terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Wilson Batista: De malandro a operário

Mais conhecido pela polêmica em que se envolveu com Noel Rosa, Wilson Batista não tinha muita instrução e mal sabia assinar seu nome. Mas isso nao o impediu de gravar seu nome na galeria dos grandes compositores de samba. Começou a carreira nos cabarés da velha Lapa. Além disso ainda trabalhava como eletricista e ajudante de contra-regra no Teatro Recreio, na Praça Tiradentes.

Wilson era amante da boemia, apoiava a malandragem e era um malandro de fato: para ganhar algum dinheiro ia desde a cafetinagem até a venda de sambas. O sucesso veio em 1933 com um samba chamado "Desacato" em parceria com Patrício Vieira e gravado por Francisco Alves, Castro Barbosa e Murilo Caldas. No mesmo ano o samba "Lenço no pescoço" foi gravado por Sílvio Caldas, samba que daria início a famosa polêmica já mencionada, dizendo:

Meu chapéu do lado
Tamanco arrastando
Lenço no pescoço
Navalha no bolso
Eu passo gingando
Provoco e desafio
Eu tenho orgulho
Em ser tão vadio
Sei que eles falam
Deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha
Andar no miserê
Eu sou vadio
Porque tive inclinação
Eu me lembro, era criança
Tirava samba-canção
Comigo não
Eu quero ver quem tem razão
E eles tocam
E você canta
E eu não dou

Mas seu primeiro grande sucesso veio na voz de Moreira da Silva, com o samba "Acertei no milhar" (1938), composto em parceria com Geraldo Pereira.

Em meados dos anos 1940, Wilson teve que mudar a temática dos seus sambas, que exaltava a malandragem, principalmente por conta de uma portaria do governo da época que proibia tal coisa. O samba que marca esta reviravolta em sua obra foi composto junto com Ataulfo Alves e chama-se "O bonde de São Januário", que diz:

Quem trabalha
É quem tem razão
Eu digo
E não tenho medo
De errar

Quem trabalha...

O Bonde São Januário
Leva mais um operário
Sou eu
Que vou trabalhar

O Bonde São Januário...

Antigamente
Eu não tinha juízo
Mas hoje
Eu penso melhor
No futuro
Graças a Deus
Sou feliz
Vivo muito bem
A boemia
Não dá camisa
A ninguém
Passe bem!


Wilson Batista morreu na miséria, por conta do abuso das drogas, do álcool e da depressão causada pelo esquecimento de seu nome.


Ouça Wilson Batista:
Desacato
Por favor vai embora
Inimigo do batente
O bonde de São Januário
Acertei no milhar
Louco (Ela é o seu mundo)
Mundo de zinco
Nega Luzia
Ganha-se pouco mas é divertido
Lenço no pescoço
Oh! Seu Oscar
E o 56 não veio

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Paralelas do ritmo

Retirado do site algo a dizer.

Por Áurea Alves

Costuma-se brincar quando um grupo de pessoas canta de modo desafinado, chamando-os de “paralelos do ritmo” aqueles que nunca se encontram. Paralelas diz-se das retas que não se encontrarão em ponto algum do plano geométrico.
Paralelos são os trabalhos de Maria Rita e Teresa Cristina, recém-lançados, dedicados ao samba e que possuem características distintas desde a concepção até o acabamento das capas dos discos. Não se trata de reduzir o universo de cantoras de samba aos dois nomes, mas comparar dois trabalhos que anunciam jamais se encontrar. O samba de Maria Rita é de oportunidade, serve-lhe para ajustar o destino de sua carreira, mantê-la em evidência, com um trabalho que pode repercutir em vendagem e em casas lotadas durante seus shows. O de Teresa segue por outro caminho, apresentando-a como compositora que mergulha cada vez mais no universo do samba e, em especial neste disco, realça suas características de cantora. Teresa se consolidará como representante do movimento de samba surgido na Lapa (Rio de Janeiro). Maria Rita ainda precisará buscar sua identidade dentro da Música Popular Brasileira, mesmo que prossiga com altas vendagens.

O samba de resultados de Maria Rita
Maria Rita nasceu em família de artistas: o pai, o arranjador e pianista César Camargo Mariano e a mãe, a perfeita e insuperável, Elis Regina. Sua voz se assemelha à da mãe Tornou-se cantora, quase como decorrência natural de sua família – seu irmão Pedro é cantor e seu meio irmão, João (filho de Elis e Ronaldo Bôscoli) está à frente da gravadora Trama, que se especializou em artistas dessa geração, com trabalhos voltados ao mundo pop.
Seu primeiro disco foi recebido com críticas, em primeiro lugar pelo uso explícito da semelhança com Elis, até na elaboração do repertório que lembrava o da falecida cantora – com direito a música de Milton Nascimento. Em segundo lugar porque de fato o disco era irregular e as músicas selecionadas não definiam o propósito artístico de Maria Rita. Seu segundo disco seguiu na mesma linha, buscando a dissociação, mantendo um repertório irregular.
Apesar do investimento em marketing, Maria Rita não ocupou espaço entre o grupo de artistas que mais vendem discos e trafegou titubeante num espaço em que já reinavam Ivete Sangalo e seu axé pop, Ana Carolina e suas canções modernas voltadas para o público feminino e Marisa Monte com suas baladas tribalistas e seu samba autoral, dentre tantas outras cantoras, campeãs de venda. Ficou no que se pode chamar de linha média, vendendo bem, sem imprimir uma marca especial para si.
Com o lançamento do CD Samba Meu, opta por enveredar-se pelo mundo do samba, considerando o momento em que vive o gênero, uma experiência como admite, sem buscar tornar-se especialista no gênero. Para isso juntou-se ao produtor Leandro Sapucahy (ex-pagodeiro, percursionista do grupo de Marcelo D2) que lhe conduziu, segundo afirma, pelo mundo do samba.
O resultado foi um disco bem produzido em que Maria Rita interpreta seis sambas de Arlindo Cruz, partideiro do Cacique de Ramos, de Gonzaguinha, Serginho Meriti (com o ótimo Cria), alternando arranjos típicos de roda de samba, com outros com levada de bossa-nova. Como normalmente ocorre em seus discos, a produção é bem cuidada, com bons arranjos, não necessariamente criativos, mas que provocam uma outra percepção de sambas que funcionam bem nas rodas do subúrbio. São sambas que ganham uma interpretação adequada confirmando a qualidade vocal desta cantora.
Contudo, o que não cai bem é a verdadeira identidade de Maria Rita com o samba. A impressão deixada, em que pese a qualidade, frise-se, é de que se trata de um trabalho artificial, levando à constatação de que a cantora ainda não encontrou seu verdadeiro espaço na Música Popular Brasileira, e opta pelo samba como alternativa vendável, buscando para isso assessorias confiáveis e do ramo – no caso, de Ramos. Sinal de que pode cair no grupo de boas cantoras que não dominam a escolha de seu repertório e oscilam entre estilos, correndo o risco de desgastar a carreira.
Essa sensação confirma-se pela capa escolhida, que remete à religiosidade dos sambistas, às suas roupas e aos trejeitos. Maria Rita usa um chapéu de palha e traz um grosso cordão dourado sustenta figas de cristal e um medalhão. Signos que reunidos remetem ao universo dos subúrbios cariocas, talvez. No entanto despem-se da significação que de fato poderiam conter, como é este disco. Na contra-capa imagens de santos, São Jorge ao centro, num arranjo que lembra um altar ou uma oferenda. Assim Samba Meu encerra os trabalhos.

