segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Samba em Mauá fotografado

Salve, salve pessoal, hoje o nome que figura na seção "Nas lentes do samba" é o meu!

As fotos foram feitas no Bar do Buiú, lá em Mauá, na grande homenagem ao Mano Décio. A qualidade nem sempre é das melhores, mas como diria Paulo Tiefenthaler, do programa Larica Total: "Não é o ideal, mas é o que tem!"


Bar do Buiú
A roda
Mesa posta
Mano Décio ao fundo

Samba de Terreiro de Mauá

Disco da semana: 1974 - Cartola


A conversa abaixo eu tive com o amigo Enrico. É um cara boa gente, mas quando o assunto é samba ele confunde tamborim com agogô.

- Esse disco do Riachão não é clássico, né?
- De clássico tem o “Cada macaco no seu galho”. Até banda de axé já gravou esta.
- Mas não é um disco clássico, né?
- Não, mas é muito bom.
- Ah mas já que eu vou baixar um disco de samba, quero baixar um clássico.

Atendendo a pedidos, o disco que figurará esta semana no Vermute é um clássico com “C” maiúsculo. Com vocês: o Divino Cartola. Uma infinidade de pessoas que já escreveram sobre este LP, torna a minha tarefa bastante difícil. E qualquer observação que eu fizer aqui, terá grandes chances de cair em um lugar mais que comum.
Portanto, não direi nada, deixarei com vocês o texto da contracapa do disco, escrito por Sérgio Cabral:

"Finalmente um LP com o grande Cartola! Foi preciso que nascesse uma nova gravadora, a Marcus Pereira, para que fosse dada ao fundador da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, ao maior compositor de todos os tempos dos morros cariocas, a mesma honra já concedida a centenas de nomes surgidos com a mesma rapidez com que desapareceram do panorama de nossa música popular.

Aos 65 anos de idade, Cartola mostra neste disco a razão pela qual é uma legenda e uma lenda do samba. A legenda todo mundo entende. Quanto à lenda, explico melhor. Houve um tempo – bem depois de Cartola ter sido descoberto nos idos de 1930 pelos grandes cantores da época – que o sambista desapareceu do morro e do samba. Muita gente pensava até que ele tivesse morrido e vários sambas falavam dele: “Tenho saudades do terreiro da escola/Lindos sambas do Cartola”, dizia um de Herivelto Martins; “Antigamente havia grande escola/Lindos sambas do Cartola”, dizia outro de Pedro Caetano. E Cartola só foi redescoberto em fins dos anos 50 pelo inesquecível Sérgio Porto numa atividade nada condizente para a grandeza do seu nome: era lavador de carros de uma garagem de Ipanema.

Mas hoje todas as pessoas ligadas de qualquer forma ao samba reconhecem a sua importância. Ele não só fundou a Estação Primeira como lhe deu nome e as cores verde-e-rosa. Foi o seu primeiro diretor de harmonia. Um dos seus sambas, “Quem me vê sorrindo”, foi gravado por Leopoldo Stokovsky para a Columbia norte-americana, por indicação de Villa-Lobos. Villa-Lobos, aliás, era um grande admirador de Cartola e o convidou várias vezes para participar de espetáculos que promovia. Foi parceiro de Noel Rosa e seus sambas foram gravados por intérpretes como Francisco Alves, Mário Reis, Sílvio Caldas, Carmen Miranda, Elizeth Cardoso e Paulinho da Viola. São muitos, portanto, os títulos de Cartola, o mestre de tantos compositores importantes (o próprio Paulinho da Viola o aponta como a sua grande influência). Mas talvez nenhum seja tão expressivo quanto ao que lhe foi atribuído pelo extraordinário Nelson Cavaquinho numa entrevista que me concedeu. Perguntei a Nelson qual, na sua opinião, é o maior compositor da nossa música. Ele não hesitou:
- Cartola!"

Sérgio Cabral.

Músicas:
01 - Disfarça e chora (Cartola / Dalmo Casteli)
02 - Sim (Cartola / Oswaldo Martins)
03 - Corra e olhe o céu(Cartola / Dalmo Casteli)
04 - Acontece(Cartola)
05 - Tive sim(Cartola)
06 - O sol nascerá (Cartola / Elton Medeiros)
07 - Alvorada (Cartola / Carlos Cachaça / Hermínio Belo de Carvalho)
08 - Festa da vinda (Cartola / Nuno Veloso)
09 - Quem me vê sorrindo (Cartola / Carlos Cachaça)
10 - Amor proibido(Cartola)
11 - Ordenes e farei (Cartola / Aluízio Dias)
12 - Alegria (Cartola)

Baixe esse disco no Som do Roque.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Santos de todos os sambas

Diretamente do O Couro do Cabrito.


Hoje o Clube Anhangüera receberá sambistas santistas de grande valor. A idéia original era contar com a participação de Renato Borgomoni, exímio compositor e um dos principais nomes do samba local. A sua desejada participação já estava impossibilitada devido a sua idade avançada (93 anos) e, no fim das contas, foram convidados para o samba dessa sexta seu filho Junior, a cantora Elenira e o compositor Luiz Cláudio. A idéia era homenageá-lo cantando suas composições.

Entretanto, numa dessas ironias do destino, Renato Borgomoni faleceu no último dia 17 de agosto. A roda de samba dessa sexta fica sendo, portanto, a primeira homenagem póstuma a esse senhor sambista.

Vale lembrar que a cidade de Santos tem uma rica tradição de samba, com fortes influências do samba carioca (devido à localização litorânea e portuária), diferente da capital e de outros rincões do interior, que trouxeram na gênese do samba um forte aspecto rural. Hoje está tudo mais misturado e as influências se convergiram, mas antes era um pouco diferente.

Vale a pena escutar alguns sambas de Renato Borgomoni aqui.

Inimigos do Batente convidam Santos de todos os sambas (Homenagem a Rento Borgomoni)

Local: Clube Anhangüera
Endereço: Rua dos Italianos nº 1261 – Bom Retiro – São Paulo - SP
Data: 29/05
Horário: a partir das 22h
Ingressos: R$ 10,00
Como chegar: Marginal Tietê (sentido Penha), passando a Ponte da Casa Verde, terceira rua à direita, primeira à esquerda e novamente primeira à esquerda.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Onde soam as sanfonas do Brasil

Conhecer o Brasil de norte a sul no som da sanfona. Foi essa a ideia que Sérgio Roizemblit teve há 10 anos. Demorou, mas "O Milagre de Santa Luzia” ficou pronto e hoje tem sua pré-estreia no Cine Bombril, às 20h.

