terça-feira, 31 de maio de 2011

Show: Nicolas Krassik e Cordestinos


Nicolas Krassik e Cordestinos no Circo voador- RJ
Nicolas Krassik (violino e rabeca), Marcos Moletta (rabecas), Guto Wirtti (Baixo), Chris Mourão (percussão) e Carlos Cesar (percussão).

Participações especiais:
Gilberto Gil, Sérgio Chiavazzoli, Carlos Malta, Yamandú Costa e Hamilton de Holanda.

Abertura da casa 21h
Show 22h30 (ATENÇÃO, O SHOW COMEÇA CEDO MESMO!)

50 reais / 25 meia (na hora)
40 reais / 20 meia (venda antecipada)
20 reais lista amiga -contato@superlativa.art.br (Valendo até às 23h no dia do show)

Cara que mamãe beijou vagabundo nenhum põe a mão

Por Barão do Pandeiro

Canto este samba desde criança. Aprendi o refrão em rodas de batucada no Rio, e depois descobri que havia uma segunda parte. Não sei quem compôs, nem se chegou a ser gravado. Músicos: Serginho Arruda (Violão, a esquerda), Camila (Cavaquinho), Sergião (Violão) e Jorge (Cavaquinho).

segunda-feira, 30 de maio de 2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O samba vem daí

Mas que beleza este samba que o Aldir Blanc e o Cláudio Jorge fizeram para o Salgueiro. Coisa fina mesmo!

Lua Sobre Sangue



Se eu falar no Salgueiro
É porque são muitas palavras que eu quis
Pois não basta um idioma inteiro
Pra dizer o que o Salgueiro diz
Imaginar o Salgueiro
Lua sobre o sangue de linda mulher
É preciso o Universo inteiro
Pra mostrar o que o Salgueiro é

Canto Gargalhada na voz do Anescar
Geraldo Babão e o Bala são de lá
Noel Rosa de Oliveira, Pindonga e Iraci, o samba vem daí

Quando eu deixar o Salgueiro
Sinto que o céu não irá me agradar
Pois não basta o paraíso inteiro
Pra saudade que o Salgueiro dá

Canto Gargalhada na voz do Anescar
Geraldo Babão e o Bala são de lá
Noel Rosa de Oliveira, Pindonga e Iraci, o samba vem daí

terça-feira, 24 de maio de 2011

O samba nos traços de Marcus Wagner

Acabei de descobrir o trabalho do ilustrador Marcus Wagner. O cara é fera e tem alguns belos trabalhos ensejados na Música Popular Brasileira. Ei-los:











Veja mais sobre o trabalho de Marcus Wagner no seu blog

Disco da Semana: Batuque na Palhinha - Dilermando Pinheiro - 1977

É quase sempre assim. O disco da semana demora, mas sai. E eis a pérola da vez, com


Lançado originalmente em 1958 pela gravadora Regency, com o nome “Lulu de Madame”, o este álbum foi reeditado dez anos depois pela gravadora Hot-Riosom. Com uma capa nova, foi acrescido um órgão, que infelizmente abafa o famoso batuque chapéu de palha de Dilermando Pinheiro.
Em 1977 a gravadora Marcus Pereira, com o nome ”Batuque na Palhinha” e com outra capa, mas mantendo o mesmo órgão, também o reeditou.

Em 2003 a gravadora EMI, na série ”Odeon – 100 Anos”, traz a reedição da Marcus Pereira para a versão CD.

Lulu de Madame


1 Lulu De Madame – Dilermando Pinheiro – (Paulo Gesta & Augusto Rocha) (2:53)

2 Teu Olhar Me Inspirou – Dilermando Pinheiro – (Valdrilho Silva & A. Barcelos) (3:00)

3 Tragédia Na Lapa – Dilermando Pinheiro – (Mutt & Severino De Oliveira) (2:46)

4 Ando Cheio De Conversa – Dilermando Pinheiro – (Sátiro De Melo & Nelson De Castro) (2:22)

5 Falsa Bacana – Dilermando Pinheiro – (Victor Duarte, Orlando Gazzaneo & A. Carvalho) (2:12)

6 Espanador Da Lua – Dilermando Pinheiro – (Pedro Santos & Jorge Gonçalves) (2:10)

7 Não Precisa Pagar – Dilermando Pinheiro – (Bucy Moreira, Francisco Fernandes & Miguel Bauso) (2:22)

8 Madureira, Não – Dilermando Pinheiro – (E. Celestino, D. Tavares & W. José) (2:34)

9 Beija-Me – Dilermando Pinheiro – (Roberto Martins & Mário Rossi) (2:58)

10 Disse-Me Adeus – Dilermando Pinheiro – (Oscar Bellandi & Nelson Trigueiro) (2:11)

11 Tentativa De Suícidio – Dilermando Pinheiro – (Jair Amorim) (3:00)

12 Gebe-Gebe – Dilermando Pinheiro – (E. Celestino & Jorge Gonçalves) (2:45)

Moa Luz em Floripa!



Mais informações: corodegato@yahoo.com.br ou nos telefones (48) 9948-6832, 8443-5275, 9968-6906.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Carmen Miranda no Pernalonga

Não é difícil de encontrar referências à figura de Carmen Miranda em desenhos animados norte-americanos. Principalmente os que foram feitos enquanto a estrela luso-brasileira pintava e bordava por lá. O que eu nunca tinha visto era a própria Carmen, fazendo quase que uma "participação especial" em um desenho do Pernalonga, com um sotaque bem carregado.



Longe das praias de Copacabana
Aqui na terra do famoso Tio Sam
Ninguém sabia o que era uma baiana
Reluzindo seus pinguês, os seus balangandãs
Um belo dia apareceu uma brasileira
Cantando samba à sua África maneira
E quando o público ouviu 'Mamãe Eu Quero'
Ficou logo apaixonado e eu vou dizer porquê
Todos faziam 'fiu! fiu!'
E ela disse 'Alô, alô!'.
Agora estamos a fritar tanta tarraxa,
embolada, batucada e a vida derreteu

quarta-feira, 18 de maio de 2011

terça-feira, 17 de maio de 2011

Noel Rosa por Orlandeli

Outro dia, achei uma página no site do Sesc-SP com o seguinte nome: "As Mentiras de Orlandeli e Noel Rosa em desenho, letra e MP3". A ideia é simples, trata-se de 12 sambas de Noel Rosa, (que podem, inclusive, serem baixados) acompanhados de ilustrações do Orlandeli. Vale a pena dar uma passada por lá.


