domingo, 30 de novembro de 2008

Disco da semana: Passado de Glória - Velha Guarda da Portela


A gente fica sempre tentando trazer coisas que são menos conhecidas e às vezes acabamos esquecendo de dar o merecido destaque a discos e artistas mais clássicos. É por isso que o disco desta semana é o bom e velho Passado de Glória, da Velha Guarda da Portela. Trata-se do primeiro registro da Velha Guarda da Portela que, organizada por Paulinho da Viola contava com Casquinha no Surdo, Eliseu no pandeiro, Jair Costa no cavaquinho (considerado por Jacob do Bandolim como melhor palhetada de samba), César Faria no violão.

Sambas que hojem são obrigatórios em qualquer roda de samba que se preze foram revelados através deste disco produzido por Paulinho da Viola. Foi a partir deste LP também que se iniciou o conceito de Velha Guarda tal qual conhecemos hoje.

Destacar somente uma faixa deste disco seria uma tremenda injustiça com as outras. Entretanto gostaria de chamar a atenção não para uma música, e sim para um instrumento. Prestem atenção no violão do velho César. É de arrepiar.

Músicas:
01 - Quantas lágrimas (Manacéa)
02 - Se tu fores na Portela (Ventura)
03 - Desengano (Aniceto)
04 - Sofrimento de quem ama (Alberto Lonato)
05 - Vaidade de um sambista (Francisco Santana)
06 - Chega de padecer (Mijinha)
07 - Levanta cedo (Rufino)
08 - Cocorocó (Paulo da Portela)
09 - Tristeza (Heitor dos Prazeres e João da Gente)
10 - Vida de fidalga (Alvaiade e Francisco Santana)
11 - Ando penando (Alcides)
12 - A maldade não tem fim (Armando Santos)
13 - Alegria tu terás (Antonio Caetano)
14 - Passado de glória (Monarco)

Baixe esse disco no Um Que Tenha.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Inimigos do Batente & João Borba no Anhangüera - HOJE

Hoje tem samba lá no Clube Anhagüera. O convidado da vez é o cantor e compositor João Borba. Uma grande voz do samba de São Paulo e, mais um nome que os Inimigos do Batente resgatam e trazem para o público.

Para quem não o conhece:



Inimigos do Batente: Railídia (voz), Fernando Szegeri (voz, ganzá), Paulinho Timor (percussão geral), Cebolinha (repique de anel), Julio Vellozo (cuíca), Kico Nogueira (cavaquinho), K-belinho (pandeiro), Marcelo Homero (voz, surdo), Luís "Tchubi" (violão de sete cordas).

Clube Anhangüera: Rua dos Italianos, nº 1.261 - Bom Retiro.
Telefone: 3361-1799.
Sexta-feira, 28 de novembro de 2008.
O samba começa às 23h00.
Ingressos: R$ 10,00 + 1 Kg de alimento não perecível ou agasalho

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Diamante Negro fotografado

Um precioso acervo. Pixinguinha com oito anos, Pixinguinha no baile de carnaval, ao lado da mulher Beti, em um evento no Museu da Imagem e do Som...São centenas as fotos do nosso Diamante Negro da música que o Instituto Moreira Salles tem guardadinhas.

Para acessar essa riqueza de imagens, basta entrar no site do IMS, ir em Acervos e Pesquisas e digitar "Pixinguinha" na região de busca com a opção "Fotografias" selecionada.

A dica também vale a pena para quem não conhece o IMS. Lá é possível pesquisar músicas raras, de desde a década de 1910. Está disponível, por exemplo, grande parte da coleção do crítico musical José Ramos Tinhorão. É de deixar o queixo caído.


Vale lembrar também que as fotos aí têm trilhões de direitos autorais. Quem deseja usar de forma comercial deve pedir a licença de uso para os Moreira Salles. Mas, há de se convir que só de ver algumas fotos dessas já é empolgante!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Chorinhos e Chorões, 1974

Gaste 10 minutos do seu dia para assistir ao precioso documentário "Chorinhos e Chorões", feito em 1974 por Antônio Carlos da Fontoura.

Trata-se de um belíssimo panorama do choro, com histórico e filmagens raras, como de Luperce Miranda (que morreria três anos depois) interpretando Picadinho à Baiana, um choro de sua própria composição.

O filme, hospedado no site Porta Curtas pode ser visto aqui. Para abrir a ficha técnica do documentário, clique aqui. E boa sessão!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Quando Lupi saiu de cena

O caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo está comemorando 50 anos. É claro que a Folha fez um hotsite destacando tudo de melhor que estampou a primeira página de um dos mais importantes cadernos culturais de São Paulo. Também aproveita para divulgar seu livro, intitulado Pós-Tudo: 50 Anos de Cultura na Ilustrada.

