O recém-saído-do-forno disco do Criolo, Nó na Orelha, é cousa fina. Com elementos de manguebeat, rap e samba, tem tudo para virar um sucesso. O único samba eu posto aqui, chama-se "Linha de Frente".
Linha de Frente
Quem quiser conhecer as outras músicas do álbum é só fazer o download autorizado no hotsite do disco.
Às vezes eu acho que sou um belo de um chato para ouvir e falar de coisas novas. O Murilo, então, nem se fala. Mas resolvi dar meus pitacos, da mais sincera maneira, sobre o grupo Pitanga em Pé de Amora, que conheci recentemente.
Trata-se de um talentoso quinteto de jovens com um trabalho 100% autoral, calcado no samba, frevo e canção. O grupo, de quebra, foi eleito pela revista Época São Paulo, em setembro de 2010 como a melhor banda nova. Ou seja, não dá para não experimentar:
Ouvida a música. Vamos às minhas considerações. 1. Desde que surgiram grupos com os nomes de Anjos do Inferno, Quatro Ases e um Coringa, Bando de Tangarás, Trio de Ouro, Galo Preto e uma dezena de outros que entraram para a história, batizar um conjunto é dificílimo. Parece que já pensaram em tudo e não cair nas obviedades de combinar "Vestido de Chita" com "Morena" ou outras expressões de alma djavaniânicas é tarefa hercúlea. Eles fizeram isso? Não sei, mas eu não gostei do nome.
2. O instrumental do grupo é muito bom. Dá pra ver que não é "vamos-se-juntar-para-fazer-um-sonzinho-lá-em-casa". Violão de seis (Diego Casas), de sete (Daniel Altman), clarinete, sax e flautas (Angelo Ursini), trompete (Gabriel Setubal) e percussão (Flora Poppovic) bem encaixadinhos. Ponto!
Olha como soa bem ao vivo:
3. A Flora Poppovic cantando é irretocável. Além de ter uma baita técnica e voz linda, a moça é bonita. Ponto!
4. Talvez seja a captação do áudio no vídeo (já que o cd que eu baixei no site do grupo veio corrompido), talvez seja o simples fato de que Diego Casas ainda não tenha a mesma desenvoltura com o microfone de Flora. O fato é que eu não entendi toda a letra do samba à Chico Buarque que o rapaz canta.
5. É Diego o principal letrista. E como ele não é o Noel Rosa, acerta em algumas, erra em outras. Eu não gosto das que tem muito "laiaraiê" e metáforas demais. Soa meio Los Hermanos demais? Talvez. Talvez seja só chatice minha mesmo.
Sabe aquelas pessoas que você ouve e fica pensando por que ainda não havia escutado essa música antes? Essa foi a sensação que eu tive quando ouvi Marilia Duarte cantar.
Isso porque ela ultrapassa a característica de ter uma bela voz. Afinal de contas, não adianta nada ter uma voz bonita quando não se sabe usá-la. E Marilia sabe bem. É ela começar a cantar para que o espaço seja completamente preenchido. Mas chega de papo. Dá uma escutada nesse som para você ver que eu não estou falando bobagem:
Malabarista
Outra característica notável quando se ouve duas ou três músicas dela é sua habilidade de composição. Ouça mais duas pérolas dela:
Mandinga
Carrossel no Breu
A novidade boa é que em fevereiro Marilia irá lançar seu primeiro trabalho e nós estamos ansiosos pelo que virá. Por enquanto, que tal uma visita no myspace da moça?
Posto hoje aqui um samba que me chegou por minha tia. Composto por Antonio Gomes, morador da aprazível Zona Norte de São Paulo, e interpretado por Paulo Neto. Eu gostei. Ouçam e digam o que acham.
Samba da dor (Antonio Gomes)
A tristeza dói Dói a felicidade O amor dói Também dói a solidão É dor e fere É dor e cura A dor que mora no coração
Não tem consolo Não tem idade Na noite escura De uma paixão É no compasso Da saudade Que a tristeza dói Também dói a felicidade
No teu olhar a liberdade Nesse desejo, minha prisão Não tem mistério, na verdade Na tristeza que dói Também dói a felicidade
Esta é a primeira vez que escrevo sobre aqui um português. E por qual razão isso acontece só agora? Porque António Zambujo (indicado pelo amigo e colaborador do Vermute, Alberto Riva) consegue combinar a beleza profunda dos cantores de fado com elementos da canção brasileira.