Ficha técnica:
Samba MeuProdução:Leandro Sapucahy
Co-produção: Maria Rita
Warner Music
1. Samba Meu (Rodrigo Bittencourt)
2. O Homem Falou (Gonzaguinha)
3. Maltratar Não É Direito (Arlindo Cruz e Franco)
4. Num Corpo Só (Arlindo Cruz e Luis Cláudio Picolé)
5. Cria (Serginho Merity e César Belieny)
6. Tá Perdoado (Arlindo Cruz e Franco)
7. Pra Declarar Minha Saudade (Arlindo Cruz e Jr. Dom)
8. O Que É o Amor (Arlindo Cruz, Fred Camacho e Maurição)
9. Trajetória (Serginho Merity, Arlindo Cruz e Franco)
10. Mente ao Meu Coração (Francisco Malfitano e Pandia Pires)
11. Novo Amor (Edu Krieger)
12. Maria do Socorro (Edu Krieger)
13. Corpitcho (Ronaldo Barcelose Luis Cláudio Picolé)
14. Casa de Noca (Serginho Merity, Nei Jota Carlos e Elson do Pagode)

O delicado samba de Teresa Cristina
Teresa Cristina nasceu no subúrbio carioca, foi manicure, estudou letras, freqüenta umbanda e decidiu ser cantora já formada em Letras. Sua carreira começou praticamente na num período anterior à revitalização do bairro, quando algumas poucas casas abrigavam alguns sambistas em rodas, à revelia das condições do bairro.Tanto quanto o bairro passou a ser revitalizado, cresceu a importância da cantora, acompanhada pelo Grupo Semente, composto por Bernardo Dantas, Pedro Miranda, João Callado e Trambique. A formação dos músicos determinou o interesse pelo samba, especialmente aquele produzido na Portela, como se percebe na influência de Candeia e na construção do repertório dos discos que se seguiram.
Ao trabalho dessa cantora e compositora não se aplica o termo resgate, uma vez que sua principal característica é o diálogo com o samba produzido fora da Lapa, em especial em Oswaldo Cruz. São exemplos disso, as composições feitas em parceira com Argemiro do Patrocínio (falecido integrante da Velha Guarda da Portela) e a presença da cantora na ala dos compositores da escola de samba Portela.
Teresa produz samba como se constata no CD Delicada, em que apresenta composições próprias, em parcerias com João Callado e com Zé Renato. Assim, nesse repertório, identifica-se a influência de compositores portelenses como os sofisticados Paulinho da Viola, Zé Ketti e Candeia.
Um aspecto importante neste disco é que a cantora abandona a timidez, afirmando-se como cantora, imprimindo características próprias ao interpretar Gema (Caetano Veloso), Carrinho de Linha (do esquecido sambista baiano Walter Queiroz) e em No pé do lageiro (de João do Valle), além da faixa-título, que interpreta com mais sentimento do que delicadeza, secundada pelos arranjos do grupo com participação de Paulão Sete Cordas em A paz do Coração (Candeia).
É um disco produzido para o mercado, e como todo o resto, do qual se espera uma boa vendagem, uma vez que é o primeiro dessa cantora em uma grande gravadora, registrando a produção e o tratamento dado ao samba pelos novos grupos surgidos na Lapa. É o trabalho que Teresa Cristina sempre fez e continuará a fazer, delicadamente.

Ficha técnica:
Delicada Produção: Paulão 7 Cordas
EMI
1. Cantar (Teresa Cristina)
2. A Gente Esquece (Paulinho da Viola)
3. Fim de Romance (Teresa Crisitna e Argemiro)
4. Nem Ouro, Nem Prata (Ruy Maurity)
5. Quebranto (Alfredo del Penho e Teresa Crisitna)
6. Gema (Caetano Veloso)
7. Carrinho de Linha (Walter Queiroz)
8. Pé do Lageiro (João do Valle)
9. Senhora das Águas (João Callado e Teresa Crisitna)
10. João Teimoso (João Callado)
11. Delicada (Teresa Crisitna e Zé Renato)
12. A Paz no Coração (Candeia e Cabana)
13. Saudade de Você (Teresa Cristina e João Callado)
14. Fechei a Porta (Sebastião Motta/Delice Ferreira)/Rosa Maria (Anibal da Silva/Éden Silva)/Jura (Adolfo Macedo/Marcelino Ramos)

Áurea Alves é jornalista

domingo, 16 de dezembro de 2007

Obrigado, Terreiro Grande!

Hoje em dia, graças à Internet, é possível ter um pouco mais de noção de alguns acontecimentos. Estou me referindo (mais uma vez) ao grupo Terreiro Grande, que recentemente esteve no Rio de Janeiro para divulgar o disco que lançou junto com Cristina Buarque. Segundo relatos de cariocas que acompanharam o grupo, não só no show que ocorreu no Trapiche Gamboa, mas como também na roda que foi realizada na Ilha de Paquetá, o grupo foi só elogios. E deixando o bairrismo de lado, confirmaram a qualidade do grupo que os paulistas já conheciam.

Por onde passam, eles resagatam aquela alegria e leveza que a muito tempo a gente não encontrava no samba. Até agora a única menção negativa que encontrei ao trabalho deles foi em uma coluna do Nelson Motta, aonde ele diz, sem citar qualquer grupo, que os novos artistas que estão gravando samba como por exemplo a Maria Rita e o D2 inovam e "[...]deixam os resgates para o Corpo de Bombeiros[...]" referindo-se às gravações atuais de sambas antigos.