A capa de 28 de agosto de 1974 é o destaque selecionado pelo Vermute. Trata da morte de um dos mais brilhantes sambistas gaúchos que já se viu: Lupicínio Rodrigues. O arquivo em PDF pode ser aberto aqui e é uma boa para quem gosta de colecionar essas velharias.

O texto do dia trazia grafado "Lupiscínio", embora o compositor tivesse pedido que escrevessem seu nome sem o "S": Vê se dá para escrever meu nome sem 's', que fica muito velho. Prefiro com 'c', sem aquele 's' antes, coisinha chata".

Antes, os pasquineiros já haviam entrevistado Lupi, confira aqui.

domingo, 23 de novembro de 2008

Disco da semana: Ao Vivo - Nelson Gonçalves & Raphael Rabello


É difícil dizer o que é necessário para lançar um grande disco. Entretanto se você juntar um dos intérpretes de maior sucesso da época do rádio com um violonista, que segundo alguns, era melhor que Yamandú Costa, o sucesso será inevitável.

E foi isso que aconteceu em 1989 quando Nelson Gonçalves e Raphael Rabello se uniram para uma temporada de shows no Olympia em São Paulo. De lá saíram sete das quatorze faixas que integram o disco. As outras sete foram gravadas apenas em 1991, em um estúdio do Rio de Janeiro. Há duas participações que abrilhantam ainda mais o disco, Dino 7 cordas aparece na música Deusa da Minha Rua. E na faixa As Três Lágrimas, quem comanda o acordeon é ninguém menos do que Caçulinha, aquele mesmo do Faustão.

Deste disco destaco o clássico da bossa nova, Samba do Avião, em que Raphael consegue reinventar a música com um arranjo totalmente diferente do que prega o ritmo.

Músicas:

01 - Samba Do Avião* (Tom Jobim)
02 -Luiza* (Tom Jobim)
03 - Quem Há De Dizer?* (Alcides Gonçalves/Lupicínio Rodrigues)
04 - Súplica** (Déo/José Marcílio/Otávio Gabus Mendes)
05 - As Rosas Não Falam** (Cartola)
06 - Nunca* (Lupicínio Rodrigues)
07 - Chão De Estrelas* (Orestes Barbosa/Sílvio Caldas)
08 - Fracasso** (Mário Lago)
09 - Velho Realejo** (Custódio Mesquita/Sadi Cabral)
10 - Número Um* (Benedito Lacerda/Mário Lago)
11 - A Deusa Da Minha Rua** (Jorge Faraj/Newton Teixeira)
Part. Especial: Dino 7 Cordas: Violão 7 Cordas
12 - As Três Lágrimas** (Ary Barroso)
Part. Especial: Caçulinha : Acordeon
13 - Naquela Mesa* (Sérgio Bittencourt)
14 - Pra Esquecer** (Noel Rosa)

* Gravado no Olympia
** Gravado no Estúdio

Baixe esse disco no Regálame esta noche.

sábado, 22 de novembro de 2008

Paciência Iracema, paciência

Adoniran se notabilizou pela temática pouco comum de seus sambas. Com Iracema não poderia ser diferente. Nele Adoniran conta a história de um atropelamento de uma mulher e, para completar, a tragédia a menos de um mês do casamento.

O curioso é que ninguém sabe ao certo como é a história do samba. Uma versão dá conta de que Adoniran se inspirou ao ler no jornal uma notícia de uma mulher atropelada na Rua da Consolação. A outra é que Adoniran a compôs para uma mulher que não o correspondia, e um dia, cheio de raiva, disse que ia matá-la. Escreveu o samba, mostrou para ela e disse “Ta aqui ó! Te matei”.

Se foi por conta do jornal ou de um amor não correspondido, isso ninguém nunca vai saber. O fato é que Adoniran transformou um acontecimento qualquer em uma bela crônica. Coisa em que era, de fato, um especialista.

Abaixo segue um vídeo com bela interpretação de Elis Regina e com Adoniran narrando o acontecido.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ao dia da Consciência Negra

Através do belíssimo Jongo de Wilson Moreira e Nei Lopes, o Vermute com Amendoim celebra o dia da consciência negra.

Jongo do Irmão Café (Wilson Moreira / Nei Lopes)




Auê, meu irmão café!
Auê, meu irmão café!
Mesmo usados, moídos, pilados, vendidos, trocados, estamos de pé:
Olha nós aí, meu irmão café!