Com Dominguinhos como cicerone, o documentário apresenta entrevistas com grandes mestres do instrumento, como Sivuca, Arlindo dos Oito Baixos, Patativa do Assaré e Pinto do Acordeom. É ele, que conta esse engraçado causo:



Após a exibição, diretor do projeto, fará um debate com a plateia. Para participar do evento, os interessados devem retirar senha na bilheteria do Cinema no mesmo dia, a partir das 19h.

Ainda não está convencido? Leia a matéria que saiu no Estadão ou veja o trailer:

Marcos Sacramento em Santos


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Brasil nas lentes de José Medeiros

José Araújo de Medeiros foi um dos grande mestres do fotojornalismo no Brasil. Nasceu em 1921, em Teresina (PI)e foi lá que começou a dar seus primeiros cliques.
O cantor Blecaute, em 1950

Com 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a colaborar para as revistas Tabu e Rio. Depois disso foi convidado por Jean Manzon para integrar a equipe de O Cruzeiro, onde permaneceu por 15 anos.
Ensaio para a Revista O Cruzeiro

Em 1957, ao publicar o livro Candomblé, foi responsável por ser o pioneiro no registro fotográfico desta religião no Brasil. Cinco anos depois, fundou a agência de fotografia Image.

Ritual de passagem do Candomblé

Destacou-se também como diretor de fotografia de clássicos do moderno cinema brasileiro e foi professor da escola de cinema de Santo Antonio de los Baños, em Cuba, no final dos anos 1980.

Dorival Caymmi, em 1955

Recentemente, a Editora Aprazível lançou o livro “Olho na rua — O Brasil nas fotos de José Medeiros”, com a história do fotógrafo no texto de Leonel Kaz.

Aracy de Almeida, em 1946

Clique aqui para conferir toda a coleção do IMS.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Se tu fores na Portela...

Neste vídeo, um trecho do curta "Se tu fores..." (2001), de Guilherme Coelho e Ilana Feldman com depoimentos de Jair do Cavaquinho, Surica e Walter Alfaiate:

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Faixa (dub) Amarela

Lucas Santtana. O nome pode não ser conhecido dos sambófilos de plantão, mas o cara fez uma versão da famosa "Faixa Amarela" que vale a pena ser comentada. A música faz parte do disco "3 Sessions in a Greenhouse", que pode ser baixado de graça no site do músico baiano



Ao longo do disco, Lucas mistura MPB com dub e uma pitadinha de rock. Para quem já gosta de Curumin, o cara é um prato cheio.



Se você não esteve na Terra nos últimos 10 anos e não conhece o sucesso cantado na voz de Zeca Pagodinho, ouça aqui:

Disco da semana: Humanenochum - Riachão


Um disco que mostra toda a versatilidade do sambista Riachão, o Clementino Rodrigues. Ele tem sambas daqueles que põe todo mundo para dançar. É o caso de "Retrato da Bahia" e o clássico "Cada macaco no seu galho".

Há ainda músicas que fogem a essa roupagem como a "Vida da semana", que mais parece uma moda de viola caipira, e "Cartinha", um samba triste e inspirado. No disco também consta um choro e um pout-porri de músicas juninas.

Vários artistas deram o ar da graça e cantaram com Riachão: Claudete Macedo, Caetano Veloso, Sabiá, Armandinho, Roque Ferreira, J. Velloso, Paquito, Carlinhos Brown, Tom Zé e Dona Ivone Lara.


Músicas:
1 - É vai, Riachão! (Riachão)
2 - Camisa molhada (Riachão)
3 - Cantina da Lua (Riachão)
4 - Retrato da Bahia (Riachão) participação: Claudete Macedo
5 - Vá morar com o diabo (Riachão) participação: Caetano Veloso
6 - Cartinha (Riachão)
7 - ''Os bichos'':
Baleia da Sé (Riachão)
Tartaruga 70 (Riachão)
8 - Bochecha grande (Riachão)
9 - Vida da semana (Riachão) participação: Sabiá
10 - Choro nº 1 (Riachão) participação: Armandinho Macedo
11 - Quem é o dono dessa mulher (Riachão) participação: Roque Ferreira
12 - Humanenochum (Riachão)
13 - Somente ela (Riachão) participação: Paquito e J - Velloso
14 - Camisinha (Riachão)
15 - Pitada de tabaco (Riachão) participação: Carlinhos Brown
16 - ''Pot-pourri São Joanino'' participação: Sabiá
Bochechuda (Riachão)
Papuda (Riachão)
Vamos pular, gente (Riachão)
17 - Cada macaco no seu galho (Riachão) participação: Tom Zé
18 - Não fale comigo agora (Riachão)
19 - Até amanhã (Riachão) participação: Dona Ivone Lara


Baixe esse disco no Prato e Faca.

sábado, 22 de agosto de 2009

Fala aí, Fulano!

O assunto da semana foi a retirada do ar de um dos blogs mais famosos e mais completos em termos de música brasileira. Cerca de 4.500 discos disponíveis foram para o espaço. Foram mesmo? O Vermute entrevistou Fulano Sicrano, o autor do UQT, e ele garante que o blog apenas "está de férias".

1. Você pretende voltar com o Um que Tenha?
Sim. Foi feito um back-up de todo o conteúdo do blog e será novamente disponibilizado em breve. Ainda há algumas questões técnicas e de segurança a serem superadas antes de definir o novo endereço. Acredito que no início de setembro o site estará no ar, faço questão de avisar ao Vermute Com Amendoim quando isso ocorrer.

2. Como ficarão os órfãos do UQT?
Não haverá órfãos porque o blog não morreu, imaginemos que, depois de três anos e meio, ele está de férias. Enquanto isso, de vez em quando, será usado o Twitter (www.twitter.com/fulanosicrano) para que os fãs do blog se abasteçam de música brasileira. Quando o UQT for restabelecido, todo o material já publicado estará disponível novamente, inclusive com os álbuns que lançaremos no twitter

3. Qual o tamanho do acervo que tinha o blog?
O blog tinha cerca de 4.500 álbuns publicados. O que mais me chateou foi ter interrompido a série A Música Brasileira Deste Século Por Seus Autores e Intérpretes, uma coletânea lançada pelo SESC-SP com 100 CDs que é uma verdadeira jóia, que levei mais de um ano para recolher.