Ah, os sambas que inspiram os desenhos são estes aqui:

1- Amor de Parceria [1933]
2- Só Pode Ser Você (ilustre visita) [1935]
3- Filosofia [1933]
4- Ando Cismado [1932]
5- Mentiras de Mulher [1931]
6- Pra Quê Mentir? [1937]
7- Tarzan (o filho do alfaiate) [1936]
8- Onde Está A Honestidade? [1933]
9- Não Faz, Amor [1932]
10- Prazer Em Conhecê-lo [1932]
11- Último Desejo [1937]
12- Mentir [1932]

Disco da semana: Cabeça Feita - Nadinho da Ilha - 1977

Ando demorando para postar as coisas aqui no Vermute com Amendoim. O motivo é o lançamento da mymag, uma revista personalizada onde trabalho atualmente (aliás, dá um pulo lá, vai?). A coisa tá bonita demais e o trabalho é grande. Mesmo assim, o Vermute segue firme e forte. Atrasado, mas firme e forte.

Esse disco valeria só pela capa que tem.


Mas além da capa pra lá de instigante, tem músicas capazes botar um batalhão para dançar. Tem partipações de Sivuca, Délcio Carvalho, Wilson Moreira, Tia Hilda, e um repertório com composições de Monarco, Pixinguinha, Candeia, Délcio Carvalho...Isso sem falar na interpretação do Nadinho, que é primorosa.

Lançado originalmente em 1977, este álbum ganhou sua versão em cd em 2003. Mesmo assim, já não está mais no catálogo. Precisa falar que o download é obrigatório?

Yaô (participação de Tia Hilda)


01 - cabeça feita (João de Aquino-Rubem Confete)
02 - paissagem (Avarese-Delcio Carvalho)
03 - só chora quem ama - Part. Wilson Moreira-Delcio Carvalho-Walter Rosa (Wilson Moreira-Nei Lopes)
04 - iaracema (Tião Amizade-Carnaval)
05 - amor verdadeiro (Monarco)
06 - assobio (Tatão-Guelott)
07 - deixa a cana moer (Romildo-Toninho)
08 - resolução (Osorio Lima)
09 - palmares (Noel Rosa de Oliveira-Anescar Walter Moreira)
10 - yaô - Part. Tia Hilda (Pixinguinha - Gastão Vianna)
11 - expressão do teu olhar (Candeia)
12 - a luz dos meus olhos (Ivan-Zanita)

Baixe no blog Arquivo do Samba Rock

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Adeus, Mangueira

Que beleza este vídeo do Trio de Ouro, já em sua penúltima formação, com Herivelto Martins, Raul Sampaio e Lourdes Bittencourt. A música trata da construção de Brasília e da perda do título de capital federal da cidade do Rio de Janeiro. Veja aí:

Adeus, Mangueira (Herivelto Martins / Grande Otelo)

Dia de Azar

Sexta-feira 13. Dia de um samba que João Nogueira gravou no disco "Clube do Samba", de 1979.

Dia de azar


Tentei acender um cigarro
Isqueiro falhou
Hoje é dia de azar
Fui passear no meu carro
Pneu furou
Hoje é dia de azar
Comprei um ingresso pro jogo
Mas estou com medo de chegar pra lá
Pois hoje quem joga é o Mengo
E já estou sabendo que vai apanhar
A televisão tá pifada
O ventilador não ventila mais não
Fui esquentar o almoço
Queimei todo o meu feijão
Ao olhar para a folhinha
Encontrei a explicação
É sexta, é treze
Cruz credo três vezes
É dia de azar
Eu não saio mais não

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Disco da semana: Garoto - Garoto - 1979

Como lembrou muito bem o amigo Lucas Nobile, "Há 56 anos morria um tal de Aníbal Augusto Sardinha. O gênio conhecido como Garoto." Multi-instrumentista, Garoto tocava violão, bandolim, cavaquinho, violão tenor, guitarra havaiana, guitarra portuguesa, banjo, violino, contrabaixo, violoncelo, piano e harpa.


Além disso era um baita de um compositor. Em apenas 40 anos de vida, fez pelo menos 220 música, algumas geniais e grande maioria acima da média. Como acontecia com todo músico talentoso, Garoto foi parar no rádio (ah, como era boa aquela época). Trabalhou na Ràdio Nacional, onde passou por alguns programas de peso, como o Um Milhão de Melodias.

Copio aqui um texto publicado no extinto blog "Loronix" (alguém sabe o que aconteceu?), que explica a origem deste disco:

"Com a decadência da Nacional, o acervo desta emissora (incluindo estes discos de acetato, partituras para orquestras, catálogos, etc..) foi guardado em péssimas acomodações. "Paulo Tapajós encontrou os discos dos programas da Rádio Nacional jogados num dos banheiros da emissora e empilhados no corredor como coisa imprestável" (Trecho extraido do livro Rádio Nacional, o Brasil em Sintonia- Luiz Carlos Saroldi e Sonia Virginia Moreira). Não é difícil imaginar que muitos destes discos não tenham resistido a tanto descaso!

Em 1972 o que restou do acervo da Rádio Nacional foi transferido para o Museu da Imagem e do Som (MIS). Saroldi, em seu livro, diz que eram 40 mil discos, que ficaram inicialmente empilhados na sala mais tarde ocupada pelo acervo Jacob do Bandolim.

Em 1981 uma catástrofe! Um incêndio destruiu a sede do MIS. Mais uma remoção de todo acervo Paulo Tapajós, em 1979, extraiu daquele acervo as músicas que compõem este importante LP Garoto, lançado pelo MIS.

Conseguimos encontrar as datas em que algumas destas gravações,feitas no programa Um Milhão de Melodias, foram realizadas:
05 - Tico-tico no fubá, gravado em 29/11/1944 por Garoto (violão tenor) no centenário de apresentações daquele programa.
11 – Chinatown, my Chinatown, gravado em 12/07/1944.
12 - Chorinho do Ahú, gravado em 23/05/1945.
08 - Cavaquinho Boogie, gravado em 04/09/1952.
A música Duas Contas foi gravada no programa Música em Surdina em 11/06/1951."