Meu passado é africano
Teu passado também é.
Nossa cor é tão escura
Quanto chão de massapé.
Amargando igual mistura
De cachaça com fernet
Desde o tempo que ainda havia
Cadeirinha e landolé
Fomos nós que demos duro
Pro país ficar de pé!

Auê, meu irmão café!
Auê, meu irmão café!
Mesmo usados, moídos, pilados, vendidos, trocados, estamos de pé:
Olha nós aí, meu irmão café!

Você, quente, queima a língua
Queima o corpo e queima o pé
Adoçado, tem delícias
De chamego e cafuné
Requentado, cria caso,
Faz zoeira e faz banzé
E também é de mesinha
De gurufa e candomblé
É por essas semelhanças
Que eu te chamo "Irmão Café"

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Martinho na gringa

Em 1977, o cineasta Ari Cândido Fernandes acompanhou o sambista Martinho da Vila, na época com 39 anos, para uma turnê em Paris. A viagem resultou em um curta-metragem que mostra uma apresentação de Martinho na TV, as andanças do sambista pela capital da França e umas filosofias bem inspiradas nos botequins parisienses. Vale a pena assistir!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Lançamento à vista

"A carreira do Candeia pode ser dividida em duas partes: a primeira é lírica e a segunda, mais social. A paralisia fez com que tivesse mais tempo para refletir sobre a vida e si mesmo", diz João Baptista M. Vargens, amigo e biógrafo do compositor.

No dia 2 de dezembro, institucionalizado como dia nacional do samba, Vargens relançará Candeia: Luz da Inspiração, a terceira edição da única biografia autorizada de Antônio Candeia Filho, esgotada em duas tiragens, publicadas em 1987 e 1997.


Para acompanhar a leitura, um CD com 25 músicas inéditas do compositor, cinco delas interpretadas pelo próprio Candeia. Já as outras estão nas vozes de Walter Rosa, Casquinha, Wilson Moreira e Monarco.

Comemorando Candeia

Nesta terça-feira se completam 30 anos de morte de Candeia. Em São Paulo, a comemoração ao mestre partideiro será feita no sábado, por Teresa Cristina e pelas pastoras portelenses – Tia Surica, Tia Doca, Áurea Maria (filha de Manacéa) e Neide Santana (filha de Chico Santana).

A festa será no Bar Samba, na Vila Madalena. Anote aí:

Teresa Cristina e as pastoras da Portela. Bar Samba. Rua Fidalga 308, Vila Madalena, 3819-4619. Sábado, 15, a partir das 12 h. R$ 60

Leia a matéria completa no jornal O Estado de S.Paulo para saber como Candeia ficou paralítico

domingo, 16 de novembro de 2008

Disco da semana: 1978 - Roberto Ribeiro

"Roberto é uma das mais belas vozes do samba, em todos os tempos. O timbre de sua voz é personalíssimo. Forte mas doce. Comovente quando precisa. Festeiro quando tem de ser. Romântico quando quer. Emocionante sempre. É sambista porque está na veia. Seria seresteiro fácil, bastava ter chance. Voz de Homem. Sem afetações, nem importações. Trovador do canto lento. Puxador do samba-enredo. Porta-voz do partido-alto das rodas dos mestres. Mensageiro dos quilombos. Cantador dos seus e dos nossos sentimentos. Cantor de qualquer tempo e de qualquer música. Sem os rótulos convencionais.Digno representante do que significa verdadeira e simplesmente cantar. Qualquer compositor gostaria de ter seu repertório perpetuado no bronze dessa garganta.É voz tecida com fios de metal puro nas mãos do Grande Artesão Divino. Voz mestiça das cores do arco-íris. Voz de luz espargida. Voz de água encachoeirada.Roberto já tem sua voz na galeria das gargantas abençoadas. Assim declaro e reconheço firma."

Paulo César Pinheiro

Grande disco! Dele destaco os clássicos Meu Drama, em que há uma interpretação primorosa de Roberto, e o belo samba enredo do GRANES Quilombo, Ao Povo em Forma de Arte.