4. Quantas visitas o blog recebia por dia?
Antes da interrupção, o blog tinha quase 20 mil page-views diárias.

5. Você acredita que música baixada de graça, ajuda ou atrapalha a divulgação?
O interesse na música brasileira é maior atualmente porque uma série de artistas nacionais não tinha como divulgar seus trabalhos, uma vez que esse custo é bastante alto. A internet, enquanto instrumento de promoção, é um meio barato de divulgação (no caso do UQT é gratuito) e essa "democratização" acabou por criar espaço para o aparecimento de novos artistas e o ressurgimento de outros que viviam à margem da mídia. Álbuns e artistas praticamente desaparecidos e esquecidos estão ressurgindo. Há um público ansioso e carente e que vê no UQT apenas um meio de acesso à música brasileira e que parte pra outra rapidamente, caso surja um mecanismo mais rápido e garantido de atendê-lo. O que ele busca é satisfação, não quer prejudicar nem artista, nem gravadora. Por incrível que possa parecer, muitos só compram o cd depois de ouvi-lo. Sentem-se atraídos pelo apelo táctil do cd, por seu projeto gráfico, acesso à ficha técnica, às letras, etc. Não é muito diferente do livro ou do jornal. Pode-se ler de tudo na internet, mas gostoso mesmo é folhear as suas páginas de um jornal, de uma revista ou as folhas de um livro.

6. Algum artista já reclamou ou elogiou o seu trabalho? Como era o retorno deles?
A maioria dos artistas apóia a iniciativa. O blog adquiriu notoriedade entre artistas e produtores e, atualmente, uma parte do que é publicado é fornecido por eles próprios, em busca de divulgação. Existe a preocupação de manter em sigilo toda e qualquer fonte também por esse motivo. Embora deseje que seu trabalho tenha o máximo de divulgação possível, o artista teme a indisposição com a gravadora e é imprescindível esse sigilo. Por outro lado, há alguns que se sentem mais à vontade enviando somente o material fora de catálogo, não reeditado pelas gravadoras. A minoria se descabela e xinga o Fulano disso e daquilo e ameaça e exige a retirada dos álbuns, julgando estar sendo furtado. Dois casos apenas em três anos. Outros, uns cinco até agora, apesar de serem contra, são corteses, entendem o espírito, mas pedem a retirada do CD. Eu atendo a todos sem questionar.

7. Você conhece algum outro lugar fértil pros fãs de música grátis?
Freqüento vários blogs, porém destaco o Abracadabra LPs do Brasil, o Loronix, o The Bossa Blog, o Som Barato e o Poeira e Cantos quando o tema é música brasileira.

8. Por fim, você sempre escondeu sua identidade. Não pretende revelá-la?
Nunca. Atuo numa área que nada tem a ver com o que faço. Na medida em que me exponho, acabo expondo as pessoas que dependem de mim, que gostam de mim, me apóiam. Foi uma condição que me impus desde o início. Pouquíssimas são as pessoas que sabem quem é a figura por trás (ou à frente) do Fulano. Além disso, acredito que o foco é a música e os artistas que a criam e interpretam, eles é que precisam estar em evidência.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Homenagem a Mano Décio

Que Criança Esperança que nada. Domingo tem homenagem ao Mano Décio no Bar do Buiú, em Mauá. A rapaziada lá anda preparando essa homenagem há tempos. Será imperdível.

Mano Décio ponteia a viola (Waldemiro do Candomblé / Mano Décio)


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O batuque que veio da Céu

No post de ontem Alberto Riva falou da ótima Verônica Ferriani. Hoje eu vou falar da Céu. Pode até ser repetitivo duas recomendações, uma atrás da outra, mas é que não dá pra ficar sem comentar o novo disco dela.



Vagarosa (é esse o nome do disco) acabou de sair. É estrondosamente melhor do que o primeiro disco da Céu por um motivo: Céu consegue criar um estilo próprio, com influências do samba, rap, música eletrônica, psicodelia, tudo na medida certa. Antes que os sambófilos mais ortodoxos me xinguem, vai a faixa que abre o disco:

Sobre o amor e seu trabalho silencioso



Este sambinha nada mais é do que o prelúdio para a segunda canção, a ótima "Cangote", que não tem nada a ver com samba. Quer ouvir? Clique aqui. O segundo batuque da moça é "Vira Lata", composta por ela e com participação especial de Luiz Melodia. Vale a pena:

Vira Lata



Pra finalizar, uma faixa curiosa. "Rosa menina Rosa" carrega a temática do samba, tem um clima noturno, uma mistura de música eletrônica com rock. Aos curiosos, aí vai:

Rosa Menina Rosa

Quem não aguentar de vontade e quiser baixar o disco agora mesmo, pode visitar o Música da Boa

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Os doces campos de batalha de Verônica

O post de hoje é especial. Feito por Alberto Riva, jornalista italiano radicado no Rio de Janeiro há 5 anos e autor dos livros "Seguire i pappagalli fino alla fine", uma reportagem sobre o Rio de Janeiro, e "Note Necessarie", uma biografia do jazzista Enrico Rava. Divirtam-se:

Vinda de São Paulo, como tantas das melhores cantoras dos últimos tempos, Verônica Ferriani gosta do Rio. Gosta do samba raiz do Rio, mas leva consigo um prazer pelo risco e pela diversificação típicos de São Paulo. Por isso, as dez faixas do seu recém lançado primeiro disco, são uma surpresa contínua. A começar do "Um Sorriso nos Lábios", de Gonzaguinha, com aquele andamento meio groove sustentado pelo piano fender-rodhes.

Um Sorriso nos Lábios



A mistura é fina demais, porque além das etiquetas, aquela que sobe ao palco é uma cantora generosa da melhor tradição brasileira. Em primeiro lugar vem sua emoção, que cai no público como uma chuva. Depois, o swing natural e o gosto pelo canto em torno da melodia, como fosse um campo de batalha.

Eu amo você



Se existe um defeito que se encontra nos cantores e cantoras atuais (às vezes atraídos pelo pop-style) é aquele controle absoluto da situação, uma síndrome de pânico anti-adrenalina. Isso não se encontra na Ferriani, que ainda se entrega à musica, sempre como fosse a primeira vez.

Perder e Ganhar



Os cariocas (essa quinta, dia 20, no Centro Cultural Carioca, com canjas de Moyseis Marques e Aurea Martins) e os paulistanos (no dia 22, Tom Jazz) não podem perder o encontro (ou reencontro) com essa grande cantora brasileira.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Pérola fina

Este vídeo foi gravado durante o programa Ensaio. Como convidados, os sambistas baianos Batatinha, Riachão e Ederaldo Gentil, que interpreta uma de suas mais belas músicas, "O ouro e a madeira".



O Ouro e a Madeira (Ederaldo Gentil)

Não queria ser o mar
me bastava a fonte
Muito menos ser a rosa
simplesmente o espinho
Não queria ser o caminho
porém o atalho
Muito menos ser a chuva
apenas o orvalho

Não queria ser o dia
só a alvorada
Muito menos ser o campo
me bastava o grão
Não queria ser a vida
porém o momento
Muito menos ser o concerto
apenas a canção

O ouro afunda no mar
Madeira fica por cima
Ostra nasce do lodo
Gerando pérolas finas

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Um Que Tenha à beira do abismo

Os consumidores vorazes de música gratuita já devem saber da bomba que caiu sobre nossas cabeças. O blog Um Que Tenha, um dos maiores acervos de música brasileira de qualidade da internet, sairá do ar.