Cantor de fado dos bons, Zambujo lançou recentemente seu terceiro disco, chamado "Outro Sentido". Com participações de Ivan Lins, na faixa "Bilhete", e Roberta Sá e o excelente Trio Madeira Brasil em "Fado Partido", o disco é essencial para os admiradores da boa canção.
Nada melhor que o interesse em comum entre pessoas para fazer nascer um projeto. E se o interesse em comum for música, nada mais motivador para nascer uma mistura fina. Finíssima no caso do grupo Especiarias do Som no qual os integrantes, além do mesmo interesse, ainda eram da mesma faculdade e todos músicos muito competentes.
Ricardo Pesce, pianista e acordeonista foi também o idealizador do grupo: “Eu queria experimentar outras sonoridades”, conta ele sobre o início do trabalho em 2008. A voz da cantora Lua Reis e o piano de Pesce se juntaram com o violão e a guitarra de Tiago Saul, o baixo de Léo Versolato e a bateria de Cristiano Santiago. Pronto, estavam todos os ingredientes presentes.
A mistura ficou saborosa. O grupo se preocupou em resgatar sambas já esquecidos, canções de compositores emblemáticos da boa música brasileira – Cartola, Moacir Santos, Wilson Batista – e a produção vigorosa de talentos emergentes como Fábio Barros e Léo Bianchinni.
O interessante é que conseguiram chegar a uma sonoridade bem original onde características bem marcantes da música brasileira da época de Ouro, como letras bem humoradas e velozes aparecem encorpadas com a sonoridade e rítmica do tango argentino, muitíssimo bem exploradas nos arranjos de Ricardo Pesce e Tiago Saul. Um salve a eles dois!
Vale dizer que Lua utiliza com muito conhecimento seu aparelho vocal, dando um toque de pimentinha na mistura. Não só pela interpretação das músicas; na sua maneira despretensiosa percebe-se uma veia cômica, com uma pitada de personalismo de quem almeja ser marcante.
No último dia 12 O Especiarias do Som e a cantora Lua se apresentaram no Café- Piu-Piu. Nesse show apresentaram músicas que passaram também por outros sotaques: México, França, Cabo Verde, Argentina e Cuba.
Para aqueles que adoram peneirar grupos novos, vale a pena visitar o espaço da banda e entrar na torcida por um CD.
Quando começou no samba, Rabicho era apenas José Luiz da Silva. Tinha 16 anos quando estreou tocando agogô na rua, no Bloco Bafo de Boi. Por ser o mais novo e menor integrante, um dos últimos ritmistas da bateria, Zé se tornou Rabicho.
Desde então, este bamba de Mogi das Cruzes não largou a batucada, ainda que sua timidez o impedisse de mostrar seus preciosos versos. Demorou mais 10 anos para que ele cantasse um samba próprio no Bloco Carnavalesco Bagaço da Vila.
As coisas andaram devagar para Rabicho, que só 26 anos depois de defender um samba próprio, conseguiu lançar um CD. Chamado "Levando um samba", o álbum é recheado de ótimas parcerias, como "O Grande Amor", "É bom viver" e "Branquinha" que podem ser escutadas aqui.
Para conhecer melhor este bamba, basta visitar o site ou o myspace dele.
Por algum lapso eu ainda não havia dito nada sobre o novo disco de Moyseis Marques, que é altamente recomendável. Vai aí um texto que fiz para a Revista SEXY de julho.
Moyseis Marques se chama Moyseis mesmo. Embora a escrita não seja óbvia, a variação de um dos nomes bíblicos mais famosos, ou uma “gracinha suburbana pós-moderna” – como diz ele –, lhe rendeu unicidade. Basta digitar seu primeiro nome no Google e é batata!
Entre os Girassóis
Filho de cariocas, Moyseis nasceu em Juiz de Fora, em Minas Gerais. De mineiro, porém, só tem o registro. Criado na Vila da Penha, no subúrbio do Rio de Janeiro, o sotaque derramado no microfone, como cantava em samba João Nogueira, é “carica de coração”. E foi no Leme, animado com a revitalização do forró, que Moyseis se uniu a um grupo de amigos e saiu tocando no ritmo de Gonzagão. “A gente era muito amador. Quando a moda passou, a banda se desfez”, conta.