Todo Menino é um Rei (Nelson Rufino / Zé Luiz) - Roberto Ribeiro


Músicas:
1 - Todo menino é um rei (Nelson Rufino / Zé Luiz)
2 - Favela Jorge Lucas / Edson Paiva)
3 - Isso não são horas (Catoni / Xangô da Mangueira / Chiquinho)
4 - Meu drama (Silas de Oliveira / J. Ilarindo)
5 - Flor mulher (Noca da Portela / Joel Menezes / Carlito Cavalcante)
6 - Noite amiga (Roberto Ribeiro / Joel Menezes)
7 - Amei demais (Flávio Moreira / Liette de Souza)
8 - Um poema pra você (Fonte de inspiração)(Silvio da Silva)
9 - Rosas do mar Roberto Ribeiro / Toninho Nascimento)
10 - Quero (Dida / Dedé da Portela)
11 - Ao povo em forma de arte (Wilson Moreira / Nei Lopes)
12 - Não sou feliz no amor (Monarco)

Baixe aqui o disco via CD Covers Grátis.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O Rio por Zé Kéti

Salve salve gente boa! Resolvi criar uma seção cujo o intuito é único e exclusivamente curtir uns bons sambas. Afinal de contas, o Muxtape já é coisa do passado e acredito que falta este tipo de espaço neste blog. A princípio darei espaço a sambas que julgo possuir aquele algo mais, seja ele conhecido ou não.

A primeira brasa que será colocada é um samba de autoria do grande Zé Kéti - aliás, hoje completa nove anos de sua morte -, chamado "O Retrato do Rio". Trata-se de uma bela homenagem aos grandes bambas que fizeram a história do samba.

O Retrato do Rio (Zé Kéti)



Catoni faz o enredo
Monarca faz o sambão
E o Fuleiro manda brasa na moçada com seu violão
Silas de Oliveira e Zuzuca
Essa dupla sensacional
Não me levem a mal
Se por acaso esquecer de alguém
Neste samba tradicional

O Martinho, o Cartola
Todos dois da minha escola
Em matéria de fazer composição
E agora o Paulinho da Viola
Meu pupilo faz sucesso
Nessa aposta, nesse estilo
Na Portela tem Candeia, Walter Rosa e Jabolô
No Império, o Jorginho sim, senhor
Salgueirense gente boa, Noel Rosa de Oliveira
Anescar e Narcisa pra sambar

Catoni faz o enredo
Monarca faz o sambão
E o Fuleiro manda brasa na moçada com seu violão
Silas de Oliveira e Zuzuca
Essa dupla sensacional
Não me levem a mal
Se por acaso esquecer de alguém
Neste samba tradicional

Outro nome vou citar
Todos devem respeitar
Nelson Cavaquinho é nosso rei
O Jair não fica atrás
E o Elton, bom demais
O Sargento em Mangueira é cartaz
Padeirinho também
Mano Décio, Mano André
Seu Darcy e Seu Leléu
Representam bem o samba de Noel, ou Ismael
O Comprido e o Preto Rico
O Pelado dos Originais
São bons, são bons demais

Quem inventou o samba foi o Donga
Em seu tempo de rapaz
Quem inventou o samba foi o Donga
Que pra mim é muito mais


Baixe aqui "O Retrato do Rio"

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sacudido e dançante

Hoje o Vermute conta com a ilustre participação de um amigo-convidado. O jornalista Alexandre Agabiti, editor da Revista Invicto, escreve sobre o segundo disco do francês Nicolas Krassik, intitulado "Caçuá". Aproveitem:



“Caçuá” dá continuidade à linha adotada no primeiro CD: uma bem-dosada combinação de tradição e modernidade em que o respeito à tradição não engessa a ousadia, gesto que renova os gêneros. O repertório é bastante equilibrado, com clássicos e composições inéditas. Dono de uma técnica sólida, Nicolas Krassik não cai na tentação fácil de exibir seu virtuosismo com malabarismos estéreis. Prefere tocar de modo mais sóbrio, valorizando a melodia, sem nunca perder a fluidez e o matiz lírico do fraseado.

Uma bela versão de “Deixa a menina”, de Chico Buarque, abre o disco. O violino brilha soberano na melodia e nos improvisos, escoltado pelo violão de sete cordas de Nando Duarte. A segunda faixa, que dá nome ao CD, de João Lyra e Maurício Carrilho, apresenta a tradição da viola caipira e dos ritmos nordestinos e uma delicada melodia exposta pelo violino. “Juízo Final”, de Nélson Cavaquinho e Élcio Soares, ganha ares meditativos no arranjo de Krassik, em que o pizzicato da primeira parte cede lugar na segunda às notas alongadas do violino tocado com arco. Uma gravidade semelhante domina a releitura de “Último desejo” (Noel Rosa), arranjada por Luís Filipe de Lima e Krassik em compasso de choro.