Depois de três anos e meio disponibilizando links para download, o blog administrado por Fulano Sicrano recebeu uma notificação do Google/Blogger. Resumindo: Ou ele tira as postagens do ar ou o blog é que vai pro saco. A escolha? Não baixar a cabeça. "Enquanto o blog respirar, vou colocar os links que tenho à mão, deixando esse aviso no alto da página, não estranhem", disse na sua despedida.

Em tempo, o twitter do Fulano, onde certamente terão mais notícias: http://twitter.com/fulanosicrano

Atualização: Veja a entrevista com o Fulano, em que ele garante: "O Um que Tenha vai voltar"

Disco da semana: 1980 - Geraldo Filme

O trecho de texto para o disco desta semana vem diretamente do site do jornalista Luiz Américo.


"(...) Sobre Geraldo Filme é importante lembrar que mesmo não sendo uma figura largamente conhecida nacionalmente seu talento de compositor o eleva a um dos patamares mais altos da hierarquia do samba brasileiro. Nascido na cidade paulista de São João da Boa Vista em 1928, ao cinco anos mudou-se com a família para a capital e como a maioria de nossa população era um garoto e jovem pobre que tirava seu sustento como entregador de marmitas, mas se a pobreza era um problema que tinha de enfrentar, esta tinha sua compensação com a capacidade de criar belos sambas e tornar-se ainda muito cedo um conhecido e respeitado compositor.

Foi um dos fundadores do cordão carnavalesco Paulistano da Glória, mas tarde transformado em escola de samba e iniciou sua carreira trabalhando nas escolas de samba Coloração do Brás e Vai Vai, sendo que nesta última chegou a diretor de carnaval e campeão com o samba enredo de sua autoria Solano, vento forte africano, composto em homenagem ao folclorista Solano Trindade, é também autor dos sambas "Vai no Bexiga pra ver", que se tornou uma espécie de hino da Vai Vai e "Silêncio no Bexiga", feito em homenagem a Pato N’água, famoso diretor de bateria da escola".

(...)Em 1980, aos 52 anos, Geraldo Filme gravou seu único disco na gravadora Eldorado interptetando seus maiores sucessos, trata-se de um trabalho que revela a mais pura raiz do samba urbano paulista onde se percebe o seu enorme talento de compositor, poeta e intérprete. Decididamente é um disco fundamental porque demonstra o espírito negro da maior de nossas cidades através de um corolário de imagens que definem todo o engajamento do artista pela luta da afirmação de seus irmãos de cor. O repertório é formado por pérolas como, A morte de Chico Preto, Mulher de malandro, Eu vou pra lá, Garoto de pobre, História da capoeira, São Paulo menino grande, Vai cuidar de sua vida, Vamos balançar, além das citadas Vai no Bexiga pra ver e Silencio no Bexiga, mais Tristeza do sambista, a única de sua não autoria, composta por Osvaldo Arouche e Walter Pinho.

Finalizando o disco temos Reencarnação em que ele com todo seu talento de poeta resume de modo brilhante a sua filosofia de vida:

Eu quero ser sambista
Ao renascer de novo
Pra cantar a alegria
E desventura de meu povo
Quero ter muitos amigos
Como tenho atualmente
Cantar samba na avenida
E nascer negro novamente.


MÚSICAS:
01) Vai no Bexiga pra ver (Geraldo Filme)
02) A morte de Chico Preto (Geraldo Filme)
03) Mulher de malandro (Geraldo Filme)
04) Tristeza do sambista (Oswaldo Arouche/Walter Pinho)
05) Eu vou pra lá (Geraldo Filme)
06) Garoto de pobre (Geraldo Filme)
07) Silencio no Bexiga (Geraldo Filme)
08) História da capoeira (Geraldo Filme)
09) São Paulo menino grande (Geraldo Filme)
10) Vai cuidar de sua vida (Geraldo Filme)
11) Vamos balançar (Geraldo Filme)
12) Reencarnação (Geraldo Filme)


Baixe esse disco no Um Que Tenha.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Aos canalhas de ontem e de hoje

Como os últimos posts andam recheados de texto, vou soltar duas pedradas dos anos 30, mas que não poderiam ser mais atuais. Feitas pelo gênio Noel Rosa, "Sem Tostão" e "Onde está a honestidade" caem muito bem em época de atos secretos e crise financeira. Os intérpretes são Cristina Buarque e Henrique Cazes e o disco é "Sem Tostão...A Crise não é boato", de 1991.



Onde anda a honestidade?
Você tem palacete reluzente
Tem jóias e criados à vontade
Sem ter nenhuma herança ou parente
Só anda de automóvel na cidade...

E o povo já pergunta com maldade:
Onde está a honestidade?
Onde está a honestidade?

O seu dinheiro nasce de repente
E embora não se saiba se é verdade
Você acha nas ruas diariamente
Anéis, dinheiro e felicidade...
...
Vassoura dos salões da sociedade
Que varre o que encontrar em sua frente
Promove festivais de caridade
Em nome de qualquer defunto ausente...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sobre Dorival Caymmi

Olha aí rapaziada, dica quentíssima. Amanhã (14/08) e nos duas sextas seguintes (21 e 28/08) acontecerá um curso, grátis, sobre Dorival Caymmi, ministrado pelo jornalista André Domingues (Batuqueiros da Paulicéia). Segue abaixo o convite e as demais informações:

Dorival Caymmi – Em busca da brasilidade
Poucos autores marcaram tanto a música brasileira como o cantor, compositor e violonista Dorival Caymmi, falecido em agosto do ano passado. Sua intervenção na MPB será o tema desse curso, que irá explorar o universo do baiano para muito além daquela imagem folclorizada pela mídia, aprofundando-se em suas relações com a intelectualidade modernista, a política getulista e a industria fonográfica da época.

O presente evento, realizado em 3 encontros semanais, é fruto do livro Caymmi Sem Folclore, premiado pelo ProAC - 2008, da Secretaria de Estado da Cultura do Estado de São Paulo, que será lançado ao final das atividades.

Dias 14, 21 e 28 de agosto, às 19:30
Centro Cultural e de Estudos Superiores Aúthos Pagano
Rua Tomé de Souza, 997 - City Lapa - São Paulo
Tel: (11) 3836-4316

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Samba no teatro infantil

Uma dica para os pais e mães de plantão:

Música ao vivo, marionetes, samba e muita diversão. Estou falando do musical infantil “Só Sonho Samba”, que está em cartaz no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Feito pela renomada Companhia Bonecos Urbanos, o espetáculo resgata histórias do samba paulista em um clima bastante suave.