Panos e Planos
“Na época, eu morava em Laranjeiras, mas fiquei duro e a vida me levou pra Lapa.” A boemia acolheu Moyseis e, em pouco tempo, sua voz já preenchia os arredores dos Arcos. Foram seis anos na noite até o estúdio. Em 2007, estreou com um álbum homônimo. Agora, Moyseis brilha no disco Fases do Coração. Joia rara.
A safra de mulheres no samba é cada vez maior e mais interessante. Parece a influência exclusiva de Elis Regina (que é uma intérprete espetacular, mas por muito tempo foi a única referência da nova geração) está dando espaço para rumos vocais menos dramáticos.
É o caso de Mariana Baltar que, de forma simples, canta lindamente bem. A primeira música que ouvi na sua voz foi "Pressentimento", de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho. O samba, que já é de chorar, ficou emocionante na voz desta carioca de Copacabana.
Seu primeiro disco, chamado "Uma Dama também quer se divertir", é uma mostra da capacidade de Mariana. Além de "Pressentimento", a bela canta uma versão para "Zumbi", famosa na voz de Jorge Ben; "Bala com Bala", de João Bosco; "Insensatez", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e "Fita Meus Olhos", do mestre Cartola. Apesar de ser pouco autoral, o disco é extremamente recomendável. Aliás, Mariana Baltar também!
Olha só ela cantando "As Pastorinhas", de Noel Rosa e Braguinha:
"Orquestra típica de samba". É assim que se define o Grupo Tio Samba, que se apresenta nesta terça-feira no Centro Cultural Carioca, o CCC. São 12 integrantes, dividindo o palco, o que lembra nomes já consagrados como a inimitável Orquestra Tabajara ou a Banda Glória.
E nesta terça, o mote do show mais do que vale a pena: Carmem Miranda. Comemorando os 100 de um ícone da Era de Ouro, nos anos 30, o Tio Samba apresenta novos arranjos para alguns clássicos da Pequena Notável. Os duetos, que em geral não aparecem em outras homenagens à cantora, desta vez prometem ganhar mais espaço. Fica a dica!
Quer constatar a qualidade do som? Ouça o MySpace do pessoal!
Ah, Tio Samba é: Carlos Mauro (voz & gaita), Simone Lial (voz), Gilson Santos (trompete), Whatson Cardozo (clarineta & sax alto), Marcio Contente (sax tenor), Fabiano Segalote (trombone & bombardino), Davi Nasa (tuba), Thiago Cunha (cavaquinho), Bernardo Dantas (violão de 7 cordas), Daniel Karin, Felipe Tauil e Marconi Bruno (percussão).
Definir o Grêmio Recreativo Kolombolo Diá Piratininga como um simples cordão carnavalesco é ignorar as outras atividades propostas. De fato o Kolombolo, que surgiu em 2002, tinha inicialmente a proposta de resgatar a atividade dos antigos cordões. Além disso, os fundadores Renato Dias e Max Frauendorf tinham o objetivo de fazer o carnaval na rua, com a única preoucupação de se divertir e brincar. Como manda a legislação de Momo. Veja o que diz Max Frauendorf:
"[...]Não esqueceremos jamais da essência sambista que é sonhar, mas não permitiremos que a nossa cultura seja medida pela régua do mercado, nem que a nossa comunidade tenha o seu esforço criativo e cultural comercializado em prol de uma minoria. Não viemos disputar nenhum concurso carnavalesco, viemos apenas para recolocar o ser humano, agente de sua cultura, sob o foco principal de nossos esforços sambísticos. [...]"
A coisa deu certo e cresceu. Hoje o Kolombolo, além de botar o Cordão na rua nos carnavais, ainda mantém outros diversos projetos paralelos e de grande importância, como registros fotográficos e audiovisuais, produção de discos de expoentes do samba paulista, oficinas culturais e rodas de samba etc.
Só teremos noção da importância do trabalho realizado pelo pessoal do Kolombolo daqui alguns anos, mas é fato que eles são um dos grande pólos de resistência das manifestações paulistas, e atacando em todas as frentes.