Os ares nordestinos chegam no medley de “Sanfona Sentida” (Anastácia e Dominguinhos) e “Cheirinho de Mulher” (Sivuca), em que o violino mantém um diálogo com o acordeon de Chico Chagas. Acreano radicado no Rio, Chagas tem formação jazzística, arranja e compõe. Para o primeiro disco de Krassik, compôs “Forró do Ça Va”, um baião cheio de afetuoso lirismo. Com razão, Krassik o considera como o melhor acordeonista brasileiro depois de Dominguinhos. O sabor nordestino continua no xote “Na casa do Zezé”, composição de Chagas que se destaca pela beleza da melodia.

Um dos pontos altos do disco é “Casamento da raposa”, de Gerson Filho, arranjada por Marcelo Caldi. A partir de uma cadência marcada por zabumba, pandeiro e triângulo, os outros instrumentos – bandolim, violino, acordeon, dois violões de sete cordas, além do pífano e do sax soprano de Carlos Malta – se lançam em uma dança eletrizante, cheia de verve. Sabor mediterrâneo é a tônica de outro medley, reunindo a folclórica “Karanfil” e “Santa Morena”, de Jacob do Bandolim, em que o violino leva o ouvinte para um passeio por sonoridades árabes-andaluzas.

O Nordeste volta à baila no pot-pourri final, no qual Krassik toca três temas ao lado do rabequeiro pernambucano Luiz Paixão: “Bem temperado” e “Arrumadinho”, de Paixão, e “Flor de ingazeira”, de Nelson da Rabeca. O registro é rústico, seco como o sertão.

Pela primeira vez, Krassik – que se considera muito mais intérprete do que compositor – gravou duas peças de sua autoria: “Petite maman” e “Meu maxixe”. A primeira é uma terna homenagem à mãe, que morreu em 2005. Nas palavras do violinista, “ela mostra meu lado europeu, pois a melodia evoca Chopin, compositor que minha mãe gostava de tocar, e meu lado brasileiro, pois o ritmo é de samba”. A outra composição é um tema sacudido e dançante – como boa parte do disco –, e é vista por Krassik como mero “exercício de estilo”. Pode-se concordar ou não com a afirmação, mas é certo que o francês aprendeu a lição.


Ficou interessado? Baixe aqui o disco para conhecê-lo melhor.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Havaianas e Carmem Miranda

:Não consta que Carmem Miranda tenha feito um comercial de chinelas durante seus 46 anos de vida. Mas os publicitários brasileiros não perderiam a chance de colocar a portuguesinha mais brasileira que já existiu para vender Havaianas.

Para isso contrataram uma cantora que não explodiu, mas tinha talento: Rosemary. Afinal imitar a Pequena Notável (com qualidade) não é pra qualquer um:

terça-feira, 11 de novembro de 2008

As mágoas afogadas

Quem é que nunca atribuiu um porre a uma dor de amor? Se a desculpa é verdadeira ou não é difícil dizer, mas é fato que ela serve de justificativa para muitas bebedeiras. Alguns privilegiados ainda somam a toda esta situação, o dom para compor belíssimos sambas. Logo de primeira me vem a mente a obra-prima "Cantar Para Não Chorar" de Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres que diz:

Rir para iludir
Cantar para não chorar
Beber para esquecer
O nome daquela ingrata
Que me fez sofrer

Os versos de Cartola e Elton Medeiros também já cantaram em "Peito Vazio" um afogamento de mágoas num copo cheio.

Procuro afogar no álcool a tua lembrança
Mas noto que é ridícula a minha vingança




Há também a bela composição de Martinho da Vila, "Disritmia", que diz:

Me deixe hipnotizado
Prá acabar de vez com essa disritmia
Vem logo, vem curar seu nego
Que chegou de porre lá da boemia

Disritimia

Finalizo este post com uma canção que está no mesmo nível das demais apresentadas acima, porém não tão conhecida. A música chama-se “Taça de Vinho” e é de autoria de Wilson das Neves:


Taça de Vinho

Você deixou dentro de mim
Uma taça partida
Derramou no caminho do meu peito
O vinho da ilusão perdida

Você deixou minha´lma assim
Uma estrela caída
Fez um rodamoinho e me largou sozinho
Nos confins da vida

Você deixou um corte de punhal
E ainda sangra esta ferida
E nem mesmo a bebida
Tira o amargo sabor da paixão

Você deixou na taça de cristal
A marca desta despedida
A aliança rompida
Entre o meu e o teu coração

Uma noite manchada
Uma taça quebrada
Uma gota de dor
Dentro dos olhos meus
Um silêncio cruel de adeus
E a minha face perdendo a cor
Um aceno na estrada
Uma estrela cortada
Um perfume de flor
Em meu leito depois
E esse vinho lembrando os dois
Me afasta sempre de um novo amor

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Três versões para Carinhoso

Um brinde às obviedades!