Chinatown, my Chinatown


01 - Alma Brasileira (Radames Gnattali)
02 - Sons Carrilhoes (Joao Pernambuco)
03 - Benny Goodman no Choro (Garoto)
04 - Rato Rato (Casemiro Rocha / Claudionor Costa)
05 - Tico Tico no Fuba (Zequinha de Abreu)
06 - Duas Contas (Garoto)
07 - Amor nao se Compra (Bonfiglio de Oliveira)
08 - Cavaquinho Boogie (Garoto)
09 - Carinhoso (Pixinguinha / Joao de Barro)
10 - Relampago (Garoto)
11 - Chinatown, my Chinatown (Willian Jerone / Jean Schwartz)
12 - Chorinho do Ahu (Garoto)
13 - Nacional (Garoto)
14 - Sempre Perto de Voce (Garoto)
15 - Saudade de Iguape (Garoto)

Baixe no blog Toque Musical

terça-feira, 10 de maio de 2011

Regional Imperial na Galeria Olido

Amanhã tem Regional Imperial de graça na Galeria Olido. O convidado da vez é o flautista Antonio Rocha.


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Amor em Jacumã

Em 1976 o instrumentista Dom Um Romão gravou o som "Amor em Jacumã" no disco Hotmosphere. O som foi regravado por Lucas Santanna em 2009

Amor em Jacumã, por Dom Um Romão


Amor em Jacumã, por Lucas Santanna

Qual sua preferida?

Saiba mais sobre Dom Um Romão

Ilessi no Café Paon

Se apresenta amanhã, no Café Paon, a grande cantora Ilessi. A base do repertório é a do seu disco Brigador, que é formado somente por músicas do bandolinista Pedro Amorim e do gênio Paulo César Pinheiro.




SERVIÇO:
SHOW: BRIGADOR - ILESSI CANTA PEDRO AMORIM E PAULO
CÉSAR PINHEIRO
DATA: 10 DE MAIO DE 2011
HORÁRIO: 21h30min
LOCAL: CAFÉ PAON
ENDEREÇO: AVENIDA PAVÃO, 952 - MOEMA - SÃO PAULO/ SP
FONE: (11) 5531-5633
COUVERT ARTÍSTICO: R$ 25,00

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Samba de Alambique volta ao ar.

É com muito orgulho que o Vermute com Amendoim anuncia o retorno da webradio Samba de Alambique. Dirigida pelo entusiasta Ary Motta, a rádio que toca o samba mais autêntico da web voltará ao ar nesta sexta-feira.

O evento que marca o ressurgimento da Samba de Alambique é o show Barão do Pandeiro canta Nelson Cavaquinho, já anunciado neste blog, que será transmitido ao vivo para toda a galáxia.

Divirtam-se.

UPDATE (07/05)
Para quem foi conferir, viu que a rádio ainda não voltou. Mas as últimas notícias dão conta que nesta próxima semana ela já estará ecoando por aí.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

3x Tico-tico

Aqui no Vermute já mostramos um site que reúne cerca de 60 versões para a música "Tico-tico no fubá". Hoje separei três vídeos que executam essa música, porém em ritmos totalmente diferentes.

A primeira, mais clássica, é do violonista Raphael Rabello.


A segunda, puxando para o lado da música flamenca, é do grande Paco de Lucía.


A terceira é a dos albinos Hermeto Pascoal e Sivuca (duvido que você não se confunda sobre qual é qual).

terça-feira, 3 de maio de 2011

Disco da semana: O Cantadô - Rolando Boldrin - 1974

O primeiro disco solo de Rolando Boldrin é uma coisa bonita demais. "O Cantadô", lançado em 1974, o álbum tem 11 composições do próprio, além de uma parceria de Toquinho com Gianfracesco Guarnieri e Toquinho ("Quanto vale uma criança") e a bela capoeira de Paulo Vanzolini, intitulada "Capoeira do Arnaldo".

O Cantadô


Indispensável na mp3teca de qualquer um que goste de música brasileira.

01 - Chico Boateiro - [Rolando Boldrin]
02 - Dos Reis - [Rolando Boldrin]
03 - Quanto Vale Uma Criança - [Gianfrancesco Guarnieri - Toquinho]
04 - O Cantadô - [Rolando Boldrin]
05 - O Casamento De Maria Branca - [Rolando Boldrin]
06 - Capoeira Do Arnaldo - [Paulo Vanzolini]
07 - Onde Anda Iolanda - [Rolando Boldrin]
08 - Françoise - [Rolando Boldrin]
09 - Tema Pra Juliana - [Rolando Boldrin]
10 - Musa Caipira - [Rolando Boldrin]
11 - Mariana E O Trem De Ferro - [Rolando Boldrin]
12 - Amor De Violeiro - [Rolando Boldrin]

Baixe esta pérola, curiosamente, no blog Sertanejo Universitário

Acesse o site de Boldrin

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Entrevista com Kazinho

Conheci, justamente na grande noite em homenagem ao Kazinho no Anhanguera, o jornalista Matheus Trunk. Fomos apresentados pela Railídia, que já foi logo dizendo de uma entrevista que Matheus tinha feito com o sambista. Reproduzo a conversa aqui embaixo, que foi originalmente publicada no Boteco Sujo.

Por Matheus Trunk

“Sempre fui boêmio. Mas sempre me cuidei. Por isso, vou chegar aos 120 anos”, brinca Oscar Azevedo dos Santos, o Kazinho, 81 anos. Natural de Belém, capital do Pará, ele chegou em São Paulo em 1963 e se tornou um dos grandes nomes das noites paulistanas, sendo um artista muito conhecido nos fins de noite da capital paulista. Além do samba, Kazinho ganhou a vida como técnico contábil.

Como compositor, Kazinho foi gravado por artistas de renome nacional como Germano Mathias, Ciro Monteiro, Noite Ilustrada, Demônios da Garoa, entre outros. Nos anos 60, gravou seu único disco como cantor (O Samba Como Ele É). Para entrevistar este eterno boêmio, me desloquei até o Engenho Velho, extrema zona leste de São Paulo. Neste relato, Kazinho fala sobre os bons tempos da maior metrópole do país, de como fez suas músicas e faz um balanço de sua vida e carreira.