Na história, o boneco Ramon, personagem principal, é um compositor que faz peripécias para realizar o sonho de viver de música, sua grande paixão. Para alcançar este sonho, o protagonista recebe ajuda de outros sambistas que acabam por mostrar a ele as verdadeiras raízes do samba. Durante a peça, são interpretadas canções compostas pela própria Cia.

Ainda não se convenceu? Confira alguns trechos de "Só Sonho Samba":






Só Sonho Samba
02/08 a 27/09(domingos e feriado, às 15h)
Sesc Pinheiros
Duração: 50 min
Recomendável para maiores de 04 anos.
R$ 8,00 (inteira); R$ 4,00 (usuário matriculado, a partir de 60 anos e estudantes com carteirinha); R$ 2,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado e dependentes);

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Candeia: Samba e Resistência

O site do Centro Cultural Antônio Carlos Carvalho publicou um artigo bem interessante sobre Candeia. Nele dá para entender um pouco mais da importância deste artista, não só para o samba, mas para o Brasil. Um grande exemplo!

Candeia foi um dos principais expoentes de uma geração de sambistas da Portela que surge na década de 1950. Filho de Seu Candeia, portelense antigo com livre trânsito por todos os cantos de Oswaldo Cruz, Candeia (o filho) conviveu com o samba desde criança. Ele lembrava, em seus depoimentos, da tristeza que sentia em seus aniversários. Enquanto nas festas das outras crianças havia bolo e sorvete, na dele tinha era feijoada, caipirinha, partido alto, e a grande maioria dos convidados era gente adulta, amiga de seu pai. A frustração só não era maior porque quando batia 10 horas da noite e ia para cama, Candeia ficava acordado tentando entender tudo aquilo que era cantado pelos mestres portelenses e convidados.

Com essa bagagem musical, ingressou cedo na Portela, à revelia do pai. Aos 14 anos participou de seu primeiro desfile, fantasiado de mecânico. Três anos depois, em 1953, compôs com Altair Prego o samba-enredo que concorreu com o samba de Manacéia, principal compositor de samba-enredo da Portela. Candeia ganhou e seu samba levou a Portela ao campeonato daquele ano com nota dez em todos os quesitos. Ainda compôs mais cinco sambas-enredos vitoriosos na Portela.

Além de sua vida na escola de samba, Candeia começou a trabalhar na polícia. Policial durão, era severo até com os próprios sambistas e amigos. Contavam que uma prostituta, após ter sido esbofeteada por ele, o rogou uma praga. No dia seguinte, Candeia foi baleado, por causa de uma discussão de madrugada no trânsito, e nunca mais andou. Essa fatalidade, ocorrida em dezembro de 1965, mudou definitivamente seu comportamento e o rumo de sua vida.

Depois de um longo período tentando se recuperar física e psicologicamente do acidente, Candeia reinicia sua obra, na cadeira de rodas que o acompanhou até sua morte. É notável o quanto se ampliou o horizonte de seus objetivos no samba e de sua música.

Na década de 1970, o movimento de resistência à descaracterização das escolas de samba no Rio de Janeiro encontrou em Antonio Candeia Filho seu principal líder. Juntamente com Paulinho da Viola, Carlos Monte, André Motta Lima e Cláudio Pinheiro, formulou um longo documento endereçado ao presidente da Portela, Carlos Teixeira Martins, em março de 1975, em que fazia diversas críticas às mudanças ocorridas na Portela e propondo uma série de mudanças, que iniciava da seguinte forma:

“Escola de samba é Povo em sua manifestação mais autêntica! Quando se submete às influências externas, a escola deixa de representar a cultura do nosso povo. (...) Durante a década de 60, o que se viu foi a passagem de pessoas de fora, sem identificação com o samba, para dentro das escolas. O sambista, a princípio, entendeu isso como uma vitória do samba, antes desprezado e até perseguido. O sambista não notou que essas pessoas não estavam na escola para prestigiar o samba. E aí as escolas de samba começaram a mudar. Dentro da escola, o sambista passou a fazer tudo para agradar essas pessoas que chegavam. Com o tempo, o sambista acabou fazendo a mesma coisa com o desfile. (...) Consideramos que este é o momento de fazer a única evolução possível, com o pensamento voltado para a própria escola. Ou seja, corrigindo o que vem atrapalhando os desfiles da Portela, que tem confundido simples modificações com evolução. É preciso ficar claro que nem tudo que vemos pela primeira vez é novo. (...)”

E o documento continuava, discorrendo ponto a ponto sobre as mudanças necessárias para o prosseguimento da escola de samba como manifestação genuinamente popular. As propostas não foram sequer discutidas dentro da Portela.

A insatisfação dos sambistas era evidente. Mas o que fazer? Faltava uma proposta que pudesse dar forma a uma atitude coletiva e representasse os reais interesses dos sambistas e a retomada da linha evolutiva que vinha sendo traçada nas escolas antes da descaracterização. Mas essa proposta não tardou a chegar, e surgida dentro do próprio meio do samba.

Após ver ignoradas as críticas feitas ao funcionamento de sua Portela, Candeia passou a nutrir a idéia de fundar uma nova escola. Dizia ele ao jornalista seu amigo Juarez Barroso: “Uma escola em que tudo fosse feito pelo povo. As costureiras do lugar fazendo as fantasias. Não ia ter esse negócio de figurinista de fora não. As alegorias também, tudo de lá, escolhido lá. (...) Ia ser uma escola muito bonita. Sei lá, é uma idéia”.

“Estou chegando...
Venho com fé. Respeito mitos e tradições. Trago um canto negro. Busco a liberdade. Não admito moldes.
As forças contrárias são muitas. Não faz mal... Meus pés estão no chão. Tenho certeza da vitória.
Minhas portas estão abertas. Entre com cuidado. Aqui, todos podem colaborar. Ninguém pode imperar.
Teorias, deixo de lado. Dou vazão à riqueza de um mundo ideal. O amor é meu princípio. A imaginação é minha bandeira.
Não sou radical. Pretendo, apenas, salvaguardar o que resta de uma cultura. Gritarei bem alto explicando um sistema que cala vozes importantes e permite que outras totalmente alheias falem quando bem entendem. Sou franco atirador. Não almejo glórias. Faço questão de não virar academia. Tampouco palácio. Não atribua a meu nome o desgastado sufixo –ão. Nada de forjadas e mal feitas especulações literárias. Deixo os complexos temas à observação dos verdadeiros intelectuais. Eu sou povo. Basta de complicações. Extraio o belo das coisas simples que me seduzem.
Quero sair pelas ruas dos subúrbios, com minhas baianas rendadas sambando sem parar. Com minha comissão de frente digna de respeito. Intimamente ligado às minhas origens.
Artistas plásticos, figurinistas, coreógrafos, departamentos culturais, profissionais: não me incomodem, por favor.
Sintetizo um mundo mágico.
Estou chegando...”