"Carinhoso" já foi eleita pela Revista Bravo! como a música mais importante do cancioneiro nacional. Mas essas listas sempre causam polêmica e esse não é o objetivo deste post. A verdade é que qualquer brasileiro reconhece a música de Pixinguinha com apenas quatro notas (as referentes ao verso Meu coração).

Aliás nem sempre essa música foi letrada. Em 1917, quando foi composta, Pixinguinha tinha vergonha de tocá-la em público. O choro, só com duas partes, e não três, como eram os ditames da época, não seria bem-aceito. “Eu não tocava. Ninguém ia aceitar”, disse em um depoimento dado em 1968 para o Museu da Imagem e Som do Rio de Janeiro.

E demorou mesmo para tocar. Só em 1928 é que foi registrada na versão instrumental. Ouça aqui a primeira gravação. Depois de algumas gravações sem sucesso, a música recebeu a famosa letra. Escrita em outubro 1936 por João de Barro, o Braguinha, a letra foi um pedido da atriz e cantora Heloísa Helena, que iria participar de um espetáculo beneficente chamado Parada das maravilhas. Com letra, Orlando Silva, o cantor das multidões, gravou a música no lado B de um compacto duplo lançado em 1937. Escute como ficou.

Mas a versão que eu quero colocar, entre as mais de 200 que já foram feitas, é outra. Em 1970, três anos antes da morte do compositor, foi gravado o disco "São Pixinguinha", cuja capa ilustra o post. A faixa oito tem um arranjo camerístico, é de impressionar:


domingo, 9 de novembro de 2008

Disco da semana: Samba da Cidade - Moacyr Luz

UPDATE: Baixe aqui o disco.


O "Samba da Cidade", na minha opinião, é um dos melhores discos do Moacyr Luz. Talvez seja porque a maioria das músicas mostrem a cidade do Rio de Janeiro, que o compositor sempre exaltou, por uma perspectiva diferente. Seja exaltando personagens como Pixinguinha e o "ítalo-carioca" Lan, ou até mesmo lugares como a Praça Mauá e o bairro de Vila Isabel. Grandes bambas dividem a parceria dos seus sambas no disco. Entre eles estão Martinho da Vila, Nei Lopes, Wilson Moreira, etc.

Mitos Cariocas: Lan (Moacyr Luz / Aldir Blanc)

Músicas:
01 - Tudo que eu Vivi (Moacyr Luz / Wilson das Neves)
02 - Vila Isabel (Moacyr Luz / Martinho da Vila)
03 - Som de Prata (Moacyr Luz / Paulo César Pinheiro)
04 - Zuela de Oxum (Moacyr Luz / Martinho da Vila)
05 - Vinte-e-Sete-Zero (Moacyr Luz / Nei Lopes)
06 - Você Não Parece Mais Você (Moacyr Luz / Aldir Blanc)
07 - Briga de Família (Moacyr Luz / Martinho da Vila)
08 - Faça Chuva ou Faça Sol (Moacyr Luz / Aldir Blanc)
09 - Mitos Cariocas: Lan (Moacyr Luz / Aldir Blanc)
10 - Praça Mauá: Que Mal Há? (Moacyr Luz / Aldir Blanc)
11 - Eu só Quero Beber Água (Moacyr Luz)
12 - Cabô, Meu Pai (Moacyr Luz / Aldir Blanc / Luis Carlos da Vila)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Paula Mirhan: talentosa e jovial

Ela canta, faz careta e mostra uma procura bastante pessoal em relação à leitura que faz das músicas que interpreta. Anteontem em Corumbá, sua cidade natal, ontem em Campinas e há quatro anos em São Paulo, o ponto de chegada do percurso percorrido até agora por Paula Mirhan.

Paula tem 25 anos, é cantora e atriz formada em artes cênicas pela Unicamp. Desde menina sentia que para ela Corumbá era uma cidade pequena demais. Mudou seu cantinho para um aconchegante apartamento em uma travessa da Rua Augusta.

Dentre as demais escolhas que fez, a Universidade Livre de Música-Tom Jobim foi determinante na sua carreira. Lá, venceu o Festival da ULM na categoria intérprete em 2006. Dois anos depois ela concorre novamente ao mesmo prêmio.

Foi também nos corredores da instituição que conheceu o amigo, compositor e violonista Wagner Barbosa. Na etapa atual desse caminhar, Paula e Wagner, além de amigos são colegas de profissão e dividem o palco. Sábado a jovem cantora interpreta as composições de Wagner no segundo e último final de semana de lançamento do CD “Amanhecer”.