A verdade é que pela primeira vez me sinto vivendo uma revolução artística, dessas que a gente só ve na escola, provocada pelo "estouro" do grupo Terreiro Grande. Fico cheio de esperança só de pensar que este pode ser o primeiro passo de uma retomada mais abrangente dos sambas e dos sambistas esquecidos, ou não. E tenho quase certeza que, bons frutos virão com o tempo. Se Deus quiser!!!

Ingrata Solidão --- Geraldo Babão


TERREIRO GRANDE OU UMA REUNIÃO DE AMIGOS

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

100 anos de Cartola sem Cartola

"Mangueira, a tua imponência te fez grande escola
Teu poeta maior foi o mestre Cartola
Te deu formas e cores e te projetou"
(Nelson Sargento)

2008 é um ano especial para a Mangueira e para o samba como um todo. É o centenário do Mestre Cartola. Nada mais natural que Cartola voltasse à avenida 28 anos depois de sua morte como o enredo da verde e rosa, mas a praga dos enredos patrocinados já tomou conta do carnaval carioca e já começa a se instaurar no carnaval paulista, e por isso o enredo será: 100 anos do frevo. É de perder o sapato. Recife mandou me chamar.

Não é querendo desmerecer o frevo, mas são 100 anos de frevo e 100 de Cartola, que foi um dos fundadores da escola, que deu o nome de Estação Primeira de Mangueira, que escolheu as cores e que fez uma infinidade de sambas que o consagraram como um dos maiores poetas do morro de Mangueira.

Em 2002 a mesma gafe foi cometida, era centenário de Carlos Cachaça. Essa é mais uma consequência da deturpação das escolas de samba.

Mangueira, Divina e Maravilhosa --- Nelson Sargento

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Vermute com Amendoim recomenda: Paulo Vanzolini --- Por ele mesmo

Paulo Vanzolini seguiu caminhos diferentes da maioria dos sambistas ao qual estamos acostumados. Nasceu em São Paulo no ano de 1924, cursou o primário no tradicional colégio da capital paulista Rio Branco. Em 1942 ingressou na Faculdade de Medicina onde começou a compor seus primeiros sambas e a freqüentar suas primeiras rodas que eram promovidas pelos próprios estudantes.

Vanzolini se formou em medicina no ano de 1947, e no ano seguinte logo após se casar foi para os EUA onde ganhou o título de Doutor em zoologia que lhe foi conferído pela tradicionalíssima Universidade de Harvard e, por conta disso, foi lecionar zoologia na USP. Entre seus sambas mais conhecidos estão: Ronda, Cravo Branco e Volta por Cima.




















1 - Bandeira de guerra
(Paulo Vanzolini)

2 - Tempo e espaço
(Paulo Vanzolini)

3 - Raiz
(Paulo Vanzolini)

4 - Samba erudito
(Paulo Vanzolini)

5 -Amor de trapo e farrapo
(Paulo Vanzolini)

6 - Alberto
(Paulo Vanzolini)

7 - Falta de mim
(Paulo Vanzolini)

8 - O rato roeu a roupa do rei de Roma
(Paulo Vanzolini)

9 - Cravo branco
(Paulo Vanzolini)

10 - Vida é a tua
(Paulo Vanzolini)

11 - Capoeira do Arnaldo
(Paulo Vanzolini)

12 - Samba do suicídio
(Paulo Vanzolini)

13 - Samba abstrato
(Paulo Vanzolini)

Paulo Vanzolini --- Por ele mesmo (1979)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Lamento do Samba

Em homenagem ao dia nacional do samba, que foi ontem:

O LAMENTO DO SAMBA
(Paulo César Pinheiro)

Eu tenho saudade
Dos sambas de antigamente
Quando o samba deixava
Uma vaga tristeza
No peito da gente
Não era amargura
E nem desventura
E nem sofrimento
Era uma nostalgia
Era melancolia
Era um bom sentimento.
Nos dias de hoje
O samba ficou diferente
Não tem mais dolência
Mudou a cadência
E o povo nem sente
Sua melodia
É uma falsa alegria
Que passa com o vento
Ninguém percebeu
Mas o samba perdeu
Sua voz de lamento.
Quando eu canto na roda de samba
Um samba que é mais antigo
A moçada se cala, escuta, aprende,
E ainda canta comigo
O que falta pra quem faz um samba
É a tristeza que vem de outro tempo.
Quem não sabe a ciência do samba
Vai fazer o que pede o momento.
O segredo da força do samba
É a vivência do seu fundamento.
O que faz ser eterno um bom samba
É a beleza que tem seu lamento.


Parabéns a todos os sambistas e admiradores.

O lamento do Samba --- Paulo César Pinheiro (2003)

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Roda de samba na linha de frente

Roda de Samba - Heitor dos Prazeres



A grande maioria das pessoas certamente já foi a algum show de samba, se bom ou ruim não interessa no momento. Talvez alguns deles até se auto-intitulassem como uma roda de samba por uma questão de promover o espetáculo, ou por desconhecimento do que vem a ser uma legítima roda de samba.

A roda de samba surgiu na Praça Onze, quando a Tia Ciata abriu as portas de sua casa para que o batuque fosse feito em seu quintal regado a muita bebida e comida, já que no início o ritmo era discriminado pela polícia e pela sociedade da época. Durante algum tempo a roda de samba e a escola de samba dividiam em determinadas ocasiões o mesmo espaço. Pelo menos é o que diz Elton Medeiros no programa Ensaio, que participou ao lado de Paulinho da Viola, Jair do Cavaquinho, Anescarzinho do Salgueiro e Nelson Sargento. No programa ele diz que antigamente o ensaio das escolas de samba era uma festa onde se armava uma roda e o samba era propagado sem a ajuda de aparelhagem, ou seja se o samba fosse bom rapidamente ele era aceito pela comunidade.

Isso tudo se perdeu na década de 60 quando foi instituída a chamada "ditadura do samba-enredo". Então, os sambistas e os sambas de terreiro junto com as rodas migraram para casas como o Zicartola e surgiram espetáculos como o Rosa de Ouro. "Não é a toa que João Nogueira se afasta da Portela ao ser impedido de cantar um samba de meio de ano na quadra. Na ditadura das escolas, a partir de meados dos anos 60, só entra samba-enredo", diz o jornalista e historiador Roberto M. Moura.

Ainda segundo o jornalista, havia algumas regras a serem seguidas: "Como em qualquer prática social semelhante, a roda também tem uma espécie de regulamento interno: não se pode ousar manejar um instrumento sem competência, falar mais alto do que o som quem vem da roda (um papo discreto, no canto, mesmo uma paquera, nenhum problema), interromper quem está puxando o samba e, pecado venial quando o sujeito está se aproximando, mas suportável quando ele já pertence ao grupo, puxar um samba e esquecer a letra pela metade".