(Manifesto escrito por Candeia)


Candeia foi reunindo os sambistas para a sua idéia. Com sua capacidade de liderança, conseguiu formar as bases iniciais para fundar a nova escola. No dia 8 de dezembro de 1975 foi inaugurado o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo. Suas cores: branco, dourado e lilás. Esse primeiro encontro dos sambistas se realizou num terreno baldio da Rua Pinhará, em Rocha Miranda, sede que logo foi substituída.

Já em janeiro de 1976 a escola se mudou para Coelho Neto, onde fez sua sede no Esporte Clube Vega, que estava em ruínas e fizera um acordo com a diretoria da Quilombo possibilitando a utilização do clube pelos “quilombolas”. Uma grande festa foi feita para inaugurar a nova sede. Lá estavam sambistas para se incorporar à Quilombo ou somente prestar seu apoio. A satisfação era geral pela concretização do espaço onde o sambista pudesse desenvolver livremente sua arte. Chegavam para se juntar a Candeia gente como Elton Medeiros, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Nei Lopes, Wilson Moreira, Guilherme de Brito, Monarco, Casquinha e outros integrantes da Velha Guarda da Portela, Mauro Duarte, Clementina de Jesus, dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Clara Nunes, Nelson Sargento e outros.

Juarez Barroso, jornalista do Jornal do Brasil na época, bastante ligado à música popular e amigo de Candeia também aderiu à Quilombo. Na inauguração da nova escola, assim iniciava uma matéria de página inteira chamada Quilombo, nasce uma nova escola:

“As escolas de samba agigantaram-se, deformaram-se à medida que se transformaram (ou pretenderam se transformar) em shows para turistas. O tema é polêmico, tratado como sempre em tom passional. Deformação ou evolução? Seria possível o retorno à pureza, ao comunitarismo dos anos 30, quando essas escolas se consolidaram? O sambista Candeia, liderando outros sambistas descontentes com a situação, prefere responder de modo objetivo. E responde com a fundação de uma nova escola de samba, Quilombos, escola que terá sede em Rocha Miranda e irá para a Avenida mostrando como era e como deve ser o samba.”

Como explicava Candeia, mais do que uma escola de samba, a Quilombo seria uma escola de sambistas, que pudesse servir de alerta às outras, assim como de referência. E nenhum de seus integrantes precisava abandonar as escolas a que pertenciam, a Quilombo não exigia exclusividade. Nei Lopes, já em 1980 no programa da TVE Tudo é música especial sobre escolas de samba – apresentado por José Ramos Tinhorão –, sintetizava: “A maioria das pessoas que estão aqui, como eu, o Martinho [da Vila], o Wilson [Moreira], a gente não deixou nossa escola de origem. A gente está pensando inclusive em levar a filosofia do Quilombo para nossas escolas de origem”.

Outro fato importante era o de que a Quilombo não era somente uma escola de samba. Candeia não cansava de explicar: “É Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba. Quilombo é jongo, é capoeira, é lundu, é maracatu”. A Quilombo se propunha a resgatar a cultura negra, a cultura dos morros e subúrbios do Rio de Janeiro, a cultura trazida, transformada e recriada pelos negros do Brasil, antepassados daqueles sambistas que ali se reuniam. Havia vários grupos de danças de origem negra (jongo, maracatu, maculelê, caxambu, afoxé, samba de lenço, samba de caboclo, lundu e capoeira). Chamaram para o grupo de jongo a vovó Teresa de 113 anos, mãe de Mestre Fuleiro, que morava no Morro da Serrinha, em Madureira. A sede da Quilombo era utilizada também para encontros culturais, como as conferências sobre a contribuição negra na formação cultural do Brasil, que chegava a reunir duzentas pessoas, além de atividades que buscavam integrar ainda mais a comunidade e a escola.

Numa matéria publicada na Última Hora/Revista, Candeia e Elton Medeiros definiam os objetivos da escola:

“1. Desenvolver um centro de pesquisas de arte negra, enfatizando sua contribuição à formação da cultura brasileira.

2. Lutar pela preservação das tradições fundamentais sem as quais não se pode desenvolver qualquer atividade criativa popular.

3. Afastar elementos inescrupulosos que, em nome do desenvolvimento intelectual, apropriam-se de heranças alheias, deturpando a pura expressão das escolas de samba e as transformando em rentáveis peças folclóricas.

4. Atrair os verdadeiros representantes e estudiosos da cultura brasileira, destacando a importância do elemento negro no seu contexto.

5. Organizar uma escola de samba onde seus compositores, ainda não corrompidos ‘pela evolução’ imposta pelo sistema, possam cantar seus sambas, sem prévias imposições. Uma escola que sirva de teto a todos os sambistas, negros e brancos, irmanados em defesa do autêntico ritmo brasileiro”.

Em 1976, a escola ainda não tinha estrutura para desfilar. Mas um animado bloco sem fantasia pôde ser visto no carnaval pelas ruas do subúrbio de Coelho Neto e Acari. Já em 1977, mesmo com muitas dificuldades, a escola desfilou nas ruas do subúrbio e fechou o carnaval na Presidente Vargas no desfile das campeãs. Sua presença foi a grande novidade do carnaval e um grande sucesso segundo a imprensa. A Quilombo não se preocupava em filiar-se a entidades nem em participar de desfiles oficiais. Também não disputava campeonato. Aceitava o convite da Riotur para se apresentar na Avenida, mas não deixava de desfilar também nas ruas do subúrbio. E foi assim que em 1978 e 1979, com os enredos Ao povo em forma de arte e Noventa anos de Abolição, respectivamente, ambos os sambas compostos pela dupla Wilson Moreira e Nei Lopes, a Quilombo mais uma vez apresentou um desfile da maior qualidade e comprovava que as tais “inovações” no samba não eram necessárias para se fazer um belo carnaval. Depois do carnaval de 1978, o dinheiro que sobrou do desfile, sem ostentação, foi utilizado para comprar uniformes escolares para as crianças pobres do bairro onde ficava a sede da escola.

Em 16 de novembro de 1978, Candeia morria no Hospital Cardoso Fontes, por causa de crise renal-hepática. Sua morte foi um baque na luta intensa em defesa das raízes das escolas e do samba. Houve um grande vazio na comunidade “quilombola” pois Candeia era o principal líder e organizador. O contrato com o Esporte Clube Vega foi rompido e a escola ficou sem sede. Por iniciativa de várias pessoas a sede pode voltar a existir na Fazenda Botafogo, em Acari. A escola continuou existindo na década de 80, embora com menor destaque.

O legado de Candeia permanece cada vez mais vivo, na lembrança das ruas, nas rodas de samba, nas regravações de suas músicas e em espetáculos como “É samba na veia, é Candeia”.