Os dois músicos apresentarão um repertório que transita por gêneros tipicamente brasileiros, como o samba Amanhecer, que dá nome ao disco, e a humorada Paris, Francamente, os sambas-canção Clichê e Volta, as bossas Meio Samba e Escolha, o baião Boto, além das inclassificáveis Realejo e Móbile. A última elogiada por Mônica Salmaso, que sugeriu o título ao associar a melodia da música com a idéia do objeto. O genial Guinga também elogiou as composições de Wagner, "nossa, posso dizer que essa música é guinguiana?"

Apesar de apostar na venda do próprio disco, os dois disponibilizam suas faixas como uma forma de combate aos abusivos preços praticados nas prateleiras de Cd´s. Escute o material na íntegra aqui.
Wagner traz para as letras principalmente uma leitura bastante pessoal sobre o desalento e implicações que estão envolvidos no saber amar com liberdade. Paula interpreta as composições com calma. O resultado é um bonito CD, começando pelo bom gosto do encarte. Mas o precioso é que o embrulho não vem vazio, resguarda um material de melodias agradáveis, arranjos simples, que, sim, comunicam. Pequenos segredos podem ser descobertos por um bom ouvinte que estiver atento aos ricos detalhes que foram muito bem escolhidos: o barulho delicado de um móbile no início da faixa oito, uma brincadeira de estúdio na voz de Paula Mirhan “ai esse povo bagunceiro!”, que foi incorporada em Escolha, faixa sete e que dão ar de acabamento ao CD. O material de pouco mais de 35 minutos traz músicas que são breves sem deixarem de ser profundas, mas que justamente por apresentarem fluidez, poderiam vez ou outra, se esticarem mais.

O CD foi gravado entre maio de 2006 e maio de 2007.
Paula exala uma mistura bem temperada de movimento e reflexão. “Muitas vezes fazemos o contrário, mas acho que devemos priorizar teorizar aquilo que experimentamos”. Paula experimenta e caminha na música, feliz.

Ela estuda percepção, técnica vocal e harmonia. “Música para mim sempre foi letra”, conta. Mas aprendeu a trabalhar a voz como um instrumento, e está mais atenta hoje para a dinâmica e o ritmo.

Para agregar mais valor ao seu trabalho, Paula costuma beber nas outras artes. O cinema, uma fonte inesgotável de inspiração, é para ela também ferramenta de trabalho. “Percebo que é muito difícil encontrar cantores interados das outras artes, como literatura, teatro ou cinema. Dou muita importância a isso. "
Nos papos sobre música brasileira é muito fácil encontrar discursos saudosistas, desmotivados com a produção atual. O duro é que muitas vezes por trás desta saudade aparece um ouvinte pouco curioso e distante do material que está sendo produzindo hoje. Para quem ainda se mostra vivaz e disposto, fica aqui uma bela dica para este final de semana.

LANÇAMENTO DO DISCO AMANHECER - Paula Mirhan e Wagner Barbosa.
Onde: TEATRO X - Rua Rui Barbosa, 399 - Bixiga

Quando: dia 08/11 as 16h - convidado especial: Conrado Paulino 09/11 - 16h - convidado especial: Chico Saraiva
Ingresso: R$ 15 (estudantes: R$ 7,50).

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Dicas - SP & RJ

Seguem duas dicas para quem quiser curtir boa música. Uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro.

A boa do Rio de Janeiro é que desde ontem está em cartaz o espetáculo "Aracy de Samba e de Almeida" no Teatro Sesc Ginásio. O evento é classificado como um "show cênico" e faz parte do projeto "Chora que passa". Criado pela atriz e cantora Carol Bezerra (que é quem interpreta Aracy), o projeto visa a elaboração de shows com o repertório calcado na música brasileira, e homenagenado grandes nomes do passado. Para quem ainda está com o pé atrás, pode tirar a dúvida assistindo ao filme "Noel, O Poeta da Vila", já que no filme o papel de Aracy fica por conta da própria Carol.

TEATRO SESC GINÁSIO
Onde: Avenida Graça Aranha, 187 - Centro.
Ingressos: R$ 24,00.
Quando: 4, 5, 6, 11, 12, e 13 de novembro.
Horário: Terça a quinta, 19:00. No dia 6 de novembro o espetáculo terá ínicio às 19:00
Outras Informações: (21) 2279-4027

Já em São Paulo, será possível assistir nesta sexta-feira o documentário "Eu Sou o Povo", de Bruno Bacellar, Regina Rocha e Luís Fernando Couto. O filme conta a história de Candeia e de como se deu a formação do Quilombo. Pra quem se interessou a sessão ocorrerá na Cinemateca Brasileira às 20:00.