A partir do momento em que a roda sobe em um palco ela deixa de ser roda para virar espetáculo, pois ela perde o caráter de espontaneidade e diversão que a roda propõe, salvo raras exceções. Talvez a roda seja a responsável pela sobrevivência do samba, uma vez que ela nunca deixou de ocorrer, seja nos fundos de quintais da vida ou na porta dos botecos diversos espalhados pelo país, tornando-se a principal arma na resistência do samba no Brasil.

Inspirado no artigo "A roda por princípio" de Bruno Ribeiro publicado em 30 de março de 2005 e no livro A Suprema Elegância do Samba, de 2005. Editado por Pontes Editores


No Princípio, Era a Roda --- Roberto M. Moura

A Suprema Elegância do Samba: Notas Sobre Campinas --- Bruno Ribeiro

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Fala Mangueira

Há alguns anos atrás nas minhas andanças pela internet eu me deparei com o documentário Fala Mangueira, como faz tempo que não o vejo por aí resolvi repostá-lo. Participam do filme: Dona Neuma, o então menino Martinho da Vila, o inteirissímo Padeirinho, Carlos Cachaça em uma entrevista ao jornalista Sérgio Cabral, idealizador do filme. Além disso é possível conferir algumas imagens do funeral do mestre Cartola que faleceu em 1980 vítima de um câncer, dos ensaios da Mangueira, da Rainha Quelé Clementina de Jesus e, é claro, da não menos importante comunidade do morro de Mangueira. A narração do vídeo fica por conta de Grande Otelo.

O documentário é datado do ano de 1982, tem 50 minutos e quem o assina é Frederico Confalonieri, como foi digitalizado por um norueguês contém uma legenda um tanto quanto estranha ao nossos olhos.


Trecho do documentário Fala Mangueira


Baixe aqui o documentário Fala Mangueira (1982) completo

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Passado e presente de glória

Ultimamente tenho escutado dois discos em especial:

Portela, Passado de Glória - Velha Guarda da Portela (1970)


Esse disco é indispensável e obrigatório na "estante" de quem é apreciador do bom samba. Com produção de Paulinho da Viola, e com o velho César Faria no violão, Casquinha comandando o surdo e Jair do Cavaquinho no instrumento que lhe dá o nome. Além de outros bambas que acompanham o coro como: Alberto Lonato, Alcides (o Malandro Histórico da Portela), Aniceto da Portela, Antônio Caetano, Armando Santos, Chico Santana, João da Gente, Manacéa, Mijinha, Ventura, Vicentina da Portela e tantos outros. Ou seja, não tinha como sair uma coisa que não fosse genial.

Portela, Passado de Glória - Velha Guarda da Portela (1970)



Teresa Cristina e Grupo Semente - Delicada (2007)

A primeira vez que ouvi o trabalho da Teresa foi em um show que ocorreu no ano passado e no qual iam se apresentar Nelson Sargento, Nei Lopes e Teresa Cristina. Ela foi a primeira a cantar e confesso que na época não chamou muito a minha atenção, porém recentemente tive contato com seu mais recente cd e tive uma grata surpresa. Não é genial como o da Velha Guarda, mas é um belo disco.


Teresa Cristina e Grupo Semente - Delicada (2007)

domingo, 11 de novembro de 2007

São Pixinguinha

"Só quem morre dentro de uma igreja
Vira Orixá, louvado seja Senhor
Meu santo Pixinguinha"
(Moacyr Luz / Paulo César Pinheiro)

Alfredo da Rocha Vianna Jr., ganhou o apelido Pixinguinha de uma junção de duas palavras. Pizidim, que significa "pequeno bom" e Bixiguinha, referente a uma doença (varíola) contraída que ocasionou marcas em seu rosto.

Pixinguinha era o típico sujeito boa-praça. Diz a história que certa vez voltando de uma apresentação, foi abordado por três ladrões que, ao reconhecê-lo, desistiram do assalto. Feliz pelo ocorrido, Pixinguinha convidou os assaltantes para uma cerveja que durou a noite inteira e foi paga com o dinheiro recebido pela aprensentação na noite anterior. No final ele ainda disse: "Querem algum para a passagem?".

Como diz a letra de Moacyr Luz e PCP, Pixinguinha morreu dentro de uma igreja, vítima de um infarto fulminante no dia 17 de fevereiro de 1973 quando tinha ido batizar o filho de um amigo, que já tinha adiado várias vezes em função do seu estado de saúde debilitado. Ao saber da notícia da morte do mestre do choro, segundo Moacyr Luz, a Banda de Ipanema, que saía pelas ruas na época do carnaval, passou a tocar continuamente o que talvez seja seu maior sucesso: o choro Carinhoso. No dia 23 de abril, aniversário de Pixinguinha, é comemorado o dia nacional do choro.


Pixinguinha com Altamiro Carrilho e Garoto --- Carinhoso



Som de Prata --- Moacyr Luz

Memórias Musicais - CD 9 - Pixinguinha - Vol. 2 (2002)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Vermute entrevista Ricardo Van Steen

Ricardo Van Steen não é cineasta de formação, mas já dirigiu dois filmes sobre Noel Rosa. O primeiro deles, em 1996 é um curta de 18 minutos sobre Noel de Medeiros Rosa, chamado “Com que roupa?”. Mas sua segunda obra sobre o compositor carioca é que está agradando mais o público, o longa “Noel, o Poeta da Vila”, agora exibido no circuito comercial de cinema.

Sem ter certeza de que a obra é perfeita, Ricardo não vê problemas em aceitar críticas, como o fato de que o próprio Noel, interpretado por Rafael Raposo, pouco canta suas músicas. Mesmo assim Van Steen colocou a cara ao tapa e tem se saído muito bem na sua primeira experiência com longa-metragem.

O diretor recebeu a equipe do Vermute com Amendoim em uma entrevista exclusiva e esclareceu mais do filme para quem já viu e para quem ainda pretende ver. Confira:


Vermute com Amendoim: A idéia de fazer o filme sobre Noel veio da biografia feita pelo João Máximo. O que mais te interessou na vida de Noel Rosa?
Ricardo Van Steen: Achei que foi mais do que tudo a vida de sambista, o ambiente do samba, o tipo de conversa, tipo de ritmo que a vida tem, sem muito batente, sem muito bater cartão. Ao mesmo tempo é trabalho como qualquer outro deste que o cara rala pra cacete também.