Boteco - Como o senhor começou a se interessar por música?

Kazinho - Eu nasci em Belém do Pará. Comecei a gostar por causa de papai e mamãe. Os dois eram cantores e violonistas. Quando eu tinha quatro, cinco anos eles formaram um bloco carnavalesco. Papai chutava umas boas, mas mamãe não gostava disso (risos). Ela dizia: “Olha aí Oscar. Seu pai já vem dançando foxtrote rápido”. Depois que ele morreu, ela passou a beber também.

Boteco - O senhor já torcia pro Paysandu?

Kazinho - Sempre fui torcedor do Paysandu. Fiz parte do juvenil do time quando eu tinha dezesseis, dezessete anos. Eu tinha uma fama de ter a testa dura. Quando eu pulava, os outros jogadores tinham medo de pular comigo com medo que eu desse testada neles. Por isso, o pessoal me respeitava bastante. Eu sempre gostei de jogar nas extremas, seja no ataque ou na defesa. Nunca gostei de jogar no meio.

Boteco- Quais cantores o senhor tinha como ídolos?

Kazinho- Eu sempre fui fã do Ciro Monteiro. Outro que eu admirava era o Dilermando Pinheiro. O Dilermando cantava acompanhado por um chapéu de palha dele. Ele bebia muito, morreu muito novo.

Boteco- O senhor chegou a conhecê-lo?

Kazinho- Sim.

Boteco- Ele usava o chapéu de palha como o Luiz Barbosa.

Kazinho - Sim, ele era uma espécie de discípulo do Luiz Barbosa.

Boteco - Como ele era?

Kazinho - Meio calvo, bem carioca. Quando a gente saia era um sarro. Ele falava: “Ei, Kazinho, não precisa vir me bater, não”. Ele com aquele chapéu de palha era um negócio. Ele ia gravar um samba meu, mas ele morreu. O Dilermando chegou a aprender a letra toda, mas depois o samba acabou não sendo gravado.

Boteco- O Ciro o senhor também conheceu? Quando foi isso?

Kazinho - Eu cheguei ao Rio em 1950. O Ciro eu conheci em 52, por aí. Ele me chamava de sobrinho, porque eu usava o cabelo igual ao dele. Chegava na roda de samba, ele falava: “Olha, chegou agora o meu sobrinho”. Ele era bom de porrada, mas quando ele ficou com idade me falou: “Meu sobrinho, estou ficando triste porque eu não agüento mais uma briga” (risos). Eu sabia todo repertório dele.

Boteco - O Geraldo Pereira o senhor chegou a conhecer?

Kazinho - Cheguei. Ele também era um cara bom pra xuxu. Como as pessoas morrem assim? Pelo que eu ouvi contar ele foi desafiar o Madame Satã. Parece que ele tomou umas a mais e desafiou ele. Como é que pode? O Madame....O cara era bicha mas era bom de porrada (risos).

Boteco - Como era a Lapa do Rio nos anos 50?

Kazinho - Era lugar de boêmio. Tinham os caras bons de porrada, mas a maioria eram boêmios somente. Eu cantei no Cabaré Brasil durante muito tempo. Tinha muita mulherada e eu gostava de ver elas trocando de roupa. O diretor da boate me falava: “Kazinho, avisa a Lu que tá na hora dela entrar”. Eu chegava e a moça ainda estava nua (risos). Graças a Deus, eu tive muita mulher na vida (risos). A minha história na noite tem várias passagens interessantes.

Boteco- Por que o senhor veio pra São Paulo?

Kazinho - Naquele tempo, eu vivia indo de um emprego pra outro. Boêmia né? Nessa época, eu já trabalhava com contabilidade. Aí eu falei: “Eu vou pra São Paulo, não vou mais ficar aqui”. Os outros músicos da noite falaram pra mim: “Kazinho, não vai que os paulistas são fechados. Você é não vai conseguir se adaptar”. Não me queixo de São Paulo. Logo eu arranjei emprego. Eu vim aqui como representante comercial e depois ia pro samba.

Boteco - O senhor me falou que os compositores Venâncio e o Corumba ajudaram muito você quando você chegou em São Paulo. Fale sobre eles.

Kazinho - Eles me orientavam muito. Foram os meus pais quando eu cheguei aqui. Gostavam de ver que eu estava na linha, usando roupas finas. Antigamente, todo mundo pra sair tinha que usar terno, gravata, essas coisas. O Venâncio era mais mão aberta.

Boteco - Como o senhor ganhou o apelido de Kazinho?

Kazinho - Gozado. Como o meu nome é Oscar, o pessoal me chamava de Kazo. Então com o tempo acabou ficando Kazinho.

Boteco - O senhor acha que teria mais chance de aparecer como cantor e compositor no Rio?

Kazinho - Não, eu tive mais chance em São Paulo mesmo. No Rio, eu gravei somente um compacto com uma canção chamada Mulher de Compromisso. O José Messias não queria trabalhar o meu disco porque dizia que eu estava fazendo apologia ao cara que ficava com a mulher dos outros. O Zé Messias gostava muito das minhas coisas.

Boteco - Em São Paulo, em que lugares o senhor cantou?

Kazinho - Hoje, todos esses lugares não existem mais. Cantei muito no Brás. Lá tinham várias casas noturnas. Cantei em bares, boates, cabarés.

Boteco - Como era o Caco Velho?

Kazinho - Ah, eu conheci ele no final de vida. Ele tinha um escritório na rua Barão de Itapetininga. Eu conversei várias vezes com ele. Eu queria passar uma música minha pra ele gravar. Ele me falava: “É complicado, meu filho, mas eu já tenho um repertório anotado”. Ele era um cara bom e não era metido a besta. Tem cara que tem um nomezinho e já sobe em pedestal.

Boteco - Como o senhor conheceu o Germano Mathias?

Kazinho - Foi no ambiente noturno. Depois, ele ouviu as minhas músicas, gostou e acabou gravando cinco. Ficou muito meu amigo e me ajudava muito. O Germano nunca foi um cara metido a besta, também. O pessoal fala que ele era de porrada, mas ele nunca foi. Sempre foi um grande gozador.

Boteco - Como o senhor fez Eu e a Saudade Pela Rua?