Mais uma boa nova e o Vermute decidiu inaugurar uma seção. "Novos Bambas" pretende mostrar o que de bom está sendo feito pela moçada aí fora. Atual sem escrachar e bonito sem apelar. Já apresentamos o grupo Seis Sextos e o Benzambado. A bola da vez é: Bula da Cumbuca.
Esse pessoal está sempre por aí nas rodas. Seja batucando, seja dançando. E de tanto se cruzarem resolveram formar um grupo para cantar sambas de todas as épocas, além de composições próprias. Aí Paulinha Sanches, Paulinho Timor, Marcelo Homero, Edu Batata, Cacá Sorriso e Luís “To Be” fizeram o Bula da Cumbuca.
No Myspace do pessoal é possível ouvir cinco belas composições próprias. O meu destaque vai para "Língua Afiada", de Edu Batata e "Não Bula na Cumbuca", feita por Paulinho Timor. Vale a pena a audição!
Pra quem ainda não se convenceu, fica um tira-gosto:
O blog "Prato e Faca" disponibilizou as músicas para Download. Confira!
, NovoVira e mexe pinta um pessoal novo fazendo samba dos bons com um quê de modernidade. Essa frase pode assustar aqueles que gostam do samba na sua manifestação mais pura, com cavaco, pandeiro, tamborim e violão.
Mas no caso do grupo Benzambado a modernidade está na medida certa. Os sete integrantes conseguiram fazer arranjos novos sem serem desrespeitosos com os grandes titãs do samba.
Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro que o diriam (se assim o pudessem!). No samba "Sem compromisso" feito pelos dois em 1944, o grupo colocou um baixão segurando a bola ao fundo, mas muito bem acompanhado por percussão, sopro e cavaquinho.
A outra que está no Myspace dos caras é Feitiço da Vila, composta por Noel Rosa em 1934. A bela linha harmoniosa da música casa muito bem com a voz de Roberta Zerbini. Dá vontade de ver ao vivo pra fazer a prova dos nove.
E a chance é neste sábado. O pessoal vai dar as caras no Bar Zé Presidente, (na Cardeal Arcoverde 1545) a partir das 23 horas. O repertório ainda promete composições de Chico, Cartola, Noel Rosa, Dorival Caymmi e Wilson Batista. Para entrar é preciso desembolsar 10 reais.
Para fazer jus aos integrantes. Benzambado é: Roberta Zerbini - voz Bruno Butenas - violão Bruno Takara - baixo Marcelão - sopros João Paulo - cavaquinho Marcelo Pianinho - percursão Rodrigo Quirino - percursão
Essa aqui não vai ser encontrada em qualquer lugar. É para quem gosta daqueles sambas azeitadinhos, bem ensaiados.
A idéia é conservar o choro e o samba em São Paulo e quem encabeça a tarefa é Marco Nalesso e Gustavo Angimahtz, do o grupo Seis Sextos, um octeto formado por paulistanos afinados e bom de ritmo. No dia 6, neste sábado, será realizada a primeira edição do projeto, batizado de "Projeto Benzadeus: Samba a fino trato".
O local escolhido foi o CCPC, na Rua da Consolação, 1901. A partir das 22 horas, a casa já estará oferecendo Red Label a oito reais, cerveja Skol de garrafa e latinhas. Nalesso, o Dj, será responsável por tocar samba à vontade.
Para os interessados, os ingressos estarão à venda na porta por 10 reais.
O amendoim, um aperitivo que estimula o apetite, aquece o paladar, abrindo as papilas para o sabor.
O vermute, uma bebida espirituosa, que lembra o vinho e, se misturado com uma boa cachaça resulta no traçado.
A mistura é motivo de papo de bar e deu samba em 1935. Foi composto em parceria de Noel Rosa com Heitor dos Prazeres. Aqui também é motivo de bom papo.
Murilo Mendes
Conheci o samba no início de 2005 e de lá pra cá minha admiração só cresceu. Não tenho a pretensão de ser um estudioso no assunto, prefiro ser apenas um amante do samba.
Não nasci ouvindo samba. Não toco cavaco ou cuíca. As batidas do tamborim entraram à tarde nos meus ouvidos, mas era tempo de samba. Ao final da noite, mais um sambista caía na roda. Sem ter medo da quarta-feira.