VA: Em 1996 você filmou um curta, chamado “Com que roupa?”. O que mudou de um filme para o outro?
RVS: Ah, mudaram dez anos de vida e dez anos de reflexão, dez anos de aprendizado, de Noel e de cinema. O mundo mudou completamente nesses dez anos. No cinema em que a gente ia quando eu comecei a fazer o “Com que roupa?”... Nem sei se você viu os filmes que eu já vi... “Touro Indomável”. Mudou demais o cinema nesses dez anos.

VA: No seu primeiro longa você teve que sintetizar 26 anos de Noel em uma hora e meia. Quais as principais dificuldades? (Foram 10 anos de gravações, com problemas de dinheiro)
RVS: A gente ficou com os sete anos finais, mesmo assim... A dificuldade é aprender fazendo, eu acho que essa é a dificuldade. Então você não sabe nada e tem que aprender errando, erra e aí acerta, erra e acerta, erra então demora. E você tem que aprender tudo, pois é uma indústria que tem 500 mil particularidades desde a hora de arrumar dinheiro até a hora de se apresentar, a hora de exibir as suas idéias, a hora de desenvolver o trabalho, prestar contas, é um aprendizado todo dia. E aí vou falar, é claro, da dramaturgia, contar uma história. Tem tanta coisa pra decidir a todo momento, é uma superescola. Então se eu tivesse feito faculdade eu teria aprendido um monte de coisas que teriam me facilitado nas decisões, mas dificilmente eu teria tanta experiência técnica como eu tive fazendo o outro caminho. Então acaba que é apenas o rio que faz as suas margens. É isso aí, cada um é um, e o tempo é o tempo que precisa pra ficar pronto.

VA: Como foi o treinamento do Rafael para entrar na personagem? Quais quesitos vc exigiu dele?
RVS: Ele fez mais de uma dúzia de cursos, desde a questão postural, da boca né...

VA: Ele usou uma prótese, né?
RVS: A boca que tem uma prótese. Chegou um dia antes da filmagem sem treinamento sem nada, pra desandar tudo o que ele aprendeu em dois meses. Ele perdeu de novo a dicção, perdeu a afinação...A hora em que botaram aquele plástico dentro da boca dele, travou geral. Mas foi bom pro filme. Ele ficou meio doidão, meio desestruturado e foi interessante.

VA: Apesar de o Rafael estar muito bem na pele de Noel, são poucas as vezes que se vê ele cantando. Em seu lugar, Aracy de Almeida ou Francisco Alves é que interpretam mais. Por quê?
RVS: Eu me filiei à história, o Noel interpretava quase que só pra rádio mesmo, quer dizer, só quando não dava para ter um cantor. Daí ele ia lá e cantava. É claro que, como ele tinha um posição de líder na rádio, na medida que ele organizava a vida de todo mundo, preparava as gravações, os programas, ele ajudava a todos...Todo mundo queria ele cantando. Era o Noel, era o jeito dele e tal, mas ele não era um cara que queria cantar tanto assim. Ele era um compositor, um ótimo instrumentista. Apesar de que para os superexigentes, parece que o irmão era melhor.


VA: A síncope da música de Noel, que revolucionou o caminho do samba, não se esconde quando Francisco Alves aparece mais?
RVS: É, é engraçado que eu li isso na sua matéria... Por que você não faz essa pergunta para o Filipe [Luis Filipe de Lima – Diretor Musical]? Acho que essa é boa pra ele, porque eu sou um reles diretor. Eu não chego aí. Hoje, depois de pronto e na tela eu sei do que você está falando. Mas eu cheguei a entender de tanto ficar dentro do estúdio, ouvindo e entendendo um pouco do que você está falando. Pra falar em síncope o cara precisa ser músico. Mas eu te entendo, acho que o filme tem um andar na linha em excesso, sem passear no ritmo. Isso mostra que tem que ter um equilíbrio da história emocional dele com a história musical. Espero que no próximo filme eu consiga ir tão adiante em todos os aspectos, até nessa questão. Porque isso é uma arapuca do destino, porque na medida em que você vai enxugando, enxugando os personagens pra caber em uma história menor, você acaba optando por aquele que mais cantou Noel, mas que não necessariamente reverberou o que o Noel trazia de novo em termos de síncope. Mas se tinha alguém que cantava Noel nessa época era esse cara. Ele deu vazão à metade da produção do Baixinho.

VA: No filme, você optou por algumas cenas diferente do que se vê no cinema brasileiro, como uma em que o teto é filmado, ou quando o personagem não fica totalmente enquadrado. O que o levou a escolher isso?
RVS: Acho que essas imagens representam as dúvidas, as incertezas, os questionamentos dele. Cada vez que aparece uma desta, você pode ter certezaa que ele está em um momento de indecisão ou indefinição. Ou ele está totalmente indefinido na suas idéias do que fazer ou ele tem que decidir naquele momento. Aquela parede pra ele quer dizer ou ele decide, toma um rumo ou ele não vai chegar lá.

VA: Durante as filmagens, algum fato engraçado aconteceu? Algo que você não esperava?
RVS: Tem pouco disso, viu? É porque a nossa pobreza não permite. Você já está tão estrangulado no tempo para conseguir fazer tudo o que você já tinha pensado que não tem como aceitar o improviso ou o inesperado. É muito raro. Mas tem: aquela cena dele no banheiro passando mal, que ele vai pra festa vomita e...Aquilo não existia no roteiro. A gente foi filmar em uma locação na delegacia e de repente eu visitando o banheiro e tinha aquele banheiro incrível dos anos 30. Aí a gente falou: ‘Que roupa que o Noel tá? Ah, é a mesma da festa. Então vomita aí’ E ficou muito bom, mas foi a única coisa que se improvisou, praticamente.

VA: Você acredita que o filme possa de certa forma catequizar os ouvidos do público, já acostumados com o pagode?
RVS: O que eu queria é que soubessem alguma coisa sobre o Noel, porém que ainda venha outros filmes pra falar de síncope, de malandragem, mas de outra forma, com mais isso e menos aquilo...Porque é um cara que merece 10 filmes. É que nem Macbeth, merece ser refilmado a vida toda.

VA: Pretende filmar alguma outra história do samba? Tem outros projetos?
RVS: Já, você já ouviu falar no Vassourinha? Então estamos investigando essa seara...

VA:Você tem alguma canção preferida de Noel?
RVS: Olha, dentro das que eu tenho ouvido na trilha é “Mais um samba popular”. Não sei se você teve chance de prestar atenção nela, porque é a primeira música dos letreiros e normalmente as pessoas estão batendo palma nessa hora. É a que eu estou curtindo.
Créditos das fotos do filme: Alexandre Ermel

sábado, 3 de novembro de 2007

Noel para todos

Rio de Janeiro, 1929. Cenário que reuniu Mário Reis, Cartola, Aracy de Almeida, Heitor dos Prazeres, Ismael Silva, Wilson Batista, Francisco Alves e outros grandes nomes do samba e de morros consagrados no verso: “Salve Estácio, Salgueiro e Mangueira, Osvaldo Cruz e Matriz...”.