Para ouvir um pouco de sua obra genial, sugerimos começar por Axé! Gente Amiga do Samba (1978), disco em que Candeia reúne sambistas da Velha Guarda da Portela, além de Clementina de Jesus e Dona Ivone Lara para fazer uma das obras-primas do samba brasileiro. Outro registro importante é o documentário Partido Alto, de Leon Hirzman, curta-metragem finalizado em 1982, com cenas raras das rodas de samba comandadas por Candeia em sua cadeira de rodas.

Recentemente, o grupo paulista Terreiro Grande se uniu a Cristina Buarque para uma emocionante homenagem em forma de shows (já realizados em São Paulo e no Rio de Janeiro), trazendo a obra do mestre.

Outra importante homenagem a Candeia foi o premiado espetáculo É samba na veia, é Candeia. O musical, encenado inicialmente no CCBB, onde venceu concurso de dramaturgia Seleção Brasil em Cena 2007 concorrendo com cerca de 300 trabalhos inscritos, vem colecionando prêmios, reconhecimento e carinho do público (escolhido o melhor espetáculo de 2008 pelos leitores do JB). Trouxe a vida e as principais composições de Candeia também em memoráveis apresentações no Teatro Casa Grande e Sesc Tijuca (no Rio de Janeiro).

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Disco da semana: 1976 - Monarco


Trata-se do primeiro registro solo do portelense Monarco. E como não podia deixar de ser, além dos sambas do próprio (que são maioria), as outras músicas são todas do pessoal de Oswaldo Cruz. Inclusive "Desengano" que é de autoria de Aniceto José de Andrade, que não é o Aniceto do Império. O elenco da cozinha é de primeira, se liga: Dino 7 cordas, Doutor, Elizeu, Luna, Mestre Marçal e Gordinho.

Do disco, destaco os sambas "Mangueira e suas glórias" e "Duelo fatal", ambos assinados somente por Monarco. No primeiro samba, uma bela homenagem aos bambas da agremiação verde e rosa. No segundo, uma trágica história com uma letra que me remete aos sambas de Noel Rosa.


Vale dizer que a capa do disco é desenhada pelo grande Lan.

Músicas:
1 - O quitandeiro (Monarco - Paulo da Portela)
2 - Ingratidão (José Mauro - Monarco)
3 - Desengano (Aniceto)
4 - Amor verdadeiro (Monarco)
5 - Tudo menos amor (Walter Rosa - Monarco)
6 - Mangueira e suas glórias (Monarco)
7 - Duelo fatal (Monarco)
8 - Amor fiel (Monarco)
9 - Glórias do samba (Monarco)
10 - Conselho (Manacéa - Monarco)
11 - Lenço (Francisco Santana - Monarco)
12 - Enganadora (Alcides Dias Lopes - Monarco)



Baixe esse disco no Prato e Faca.

Brigitte Bardot canta Simonal

Enquanto o Disco da Semana não vem, vou soltando meu post do dia.

Que Wilson Simonal tenha feito sucesso na gringa não é novidade. O cara já tocou com Stevie Wonder e até com Sarah Vaughan. Agora ter uma música que ficou consagrada na sua voz cantada pela musa francesa de todos os tempos, aí é pra colocar no currículo. Trata-se da belíssima Brigitte Bardot cantando "Tu veux ou tu veux pas", algo como "Você quer ou não quer". Já sabe de qual sucesso do grande Simonal é a versão? Veja o vídeo para conferir:



Vale também a versão com Zanini:


Para quem ainda anda sem entender qual é a música de origem (o que eu acredito que seja quase impossível), aí vai a resposta. E para quem já sacou, coloca também para ouvir alto, porque esse som é bom demais!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Jackson Racional

Ao falar em Cultura Racional, o primeiro nome que vem na cabeça da gente é o do síndico Tim Maia. Isso é claro se você não for um dos seguidores dos ensinamentos de "Manoeeeeeeeeel". Além de Tim, vários outros artistas foram atraídos pela filosofia do racional superior. Entre eles estavam: Orlando Silva, Emilinha Borba, Procópio Ferreira e Jackson do Pandeiro.

Jackson foi apresentado à cultura pelo compositor Sebastião Andrade. Ao conhecer o templo, gostou tanto, que ficou por ali de 1973 a 1978. O Rei do Ritmo chegou até a gravar algumas músicas com as temáticas propostas pelo livro base da cultura racional, o "Universo em desencanto". No disco "Alegria minha gente" (1978), Jackson aparece na capa com um adereço próprio dos racionais.

Uma curiosidade: Manoel Jacinto Coelho, o o racional superior, tocava violão de 7 e frequentou a casa de Tia Ciata. As informações acima e outras mais estão no livro "Jackson do Pandeiro - O Rei do Ritmo", de Fernando Moura e Antônio Vicente.

Alegria minha gente (João Lemos)


A luz do saber (João Lemos)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

As belas versões de Fernanda

Uma das coisas que deveriam ser mais respeitadas pelo meio musical em geral é o ato de se fazer uma versão. Vira e mexe aparecem releituras de clássicos da música. Para desgosto geral, a grande maioiria destrói todo o encadeamento harmônico e melódico de uma obra, e o que era para ser uma homenagem acaba se tornando uma baita prova de falta de respeito.

É o que acontece em todo "Fama" ou "Ídolos" da vida. Fulano quer dar sua cara para a música e em alguns segundos estraga uma obra que, não raras as vezes, demorou meses para sair do forno. Essa sensação passou longe quando ouvi o mais novo CD da talentosa Fernanda Takai, chamado "Luz Negra".

Gravado ao vivo, mas com qualidade de estúdio, o disco conseguiu a façanha de ter um repertório de primeiríssima linha sem uma música inédita sequer. Entre as versões de muito bom gosto, destacarei quatro.

A primeira, que dá nome a obra, é de Nelson Cavaquinho e Irani Barros. O clima deprê do samba de Nelson ganha outra cara com a guitarra de John Ulhôa:


Em seguida, um dos maiores clássicos de Zé Kéti e Hortênsio Rocha, "Diz que fui por aí" também com uma guitarra muito bem encaixada:


Em seguida, "Kobune", a versão nipônica para "O Barquinho" de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli:


Para finalizar, um dos choros mais bonitos de Ernesto Nazaré, "Odeon". Aqui, ainda acompanha a letra feita por Vinícius de Moraes:


Ainda tem "Com açúcar, com afeto", do Chico Buarque; Insensatez, de Jobim e Vinícius, e "Sinhá Pureza", de Pinduca. Mas a grande verdade é que todas as faixas são excelentes e tornam o disco extremamente recomendável. Mais no site da Takai.