CINEMATECA BRASILEIRA
Onde:
Largo Senador Raul Cardoso, 207 - próxima ao Metrô Vila Mariana
Ingressos: R$ 8,00 (inteira) / R$ 4,00 (meia-entrada)
Quando: 7 de novembro
Horário: 20:00
Outras informações: (11) 3512-6111 (ramal 215)
http://www.cinemateca.gov.br/

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sepultura na Bossa

Partamos do ponto que a Bossa Nova cansou mesmo quem gosta de Bossa Nova. Todo mundo quis fazer um showzinho, gravar um disquinho, ficar engraçadinho. Foi exposição, filme, teatro, livro, cd´s e mais cd´s, música especial, site, revista, encarte de jornal, papel higiênico...Tudo em homenagem à Bossa.

E teve muita gente que resolveu aproveitar a efeméride para papar alguns trocados tem Diana Krall, Fernanda Takai, Os Cariocas, a Folha de S.Paulo...Imagina se a moda pega e o Sepultura faz igual?



Fica a homenagem do Vermute a todos que não fizeram discos em homenagem à Bossa Nova.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Focalizando o Bar do Alemão

Hoje o VCA inaugura mais uma seção. "Nas lentes do samba" é a ponta de um iceberg multimedia. A idéia é apresentar fotos de lugares onde o samba é de qualidade. Quem sabe, mais pra frente chegamos à era do vídeo? Aproveitem.


A fotógrafa e amiga que estréia o "Nas lentes do samba" é Luiza Fagá. Eu, ela e o Murilo demos um pulo no bar do Alemão, brilhantemente administrado por Eduardo Gudin que nas quintas-feiras de roda aparece lá par dar uma canja. Sem mais delongas, as fotos:

Visto lá de cima

Descendo a escadinha


De frente pro balcão

De frente pra roda

domingo, 2 de novembro de 2008

Disco da semana: Conjunto Rosa de Ouro, Aracy Cortes & Clementina de Jesus


Idealizado por Hermínio Bello de Carvalho, o espetáculo Rosa de Ouro reunia nomes de grandes bambas. Além dos já falecidos Anescarzinho do Salgueiro e Jair do Cavaquinho, integravam o conjunto Elton Medeiros, Nelson Sargento e Paulinho da Viola.

Clementina de Jesus também participava do espetáculo, porém o ponto alto do disco ocorre quando Aracy Cortes, atriz que ficou famosa nas décadas de 30 e 40 por seus trabalhos no teatro de revista, dá o recado. Com uma voz "operística", Aracy canta o samba "Ai Ioiô", o famoso maxixe "Jura", a marcha-rancho "Rouxinóis" e encerra o disco com "Rosa de Ouro". As interpretações dela – com sua bela voz, empostação musical e modo de cantar – seguiam o lirismo dos cantores da época do rádio.

Músicas:
1 - Pot-pourri:
• Rosa de ouro (Hermínio Bello de Carvalho-Élton Medeiros-Paulinho da Viola)
• Quatro crioulos (Élton Medeiros-Joacyr Santana)
• Dona Carola (Nelson Cavaquinho-Norival Bahia-Walto Feitosa)
• Pam pam pam (Paulo da Portela)
2 - Senhora rainha (Lobos - Hermínio Bello de Carvalho)
3 - Ai Ioiô (Linda flor) (Henrique Vogeler - Marques Porto - Luiz Peixoto)
4 - Os rouxinóis (Lamartine Babo)
5 - Jura (Sinhô)
6 - Pot-pourri :
• Escurinho (Geraldo Pereira)
• Se eu pudesse (Zé da Zilda)
• Nem é bom falar (Ismael Silva-Francisco Alves-Nilton Bastos)
7 - Pot- pourri:
• Sobrado dourado (Nelson Cavaquinho-César Brasil-Antônio Braga)
• Clementina, cadê você? (Élton Medeiros)
• Benguelê (Pixinguinha-Gastão Vianna)
• Boi não berra (Folclore)
• Siá Maria Rebôlo (Folclore)
• Maparaêma (Folclore)
8 - Nasceste de uma semente (José Ramos)
9 - Bate-canela (Folclore)
10 - Semente do samba (Hélio Cabral)
11 - Rosa de ouro (Élton Medeiros - Hermínio Bello de Carvalho - Paulinho da Viola)

Baixe esse disco no Cápsula da Cultura.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...