Verso que pertence ao samba de 1935, intitulado “Palpite Infeliz” e composto por um dos maiores sambistas de toda a história da música brasileira: Noel de Medeiros Rosa, personagem que teve o filme “Noel, o Poeta da Vila” estreado no circuito comercial. Depois de 10 anos sendo feito, o filme de Ricardo Van Steen teve sua primeira exibição na 30ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo.

Com um bom resumo do que foi a vida de Noel, o filme consegue agradar quem conhece detalhes da vida do poeta de Vila Isabel ou quem apenas ouviu a famosa música “Com que roupa?”, composta em 1929, e que começou a mudar os rumos do samba. Isso porque, as informações do filme, retiradas da mais completa biografia do sambista (Noel, uma biografia de João Máximo e Carlos Didier) aparecem a todo tempo.

Não só no que é explícito, como a história do compositor, a freqüente venda de sambas e os exageros com bebida e cigarro de Noel, mas também em detalhes, como no momento em que o ator Rafael Raposo vai beber sopa e o faz tal qual um glutão (explicado pelo fato de que Noel tinha dificuldades para comer por conta do problema no seu queixo). Outro importante detalhe é a relação de amizade entre Noel e Aracy de Almeida, que acabou sendo sua principal intérprete.

As músicas escolhidas também são bem significativas. Desde com “Com que roupa”, o primeiro grande sucesso de Noel Rosa cantando sem o Bando de Tangarás ( grupo com o qual fazia apresentações sem cobrar por cachê) até o “Último desejo”, canção composta à beira da morte para seu grande amor Ceci (muito bem feita por Camila Pitanga).

Com figurino de época, e objetos que mostram como era a década de 20, o filme só peca em um detalhe. Deixa de lado a síncope da música de Noel, que mudou o conceito de se cantar samba. Em lugar da forma que o Poeta cantava, atrasando uma sílaba ou à revelia da melodia, que acompanha a voz causando uma sensação totalmente nova na época.

As interpretações empoladas de Chico Alves e a bela voz da jovem “Araca” são mais valorizadas e raramente se vê Noel cantando. As poucas vezes são no embate musical entre Noel e Wilson Batista, que rendeu uma seqüência de belos sambas.

Mesmo assim o filme vale, pela história, pela bela cena de sexo entre Noel e Ceci, pelo samba que se sai da sala cantando e as cervejas que dá vontade de tomar, ouvindo, é claro o Poeta de Vila Isabel.

Revivendo Noel Rosa Coisas Nossas (1995)

Veja o Trailer do filme

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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Partido Alto

O partido alto é uma das muitas vertentes que o samba possui, nele os partideiros fazem versos de improviso. Para saber mais assista o documentário Partido Alto (1982) de Leon Hirzman, que possui um elenco de primeira: Candeia, Manacéia e Paulinho da Viola.



Não é necessário baixar
Partido Alto de Leon Hirszman

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Parabéns Nelson!


Hoje, dia 29 de outubro de 2007, se estivesse vivo Nelson Antônio da Silva, o Nelson Cavaquinho completaria 96 anos de idade. Nelson é considerado por todos como um gênio da raça com sua voz e seu jeito de tocar violão bem característicos podendo ser reconhecido de longe, seus sambas possuem como temática principal a morte, a solidão e a sua grande paixão: a Estação Primeira de Mangueira. Ele compôs com grandes nomes do seu tempo, entre eles estão Zé Kéti, Cartola e seu grande parceiro Guilherme de Brito, com quem fez vários clássicos como Garça, Quando Eu me Chamar Saudade e a Flor e o Espinho.


Nelson Cavaquinho - Raízes do Samba

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Pra cantar samba se precisa muito mais...

"Não, não basta ter inspiração,
Não basta fazer uma linda canção
Pra cantar samba se precisa muito mais,
Samba é lamento, é sofrimento, é fuga dos meus ais"


Já disse mestre Candeia que o samba, apesar de ser de todo povo brasileiro, não é para ser cantado por qualquer um. Para cantar samba não é necessário uma bela voz, mas isso não quer dizer que elas não sejam bem-vindas, vide o grande Jamelão que é dotado de uma potente e belíssima voz ou até mesmo o Formigão Cyro Monteiro, que também integra este time.
Para que a canção seja bem cantada deve se entender a essência do samba, cantá-lo como se voz saísse do coração, talvez seja por isso que no samba seja um dos poucos ritmos em que os melhores intérpretes nem sempre são os melhores cantores. Exemplos não faltam: Nelson Cavaquinho com sua voz "lixada" dava um tom especial de melancolia às suas composições, mais recentemente encontramos Paulo César Pinheiro dando o recado com sua voz rouca e forte, o próprio Cartola que definitivamente não possuía uma bela voz, porém não há quem o interprete melhor do que ele mesmo. O samba também aceita vozes suaves como a do elegante Paulinho da Viola ou a de seu parceiro Eduardo Gudin dando ao estilo a merecida nobreza que lhe é de direito.
Acho que é por isso que sempre deve-se buscar a interpretação do autor da música, pois só ele saberá o que realmente significa e cantará cada verso com um sentimento que só ele pode imprimir. Como já dito neste próprio post o samba é música do povo, e é por isso que ele se permite que seja cantado tanto pelos sóbrios, quanto pelos embriagados, pelos mendigos e pela elite, homens e mulheres, basta que quem esteja fazendo lhe de o devido respeito e tente deixar a emoção se sobressair sobre a razão.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Para Americano Ouvir

Angenor de Oliveira sempre vendeu samba, mesmo antes de ser conhecido como Cartola. Aliás o apelido veio por conta de um “chapéu-coco” (como ele mesmo afirmou) usado para que o cimento não caísse em seus cabelos. Aliás, Angenor não trabalhou apenas como ajudante de pedreiro. Também foi pintor de paredes, vigia de prédio e contínuo de repartição pública. Não só isso, quando foi descoberto por Sérgio Porto, o conhecido Stanislaw Pontepreta, na década de 50, Cartola lavava carros e não andava muito bem de saúde. Depois disso, sua vida não melhorou muito, mas Cartola começou a trilhar o caminho como o principal poeta de Mangueira. Muitos sambistas gravaram composições suas. Francisco Alves, o rei da voz, era cliente habitual dos sambas de Cartola. Aliás, Chico sempre se deu ao luxo de comprar canções e, muitas vezes as raptava para sua autoria.