Kazinho - Isso eu fiz quando eu me separei da minha primeira esposa. Eu gostava muito dela. Mas eu vivia com outras mulheres, na rua, no samba, mas sempre lembrava dela. Por isso, acabei fazendo esta canção.

Boteco - As músicas românticas do senhor sempre foram inspiradas em musas?

Kazinho - Sempre. Inclusive eu estive recentemente no Rio visitando a minha filha. E encontrei com a minha primeira esposa. A gente se dá bem. Ela está com outro cidadão, mas a gente se respeita muito. Maura é o nome dela. Ela continua bonita, até hoje.

Boteco - Ela sabe que essa música foi feita pra ela?

Kazinho - Sabe.

Boteco - Deu a Loca na Nega também foi pra uma mulher?

Kazinho - Sim, foi pra Lúcia, minha segunda esposa. Infelizmente, ela já faleceu. Como eu te disse, eu era muito boêmio. A nega coitadinha, sofreu muito com a minha boêmia. Eu não maltratava ela, mas de vez em quando eu sumia (risos). Eu ficava dois ou três dias longe de casa (risos). Um dia ela ficou tão louca que chegou a ir na polícia para procurar por mim. Ela foi no IML porque diziam que tinha um Oscar lá. Parece que o camarada era realmente parecido comigo e ela pensou que era eu. O Jorge Costa gozava muito ela: “Estão pedindo pro Kazinho cantar o Deu a Louca na Nega”. No fim, ela mesmo incentivou eu a cantar a música. O Jorge Costa era um gozador...

Boteco - O senhor conheceu ele aqui em São Paulo?

Kazinho - Sim. Com o Jorge Costa a gente fazia uma gozação com ele. A gente falava que ele tinha uma rola que não era brincadeira. Ele ficava puto: “Porra, vocês estão me estragando”. Eu falava pras namoradas dele: “O Jorge Costa tem uma rola que vai rasgar você no meio” (risos). As mulheres ficavam loucas e ele mais puto ainda: “Porra, a mulher queria dar pra mim, agora não quer mais” (gargalhadas). São passagens da noite que a gente não esquece.

Boteco - É verdade que o Jorge era um cara politizado? De esquerda?

Kazinho - Era, sim. Mas não era um cara metido. Só tinha pose. Você chegava nele e ele te atendia na hora. Ele era dono de vários sucessos como compositor. O Jair Rodrigues gravou as coisas dele. O Jorge Costa me tornou bastante conhecido na noite. Ele cantava O Samba Como Ele É nos shows dele. Ele e o Guaracy do Pandeiro me tornaram mais conhecidos. Quando eu cheguei do Rio, eu ainda não era conhecido. Ele tornou a minha música muito conhecida na noite de São Paulo. Quando eu cheguei, já estava feito por eles. Infelizmente, os dois já foram embora.

Boteco - O Jorge teve problemas no final de vida dele?

Kazinho - Não, ele estava bem. Mas depois ele adoeceu e não sei o que deu nele. Fui visitá-lo no hospital e ele não conseguia me reconhecer. Estava enrolado na cama. Eu falei pra enfermeira: “Agora ele vai me reconhecer”. Comecei a cantar O Samba Como Ele É e no mesmo instante ele me falou: “O Kazinho....”. Como uma música marca as pessoas...


Boteco - E o Noite Ilustrada? Como o senhor conheceu ele?

Kazinho - O Noite foi meu companheiro de vida boêmia. Primeiro eu fazia a contabilidade dele. Ali nos conhecemos e foi outra pessoa que me deu um empurrão na noite. Ele também era boêmio, safado. Chegava aquela mulherada, duas, três mulheres. Ele falava: “Olha, menina, o Kazinho está sem mulher nenhuma. Fica com ele lá” (risos). Uma vez eu saí com o Noite e ficamos bêbados. Ele voltou dirigindo. De repente, quando eu me dou por mim nós estávamos fora de São Paulo. Eu falei pro Noite: “Mas porra, quem disse que eu moro aqui?”. Ele ficou me sacaneando: “Porra Kazinho, você nem sabe mais onde mora” (risos).

Boteco - Como era o relacionamento do Noite com o Ataulfo?

Kazinho - Era como eu e o Ciro Monteiro. Ele tentava ter o mesmo estilo do Ataulfo. O artista do passado era boêmio, o artista de hoje é profissional. Isso é bem diferente.

Boteco - O senhor chegou a cantar na Boate Meninão? Era na Alameda Nothmann...

Kazinho - Eu cantei muito ali. Numa boate atrás da Igreja de Santa Cecília. Alameda Nothmann. Agora acabou, né?

Boteco - Acabou.

Kazinho - Mas era gostoso. Você andava na noite e não tinha medo de ninguém, não era assaltado. Hoje, o cara te assalta de dia.

Boteco - O senhor chegou a conhecer Mauricy Moura?

Kazinho - Claro. Bebi muito com Mauricy Moura. Ele era muito boêmio e bom cantor também. Acompanhei ele tocando pandeiro várias vezes. Uma vez, estávamos em um bar tocando samba e ele cantando as músicas bonitas que ele cantava. Chegou um policial e falou: “Vamos lá pra delegacia”. Quando foi a minha vez, eu dei o meu nome e tudo. Me perguntaram o que eu fazia. Respondi: “Eu estava tocando com o Mauricy Moura”. O policial me falou: “Mauricy Moura? O que esse cara faz aqui. Se está com Mauricy não tem problema" (risos). Ele era conhecido até pela polícia. Ele já morreu, né?

Boteco - Sim. E dizem que ele morreu com pouca grana.

Kazinho - Ah, Mauricy era boêmio. Como eu, sempre fui um cara boêmio. Hoje, não tenho nada, graças a Deus (risos). Eu tenho somente meus utensílios, um toca discos e algumas coisinhas. Tenho uma máquina de escrever. Mas eu sempre tive roupas bonitas, sapatos caprichados...

Boteco - Estou vendo. O senhor usa relógio, corrente...

Kazinho - O boêmio sempre anda bonito. Eu era um cara metido a comedor. Então, tinha que andar bonito pras meninas me pegarem (risos). Por isso, eu acho que cheguei aos 81 anos e estou assim. Muita gente não acredita que eu estou com essa idade. O Germano Mathias que me enche o saco: “Kazinho, você mete ainda?”. Respondo pra ele: “Agora. pra fazer isso, eu tenho que fazer oração” (risos). Germano é um sarro.

