide sua pessoa em mestre do samba e zoólogo.

A oportunidade é rara, visto que Vanzolini já não está com o mesmo pique de outrora. Mas não só rara, é grátis.

No domingo também é dia de coisa boa, dessa vez no Theatro Municipal: a apresentação da Orquestra Jazz Sinfônica, às 11 da manhã. A orquestra, criada em 1990 por Arrigo Barnabé e Eduardo Gudin, apresentará temas da música popular brasileira.

No programa, destacam-se obras de Mateus Araújo (Fantasia sobre Temas do Circo Místico), Cyro Pereira (Fantasia para Piano e Orquestra sobre Temas de Ernesto Nazareth, O Fino do Choro e Aquarela de Sambas), Milton Nascimento (Milagre dos Peixes) e Dorival Caymmi (Suíte dos Pescadores).

Os ingressos vão de R$ 1o a R$ 15.

Biblioteca Temática de Música Cassiano Ricardo
Av. Celso Garcia, 4200 -Tatuapé (próximo ao metrô Tatuapé)
Telefone: 11-6192-4570
São Paulo
Saiba como chegar aqui.

Theatro Municipal de São Paulo
Praça Ramos de Azevedo s/nº
Telefone: 11-3397-0327
São Paulo

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