A passagem de Cartola por uma gravadora demorou a acontecer. Em Agosto de 1940, Leopold Stokowski diretor musical da Orquestra da Filadélfia, Leopold Stokowski, interessado na música brasileira, contatou o maestro Heitor Villa-Lobos. A idéia de Stokowski era registrar a mais legítima música popular brasileira. O disco foi lançado pela Columbia Records e seria apresentado em um congresso pan-americano de folclore, mas que nunca aconteceu.
Villa-Lobos resolveu atender ao pedido de seu amigo norte-americano. Contatou três sambistas: Donga, Zé Espinguela e Cartola. A partir destes, mais alguns foram contatados, Pixinguinha, Zé da Zilda, Jararaca e Ratinho, Luiz Americano entre outros.


Foram gravadas 40 músicas a bordo do navio Uruguay. E, selecionadas, formaram dois volumes. Dessas, Cartola gravou “Quem Me Vê Sorrir”. Foi acompanhado pelo compositor/violonista da Mangueira Aluísio Dias; um grupo de percussionistas da Mangueira incluindo Preguiça, China e Negro; e as pastoras da escola de samba, um coro feminino integrado por Neuma, Cecéia, Nadir, Ornélia, Guiomar, Nesilia e Neguinha.
Pelo samba, recebeu “um dinheirão”: 1.500 réis. Muitos sambistas morreram sem ouvir suas vozes no disco. Cartola só conseguiu ouvir uma vez.

Native Brazilian Music Vol. 1 e 2


Saiba mais em: Caçando Stokowski por Daniella Thompson

domingo, 21 de outubro de 2007

Morre o violonista César Faria

Na noite de sábado(20/10), morreu o violonista César Faria, pai de Paulinho da Viola e um dos fundadores do Conjunto Época de Ouro que era composto, entre outros, por Jacob do Bandolim e Dino 7 Cordas.

Até o ano passado era ele quem acompanhava o filho, e por causa da idade veio a ser substituído pelo seu neto João Rabello. César tinha 88 anos e morreu vítima de um infarto na sua casa, em Copacabana.

O infeliz acontecimento vem justamente quando Paulinho da Viola lança, junto com a MTV, seu DVD acústico.

Conjunto Época de Ouro Ensaio

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Vermute com Amendoim recomenda: Cristina Buarque e Terreiro Grande Ao Vivo

Eu ia mesmo comentar sobre esse disco aqui, mas não ia postá-lo, principalmente pelo fato de ser um disco independente e conter 37 sambas com o pagamento dos direitos autorais saído do bolso dos próprios músicos e que não vivem disso.

Porém como já vi o disco rolando por aí resolvi disponibilizá-lo, e peço, que se gostarem e puderem comprar, façam isso pois realmente vale a pena. Então lá vai, há quem diga que este disco faz parte da lista dos 10 melhores álbuns de samba de todos os tempos, eu como não gosto de listas vou deixar ele aqui sem mais, para que cada um tire suas próprias conclusões!

Cristina Buarque e Terreiro Grande Ao Vivo
1. Bloco 1 - O meu nome já caiu no esquecimento
autor: Paulo da Portela editora: Direto
2. Eu não sou do morro
autor: Francisco Santana editora: Direto
3. Não deixo saudade
autor: Manoel Ferreira editora: Irmãos Vitale
autor: Roberto Martins editora: Irmãos Vitale
4. Você me abandonou
autor: Alberto Lonato editora: BMG Music
5. Quantas lágrimas
autor: Manacéa editora: Fermata
6. Bloco 2 - Já chegou quem faltava
autor: Nilson Gonçalves editora: Direitos Reservados
7. O mundo é assim
autor: Alvaiade editora: ADDAF
8. Jura
autor: Adolfo Macedo editora: Mangione
autor: Marcelino Ramos editora: Mangione
autor: Zé da Zilda editora: Mangione
9. Meu primeiro amor
autor: Bide editora: Irmãos Vitale
autor: Marçal editora: Irmãos Vitale
10. A lei do morro
autor: Antônio dos Santos editora: Mangione
autor: Silas de Oliveira editora: Mangione
11. Quem se muda pra mangueira
autor: Zé da Zilda editora: Direto
12. Assim não é legal
autor: Noel Rosa editora: ADDAF
13. Na água do rio
autor: Manoel Ferreira editora: Irmãos Vitale
autor: Silas de Oliveira editora: Irmãos Vitale
14. Esta melodia
autor: Bubu da Portela editora: ADDAF
autor: José Bispo editora: ADDAF
15. Ando penando
autor: Alcides Dias Lopes editora: Fermata
16. Perdão, meu bem
autor: Cartola editora: Tapajós (Emi)
17. Desperta Dodô
autor: Heitor dos Prazeres editora: Irmãos Vitale
autor: Herivelto Martins editora: Irmãos Vitale
18. Na água do rio
autor: Manoel Ferreira editora: Irmãos Vitale
autor: Silas de Oliveira editora: Irmãos Vitale
19. Vou navegar
autor: Ernâni Alvarenga editora: Direto
20. Bloco 3 - Inspiração
autor: Candeia editora: Direto
21. Banco de réu
autor: Alvaiade editora: ADDAF
autor: Djalma Mafra editora: ADDAF
22. Você chorou
autor: Francisco Alves editora: Irmãos Vitale
autor: Sylvio Fernandes editora: Irmãos Vitale
23. Lenços brancos
autor: Eliana Pittman editora: Irmãos Vitale
autor: Picolino da Portela editora: Irmãos Vitale
24. Sentimento
autor: Mijinha editora: EMI Music
25. Conselho da mamãe
autor: Manacéa editora: Direto
26. Brocoió
autor: Zé Cachacinha editora: Direitos Reservados
27. Quando a maré
autor: Antônio Caetano editora: Direitos Reservados
28. Confraternização 1
autor: Walter Rosa editora: Euterpe
29. Bloco 4 - Portela feliz
autor: Zé Ketti editora: Arlequim
30. Desengano
autor: Aniceto da Portela editora: Fermata
31. A maldade não tem fim
autor: Armando Santos editora: Fermata
32. Embrulho que eu carrego
autor: Alvaiade editora: ADDAF
autor: Djalma Mafra editora: ADDAF
33. Vida de fidalga
autor: Alvaiade editora: ADDAF
autor: Francisco Santana editora: ADDAF
34. Fui condenado
autor: Mijinha editora: Tapajós (Emi)
autor: Monarco editora: Tapajós (Emi)
35. Teste ao samba
autor: Paulo da Portela editora: Direto
36. Tu me desprezas
autor: Paulo da Portela editora: Direto
37. Cantar pra não chorar
autor: Heitor dos Prazeres editora: Mangione
autor: Paulo da Portela editora: Mangione