Boteco - O senhor chegou a conhecer o Moraes Sarmento? Ele ajudava muito os cantores da noite de São Paulo.

Kazinho - Esse era meu fã. Moraes Sarmento tinha um programa e eu fui lá cantar. Ele me falou: “Kazinho, não é esse ritmo de samba que você tem que cantar. Você tem que cantar com regional". Quando eu dei o disco pra ele, eu estava cantando acompanhado com piano, baixo e bateria. Depois, eu passei a cantar com conjunto e batendo no pandeiro. Eu não era Bossa Nova, eu sempre fui do samba autêntico, antigo, dos boêmios.

Boteco - Outro cantor da noite de São Paulo muito importante foi o Lúcio Cardim. O senhor chegou a travar contato com ele?

Kazinho - Foi muito meu amigo. Eu estava numa boate no centro cantando. Tinha lá um delegado, uns políticos e a moça me falou: “Está na hora de outro rapaz entrar”. O delegado falou: “Se o Kazinho sair de cena eu prendo todo mundo aqui e não tem mais boate. O Kazinho tem que cantar”. Esse garoto que ele não deixou entrar era o Lúcio Cardim.

Boteco - Uma música de autoria do senhor, Isto É São Paulo, foi gravada pelos Demônios da Garoa. Como o senhor fez esta canção?

Kazinho - Todo ano eles tocam essa música no 25 de janeiro, quando é aniversário da cidade. Eu estava cantando na noite, numa boate que o Jorge Costa tinha. De repente, eu cantei este samba. Os caras do Demônios da Garoa estavam observando a minha apresentação. Eles gostaram da canção e chegaram em mim: “Kazinho, vai lá que nós vamos gravar o seu samba”. Eles gravaram e é a música que mais me deu direito autoral. Infelizmente, a imprensa só destaca as músicas do Demônios que foram feitas pelo Adoniran. E os outros compositores, como ficam?

Boteco - O senhor chegou a conhecer o Adoniran?

Kazinho - Sim. Conheci logo quando eu cheguei em São Paulo. Um amigo me apresentou: “Esse aqui é o Kazinho, um cantor de boates e cabarés do Rio”. Ele mandou eu cantar. Aí eu cantei Saudosa Maloca. O Adoniran me elogiou: “Gostei, menino, gostei. Você tem a voz bonita”. Depois, o colega que me trouxe do Rio sabia que eu tinha uma letra de putaria, uma paródia da música do Adoniran. Quando eu saia do cabaré do Rio, as putas me levavam para um bar que elas tinham e falavam: “Kazinho, canta aquela música sua, Saudosa Xoxota” (risos). Nesse dia com o Adoniran eu cantei essa paródia e ele ficou bravo: “Eu gostei de você. Você cantou bonito, mas depois que você cantou isso e esculhambou o meu samba”. Depois ficamos amigos e ele acabou me quebrando o galho várias vezes.

Boteco - O Noite se dava bem com ele?

Kazinho - Sim. O Noite se dava bem com todo mundo. Ele também jogava futebol e bem. Mas ele era boêmio, como eu. Agora estou aposentado. O Noite gravou com todo mundo.

Boteco - Por que o Noite assinava as músicas como compositor como Marques Filho?

Kazinho - Com o tempo, ele passou a usar o nome verdadeiro como compositor e como cantor usava o pseudônimo de Noite Ilustrada. Ele falava que ficava chato samba do Noite Ilustrada cantado pelo Noite Ilustrada.

Boteco - Tinha uma casa noturna bastante importante aqui em São Paulo chamada Jogral. O senhor chegou a se apresentar lá?

Kazinho - Meu filho, ali era um local que só iam as feras. Só os melhores.Fiquei lá poucas vezes. Nunca fui contratado pelo Jogral, mas algumas vezes me apresentei lá.

Boteco - O senhor chegou a conhecer o Nelson Gonçalves?

Kazinho - O Nelson eu conheci aqui em São Paulo mesmo. Numa noite, eu contei pra ele uma passagem que eu tive com dezenove anos em Belém do Pará. Um camarada naquela época me deu cinqüenta mil réis pra eu fazer uma serenata pra namorada dele. Ele só não me disse que a mulher era casada (risos). Eu estava todo contente cantando a música e o marido dela deu três tiros. Ele não me acertou, mas deu pra assustar. Fiquei atrás de uma mangueira. Em Belém, sempre teve muita mangueira. O Nelson ficava me gozando: “Pô, Kazinho vais cantar pra uma mulher casada? Queria ser recebido com flores? Tinha que ser recebido com bala, mesmo” (risos).

Boteco - A Cláudia Barroso foi uma cantora muito famosa aqui na noite de São Paulo. O senhor teve muito contato com ela?

Kazinho - Claro. A Cláudia era uma boêmia formidável. Bonitona, amiga e muito boêmia. Eu também parei com a noite, não sei como ela anda. Aquela turma daquela época parece que era tudo uma grande irmandade.

Boteco - O senhor acha que havia menos concorrência entre os artistas?

Kazinho - Não havia isso. E não existia maldade entre os cantores. Se você estava duro, o cara chegava pra você: “Olha, Kazinho, está aqui, fica com esse dinheiro”. Muitas vezes você nem precisava pagar. Uma vez eu me vi perdido com um bando de chineses e todos queriam me dar porrada (risos). Essa menina, a Cláudia Barroso, chegou e falou com eles: “O Kazinho é meu amigo. O que aconteceu?”. Falei que eu não queria confusão. Mas eles me botaram na roda e queriam me prejudicar (risos). Hoje, os cantores querem tomar um o lugar do outro. Não se respeitam tanto.

Boteco - O senhor tem outras dessas histórias da noite de São Paulo?

Kazinho - Bastante. Tive um grande amigo que era violonista. Ele sempre andava bem vestido, com gravata borboleta e tudo. O nome dele era Geraldino. Ele tocava bem, cantava e brigava muito bem. Bebia legal e mexeu com tóxico. Uma vez ele estava fora de circulação e entrou numa igreja. O padre estava fazendo o sermão e ele ficou gritando: “Muito bem seu padre! Muito bem!” (risos). É a droga. A bebida faz você ficar mandrake, mas depois o efeito passa. A droga marca as pessoas...