Mais no Vermute com Amendoim
Fernanda Takai já havia sido tema de post no Vermute.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Um choro de menino

Imaginem qual seria sua reação ao presenciar uma roda com Pixinguinha, João da Bahiana e Donga. Somado a tudo isso, a emoção e o deslumbre natural do primeiro contato com o choro. É disso que trata a simpática animação "Alma Carioca - Um choro de menino" (2002), de Willian Côgo. Confira:

Um minuto de silêncio por Nadinho

Silêncio. Só o surdo bate, marcando o luto. O sambista e ator Aguinaldo Caldeira, o Nadinho da Ilha morreu na última terça-feira. Aos 75, Nadinho não resistiu às complicações de um câncer abdominal e de diabetes.

Nadinho começou cedo na vida artísitica, com 12 anos. Nos anos 40, sua plataforma de lançamento foi o rádio. No decorrer da vida, também atuou em programas humorísticos da TV Globo, como “A festa é nossa” e “Tem criança no samba”. Já na extinta rede Manchete, ele integrouo elenco do programa “Cabaré do Barata”.

Nadinho também atuou no teatro, quando participou da primeira montagem da “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque. Tinha 39 discos na carreira. Os dois mais recentes são de 1999 e 2005 e homenageiam o sambista Geraldo Pereira, seu padrinho no samba.

Confira sua participação no programa Andante:





segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sobre quatro discos

Hoje publico quatro pequenas resenhas feitas por mim para o Guia da Folha de discos, livros e filmes de 31 de julho de 2009.

Portela Passado de Glória – Velha Guarda da Portela
Em 1970, Paulinho da Viola deu dois presentes à Portela e à música brasileira. Um deles foi o samba “Foi um rio que passou em minha vida”. O outro, o histórico disco “Portela Passado de Glória”, uma coletânea de 14 sambas inéditos, que consagrou a fundação da Velha Guarda. Interpretado em sua maioria pelos próprios compositores, o repertório não tem um deslize sequer. Entre as obras-primas, todas com melodias riquíssimas e letras sinceras, estão “Quantas Lágrimas”, de Manacéia; “Chega de Padecer”, de Mijinha; “Tristeza”, de Heitor dos Prazeres, e “Passado de Glória”, uma homenagem de Jair do Cavaquinho à história portelense. Depois de 39 anos, este precioso documento volta às prateleiras. E o tempo solidificou sua classificação: indispensável para quem aprecia música brasileira. - ÓTIMO


Noel, o Poeta da Vila (trilha)


A vida conturbada de Noel Rosa foi contada nos cinemas em “Noel, o Poeta da Vila” (2007), cuja trilha sonora original traz obras importantes do sambista e de seus contemporâneos. Com 29 faixas, uma quantidade de músicas que raramente se vê, o álbum traz sucessos como “Feitio de Oração” e “Com que Roupa?”, além de sambas de Almirante, Wilson Batista e Vadico. Nas vozes, um talentoso time com Wilson das Neves, Henrique Cazes e até Rafael Raposo, que interpretou Noel do filme. Mas algumas músicas ficaram ou muito curtas ou pela metade. Enquanto falta um trecho em “Pela Décima Vez”, “Gago Apaixonado” termina assim que começa a empolgar. Por isso, o disco é mais bem aproveitado pelos já iniciados na obra do Poeta da Vila. - BOM

Tô Fazendo a Minha Parte – Diogo Nogueira Ouvir Diogo Nogueira sem relembrar João Nogueira é quase impossível, o que está longe de ser um problema. O timbre semelhante ao do pai, associado a uma veia de intérprete, só faz provar a capacidade de Diogo, cujos atributos musicais são mostrados pela segunda vez em CD. “Tô fazendo a minha parte” é bem mais autoral do que o álbum de estreia, pois a maioria das 14 faixas é inédita. Porém, em meio a ótimos sambas, como “Sou Eu” – parceira de Chico Buarque e Ivan Lins –, há alguns clichês em levadas comercialmente mais aceitas, como em “Tô te querendo”. Entre altos e baixos, o disco presta um importante serviço: traça um perfil mais sólido do jovem sambista, que já na primeira faixa dá o recado: “Tô fazendo a minha parte, um dia eu chego lá”. - REGULAR


Novos Alvos – Ana Costa
Os Arcos da Lapa nos dão, mais uma vez, um presente. Trata-se da deliciosa voz de Ana Costa, que é muito bem explorada no álbum “Novos Alvos”. O segundo CD de sua carreira apresenta um repertório rico e variado. Nas 11 faixas, é possível ouvir diversas levadas de samba, como o de gafieira, o amaxixado, o de terreiro e até mesmo uma bossa. Entre as músicas que tornam o CD um ótimo lançamento estão “Coisas Simples”, de Elton Medeiros e Claudio Jorge, “Almas Gêmeas”, de Luiz Tatit e “Quer Amar Mamãe”, de Martinho da Vila. A única composição que parece não condizer com a proposta do disco é, curiosamente, a balada pop que o intitula. Mas o melhor é ver que Ana se adapta a todos os estilos. Com sua voz bem colocada e emocionada no ponto certo, ela é simples sem ser simplória. - ÓTIMO

Disco da semana: Chôro no Céu - Chôros Famosos, Solistas Inesquecíveis


Esse disco reúne grandes choros, interpretados por quem entendia do riscado. Entre os instrumentistas tem: Pixinguinha, Luperce Miranda, Jacob do Bandolim, Dilermando Reis, Copinha, Benedito Lacerda, etc. Do disco destaco o choro "André de Sapato Novo" (André Victor Correia). Nele solam ninguém menos que Pixinguinha e Benedito Lacerda. Confira:


Músicas:
1. Pedacinhos do Céu (Waldir Azevedo)
Intérprete(s): Waldir Azevedo
2. Lamento (Pixinguinha)
Intérprete(s): Pixinguinha
3. Jurity (Raul Silva)
Intérprete(s): Benedito Lacerda
4. Flor de Abacate (Álvaro Sandim “Santini”)
Intérprete(s): Jacob do Bandolim
5. Intrigas no Boteco do Padilha (Luis Americano)
Intérprete(s): Luis Americano
6. Odeon (Ernesto Nazareth)
Intérprete(s): Luperce Miranda
7. André de Sapato Novo (André Victor Correia)
Intérprete(s): Pixinguinha / Benedito Lacerda
8. Noites Cariocas (Jacob do Bandolim)
Intérprete(s): Jacob do Bandolim
9. Um a Zero (Pixinguinha / Benedito Lacerda)
Intérprete(s): Copinha
10. Brejeiro (Ernesto Nazareth)
Intérprete(s): Dilermando Reis
11. Bordões ao Luar (Tia Amélia)
Intérprete(s): Tia Amélia
12. Brasileirinho (Waldir Azevedo)
Intérprete(s): Waldir Azevedo

Baixe esse disco no Música & Cerveja.
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