Cristina Buarque e Terreiro Grande AO VIVO

Onde comprar:

- Todo o Brasil

FNAC - Tel: (11)3097-0022
Mubi - Tel: ( 11)3481-4707
Saraiva - Tel: ( 11)38795999
Submarino - novo - Tel: ( 11)2199-8888

SP - São Paulo
Allegreto Alpha - Tel: ( 11)3313-2040
Banana Music - Tel: ( 11)3085-8877
Baratos Afins - Tel: ( 11)3223-3629
Café Florinda - Tel:
Centro Cultural Banco do Brasil - Tel: ( 11)31133654
Compact Blue - Tel: ( 11) 32515248
Disconexus - Tel: ( 11)3081-7664
Discoteka - rod - Tel: ( 11)59060456
FNAC - Paulista - Tel: ( 11)2123-2000
FNAC - Pinheiros - Tel: ( 11)4501-3000
Liv.Cultura - Market Place - Tel: ( 11)3474-4033
Livraria Cultura - Paulista - Tel: ( 11)3170-4033
Livraria Cultura-Vil - Tel: ( 11)3024-3599
Livraria da Vila - Lorena - Tel: ( 11)3062-1063
Livraria da Vila-Rod - Tel: ( 11)3814-5811
Livraria do Espaço Unibanco SP - Tel: ( 11)3141-2610
Mult Laser - Tel: ( 11)3311-6361
Neto Discos (novo) - Tel: ( 11)3105-0218
Pacific Music - Analia Franco - Tel: ( 11)6643-4488
Pacific Music - Morumbi - Tel: ( 11)5189-6655
Pacific Music - novo - Tel: ( 11)5093-7220
Painel Musical - novo - Tel: ( 11)5561-9605
Phoenix Musical - Tel: ( 11)3227-3948
Pop´s Discos - Tel: ( 11)3083-2564
Together - Tel: ( 11)5686-5220
Zaccara Cds - Tel: ( 11)3872-3849

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Laiá Laiá Laiá Laiá


Em tempos de acústico mtv Paulinho da Viola vale a pena relembrar como Paulinho compôs o que talvez seja seu maior sucesso, o samba "Foi um rio que passou em minha vida" (Paulinho da Viola - 1970).
Lá pelos idos de 1969 Paulinho (portelense) musicou a letra "Sei lá, Mangueira" de Hermínio Bello de Carvalho, que diz:
Vista assim do alto
Mais parece um céu no chão
Sei lá,
Em Mangueira a poesia fez um mar, se alastrou
E a beleza do lugar, pra se entender
Tem que se achar
Que a vida não é só isso que se vê
É um pouco mais
Que os olhos não conseguem perceber
E as mãos não ousam tocar
E os pés recusam pisar
Sei lá não sei...
Sei lá não sei...
Não sei se toda beleza de que lhes falo
Sai tão somente do meu coração
Em Mangueira a poesia
Num sobe e desce constante
Anda descalça ensinando
Um modo novo da gente viver
De sonhar, de pensar e sofrer
Sei lá não sei, sei lá não sei não
A Mangueira é tão grande
Que nem cabe explicação

Acontece que depois da homenagem, o clima na Portela não ficou dos melhores pro Paulinho, que para reparar a situação compôs "Foi um rio que passou em minha vida":

Se um dia meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar
Meu coração tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos ficou, ficou
Só um amor pode apagar
Porém (ai, porém)
Há um caso diferente que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em outro amor
Quando alguém que não me lembro anunciou:
Portela! Portela!
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou
Ai, minha Portela, quando vi você passar
Senti o meu coração apressado
Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir aquele azul
Não era do céu; nem era do mar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar


sábado, 13 de outubro de 2007

Evolução nota 0

Antigamente a escola de samba era feita exclusivamente pelo povo e para o povo, mas a escola foi se profissionalizando aos poucos contratando gente para fazer samba enredo ao invés de usar o seu pessoal, contratando carnavalescos e etc. A situação chegou a tal ponto que hoje em dia existe uma Associação dos Carnavalescos de Escolas de Samba e até há alguns anos atrás eles cogitavam em cobrar direitos autorais sobre o enredo que eles produziam, o carnavalesco agora é um sujeito com formação acadêmica, quase como um autor de uma peça ou um espetáculo. Isso é consequencia do fato de que as escolas de samba, sob o comando dos novos ricos se transformaram em mais um ponto turístico do Brasil, agora o carnaval não é nem feito pelo povo e tampouco para ele e aos poucos e cada vez mais vai perdendo sua identidade, principalmente no RJ. Há um samba chamado Avenida Fechada (Élton Medeiros / Antônio Valente / Cristóvão Bastos - 1973) que diz: "Não me leve a mal mais muito luxo pode atrapalhar /Alegria ninguém pode fabricar / Um bom carnaval se faz com gente feliz a cantar / Pelas ruas um samba bem popular". Em resposta a esse fenômeno Candeia e outros sambistas descontentes com o rumo que a situação ia tomando fundaram o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo, uma espécie de resistência carnavalesca que detalharei mais pra frente.


Coma este amendoim

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Os tempos idos, nunca esquecidos, trazem saudades ao recordar


Há exatos 99 anos nascia no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, Angenor de Oliveira mais conhecido por Cartola. Ele era Músico (cavaquinho e violão), compositor popular e sambista, é um dos fundadores da Escola de Samba da Mangueira (1928); autor de sucessos como As Rosas Não Falam, O Mundo é um moinho, Autonomia e etc. Ele e sua esposa Zica fundaram na década de 60 o bar Zicartola no centro do Rio de Janeiro, que foi um pólo irradiador do samba e onde surgiram vários talentos. Somente aos 65 anos conseguiu gravar seu primeiro disco.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Razão Social

Este blog tem a finalidade de tratar de música, em especial o samba. Neste espaço pretendemos discutir sua história, seu papel na sociedade de ontem e de hoje, história das composições, seus discos mais importantes e tudo mais aquilo que julgarmos relevante. Seu nome, Vermute com Amendoim, é inspirado na marcha Pierrô Apaixonado (Noel Rosa / Heitor dos Prazeres - 1935) que diz:

Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou chorando

A colombina entrou num butiquim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Dizendo: pierrô cacete
Vai tomar sorvete com o arlequim

Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o Pierrô aconteceu assim:
Levando esse grande chute
Foi tomar vermute
Com amendoim!

Tome este vermute


Até breve!
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