Boteco - O senhor chegou a fumar cigarro?

Kazinho - Uma vez somente. Quando eu tinha treze anos, aquela meninada escondida de pai e mãe. Eu me engasguei três vezes e nunca mais quis saber de cigarro. Durante um tempo de onda, eu usei um cachimbinho. Teve um episódio meu com outro amigo cantor. Nós estávamos ali perto da Praça da República. Tinha uma boate muito famosa que a gente freqüentava muito. Estávamos com um pessoal grande e eu cochilando. O cara ficou me zoando: “Porra Kazinho, todo mundo aqui alegre e você cochilando. Toma uma dessa que você fica esperto”. Ele me deu uma bolota e eu tomei aquela porra. Mas fiquei esperto mesmo (risos). Fiquei tão esperto que quando acabou eu saí, atravessei a 24 de Maio e fui embora. Nessa época, eu morava no edifício Martinelli, mas não conseguia chegar lá. Pensei: “Puta merda, eu nunca mais vou ficar esperto e não vou tomar essa porra nunca mais”. Poxa, fiquei tão esperto que eu não sabia onde morava. Todo mundo que mexeu com tóxico acabou se dando mal. Como o Elvis Presley, o rei do rock. O cara morreu com 45 anos. Poxa, um cara boa-pinta, cantava bem, tinha toda mulherada na mão dele. Uma bebidinha tudo bem, mas tóxico te faz um mal danado.

Boteco - O Vinícius de Moraes falava que São Paulo era o túmulo do samba. O senhor acredita nisso?

Kazinho - Eu nunca acreditei nisso. Eu pelo menos vim a me apresentar mais aqui em São Paulo. No Rio, eu tive poucas chances. Comecei a cantar na mesma época que o Miltinho. A minha voz sempre foi muito parecida com a dele. Quando eu estava gravando o Mulher de Compromisso, o pessoal me perguntava: “Poxa, qual é o seu nome?”. Eu falava: “Kazinho”. Eles respondiam: “Mas sua voz parece muito com a do Miltinho”. É a voz nasal, muito parecida. Eles pensavam que era o Miltinho, mas era o Kazinho.

Boteco - O senhor casou quantas vezes?

Kazinho - Duas vezes. A primeira foi com a mãe da minha filha e a segunda eu fiquei mais tempo. Com a primeira foi aquela coisa de criança, mas eu gostei dela e gosto muito. Foi muito legal. Ninguém tem raiva um do outro.

Boteco - Pra quem o senhor fez Como é que pode?

Kazinho - Ah, essa canção foi pra falecida. Ela me incentivava muito. Muitas vezes eu ficava dois dias e três noites fora de casa, mas ela continuava gostando de mim.

Boteco - O senhor conheceu o Plínio Marcos?

Kazinho - Sim. O Plínio gostava muito de mim. Ele fazia reunião na casa dele, e ia um grande pessoal de samba, eu, Talismã. Infelizmente, ele morreu também. Eu devo muitos favores ao Plínio. Ele também me emprestou muito dinheiro e nunca precisei pagar. Falava: “Não precisa, Kazinho, não precisa”, aquele jeito dele. Durante um período aí eu estive em baixa e ele me ajudou muito. Por isso, eu não me queixo da vida. Aos 81 anos, eu ando sozinho pela cidade, sem problemas, não tenho doença e não uso bengala. Deus é muito bom pra mim. Eu só tenho labirintite, tomo remédio e pronto.

Boteco - O senhor ainda bebe álcool?

Kazinho - De vez em quando. Quando tomo, fico três dias sem tomar remédio. Estou com 81 anos. Os colegas me perguntam: “Kazinho, tu ainda mete?”. Eu respondo: “De vez em quando sim”. Eles ficam nas gargalhadas. Comigo é assim: ficou duro tá bom, não ficou também está tudo bem. Eu falo com as moças: “Tenha paciência. Se custar a ficar duro, você tem que fazer uma oraçãozinha” (risos). Tem gente que toma remédio pra isso, mas eu não tomo.

Boteco - Nesses 81 anos, o senhor se arrepende de alguma coisa?

Kazinho - Tenho arrependimento de algumas coisas erradas que eu fiz. Fiquei uma vez com raiva de um cara que ficou sem me pagar. Teve uma mulher de idade no Rio de Janeiro que me emprestou muito dinheiro e eu nunca paguei ela. São alguns arrependimentos.

Boteco - O senhor chegou a fazer parte de alguma escola de samba?

Kazinho - Sim, eu fui compositor da Mocidade Alegre. Faziam parte da escola eu e o Jangada, compositor da antiga também. Ele era muito gozador e falava: “O único aqui que tem capacidade pra falar comigo é o Kazinho”. Também passei pela Imperador do Ipiranga. Desfilei pelas duas e vim cantando o samba na avenida. Eu puxava o samba antes da escola entrar.

Boteco - Das músicas que o senhor fez tem alguma preferida?

Kazinho - Olha...Deu a Loca na Nega é a preferida. Outra que eu gosto muito é Meu Estranho Eu. Essas duas músicas foram para a minha falecida esposa. Ela era manicure, cabeleireira, enfermeira, qualquer coisa que precisasse na vizinhança ela resolvia. Mas teve três derrames e acabou indo embora.

Boteco - Foi a grande mulher da vida do senhor?

Kazinho - Foi a grande mulher. Muito amiga, me dava muito conselho inclusive. Amiga, mulher e conselheira. Ela falava pra mim: “Você precisa se cuidar mais”. Isso porque eu vivia na farra (risos). Mas ela também bebia, tomava uns negócios. Antes de eu conhecer ela, ela dormia com uma garrafa de uísque debaixo do travesseiro.

Boteco - O senhor foi próximo ao Nerino Silva?

Kazinho - Nerino! Com ele tenho algumas histórias engraçadas. Era um malandreco, malandro brigão pra burro. Mas depois ele parou com tudo isso e levou uma vida certa, sem confusão. Eu gostei muito de conhecê-lo. Principalmente na época das loucuras dele.

Boteco - Ele era muito boêmio?

Kazinho - Bastante. Ele era um bom boêmio e bom de briga. Como o meu amigo Geraldino, muito forte na briga também. Eu bebo também. Mas tem que ter hora. Muitos não tinham. Eu sempre soube e por isso cheguei aos 81 anos.

Boteco - O senhor tem irmãos?

Kazinho - Eu tive três irmãs. Duas estão vivas: a segunda e a caçula. Eu sou o mais velho. A segunda é formada em psicologia, é psicóloga. Outro dia ela me ligou nove horas da manhã: “Maninho, sabe o que eu estou fazendo agora?”. Eu falei: “Não sei, meu telefone ainda não tem mostrador”. Ela respondeu: “Eu estou saboreando uma Brahminha” (risos). Poxa! Bebendo ás nove da manhã. Como pode isso? Ela mora no Rio de Janeiro. A Diná, a do meio, já morreu. Ela sempre que vinha pra São Paulo ficava na minha casa. Ela gostava muito de mim, parecia muito comigo. O câncer acabou com ela. Ela e o papai morreram de câncer. Todos foram pro Rio, somente eu fui pra São Paulo.

Boteco - Como o senhor compõe suas músicas?

Kazinho - Isso acontece quando eu sinto alguma coisa. Por exemplo, se alguém arma alguma coisa comigo e eu fico chateado, eu faço um samba dentro desse tema. Eu não forço, porque não vivo disso. Mas eu tenho a impressão que a partir deste ano eu vou voltar a me apresentar.

Boteco - Faz muito tempo que o senhor não se apresenta?

Kazinho - Muito. No carnaval mesmo, eu poderia ganhar uma nota boa cantando. Sempre fiz muito carnaval. Teve um dia, quando eu estava com 55 anos que aconteceu um caso interessante. Um cantor, garoto de 20 anos, pifou no meio do salão. A garganta dele não funcionava mais. Disse pra ele: “Canta as músicas leves e deixa as pesadas comigo”. Eu agüentei o carnaval inteiro e ele pifou. Vinham os copos de bebida, cachaça com limão e ele bebendo bastante. Eu não bebi nada durante a apresentação. Gosto de beber, mas tudo tem hora. Profissional tem que se cuidar. Tem uma coisa: quando vou fazer carnaval, por exemplo, eu tomo uns fortificantes, injeção na veia. Só bebo quando termina tudo.

Boteco - Faz muito tempo que o senhor não volta pra Belém?

Kazinho - Eu saí do Pará em 1950. Desde lá eu não voltei para a minha terra. Em 1963, cheguei em São Paulo. Eu gostava de ser representante comercial, usava máquina de escrever e tudo. Outro dia eu estava usando ela pra redigir algumas canções antigas minhas. A minha vizinha veio e me perguntou: “Puxa seu Oscar, o senhor está escrevendo algum livro?” (risos).

Boteco - Como o senhor fez Consciente pro Noite Ilustrada?

Kazinho - Isso foi quando eu passei para a maturidade, não era mais criança. É bonita essa música: “Meus cabelos brancos chegaram/ Minha mocidade já passou/ Minhas ilusões passaram/ Hoje vivo aquilo que eu sou/ Mas não sou um velho decadente/ Mas sim um homem adulto consciente”.

Boteco - A Volta o senhor fez nesse estilo também?

Kazinho - Sim. O Noite fez uma gravação muito bonita desta canção. Me deixou muito feliz como compositor. Ele tinha uma voz muito bonita, depois teve câncer. Quando ele me falou que o cabelo dele estava caindo, eu fiquei muito triste. Ele me falou: “Fica calmo, Kazinho. Eu estou me recuperando”. Vixi...quando começa a cair o cabelo, acabou.

Boteco - O Ary Lobo foi muito amigo do senhor?

Kazinho - Foi sim. Ele gravou o Saudades do Meu Pará. O balanço dele era fantástico...

Boteco - Ele era um cara muito famoso?

Kazinho - Ele tinha nome, mas era muito boêmio. Ganhou dinheiro, foi três vezes rico e morreu no banco da praça. Como pode isso? Ele vendia muito disco, era um cara muito bom.

Boteco - O senhor tem alguma mágoa de não ser um artista tão conhecido?

Kazinho - Não. Primeiro: se eu não sou famoso é porque eu sempre fui relaxado. Nunca liguei pra isso. Eu ia nas boates, cantava, fazia sucesso e depois não aparecia mais. Quando eu cantava na noite, eu era mais conhecido porque ficava a noite toda numa mesma boate. Todos me viam lá. Quando eu parei, ninguém me viu mais. Muitos pensam até que eu morri.

Lista de composições de Kazinho gravadas por outros artistas:

Acadêmicos da Paulicéia
Hei de Viver (Kazinho)
Samba no Duro (Kazinho)

Anastacia
Saudade Junina (Kazinho)
Saudade do Meu Pará (Kazinho)

Ary Lobo
Saudades do Meu Pará (Kazinho)

Armando da Mangueira
Hei de Viver (Kazinho)
Chão do Pará (Kazinho/Venâncio)

Baianinha
Saudação aos Orixás (Kazinho)

Ciro Monteiro
Mulher de Compromisso (Kazinho-Aor Ribeiro Filho)

Cleusa Costa
Conjugando (Kazinho)
Garota Gazeteira (Kazinho)

Demônios da Garoa
Isto É São Paulo (Kazinho)

Germano Mathias
Como é que Pode (Kazinho)
Deu a Louca na Nega (Kazinho)
Eu e a Saudade pela Rua (Kazinho)
Meu Viver (Kazinho)
Pressão Baixa (Kazinho)

Lurdinha
Convencido (Kazinho)

Maria Andréa
Barracão Vazio (Kazinho)
Se...(Kazinho)

Noite Ilustrada
A Volta (Kazinho)
Consciente (Kazinho)

Os Pagodeiros do Ritmo
Minha Porta Bandeira (Kazinho)

Renato Tito
Idealizando (Kazinho-Renato Tito)

Roberto Staganelli
Lição de Baião (Kazinho-Aor Ribeiro)
Mulher de Compromisso (Kazinho-Aar Ribeiro)

Wilson Rodrigues
Peça Bis (Kazinho)

Zito Borborema
As Coisas Lindas do Meu Pará (Kazinho)

Matheus Trunk é jornalista. Começou na revista Transporte Mundial e atualmente está no Jornal Nippo-Brasil. Dirigiu a revista eletrônica Zingu! por trinta meses. Mantém o blog Violão, Sardinha e Pão.
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