sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

E mais Candeia!

Já que o assunto é Candeia, vale mais uma dica. No próximo dia 11, voltará a ser encenado o espetáculo "É samba na veia, Candeia", no Teatro Casa Grande, que agora é Oi Casa Grande.

Indicada no Prêmio Shell na categoria de melhor autor e melhor música, a peça tem direção de André Paes Leme e conta a vida deste sambista que largou o cargo de policial civil e acabou dedicando-se especialmente à música.

Para quem se interessou, as exibições serão de quarta a sábado às 21h30 e domingo às 19h. O valor do ingresso ainda não foi divulgado.

Pra dar gosto, o documentário feito por Leon Hirzman

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Lançamento à vista

O começo de fevereiro vai ser quente em Mendes, no Rio de Janeiro. Isso porque no dia 1º, a partir das 10h30, na Praça Dr. João Néri o samba vai rolar solto com o Grupo Passagem de Nível interpretando composições do mestre Candeia.

O motivo da festa é o lançamendo do livro “Candeia, Luz da Inspiração”, de João Batista M. Vargens. Com ilustrações do ítalo-carioca Lan e de Nei Lopes, o livro é acompanhado de um CD com 23 canções inéditas.

Uma boa pedida!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Uma homenagem ao Rio de Janeiro

O trio que assina a composição é peso pesado. Moacyr Luz, Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro exaltam o Rio de Janeiro no belo samba "Saudades da Guanabara". Confira aí:



Saudades da Guanabara
Eu sei
Que o meu peito é lona armada
Nostalgia não paga entrada
Circo vive é de ilusão (eu sei...)
Chorei
Com saudades da Guanabara
Refulgindo de estrelas claras
Longe dessa devastação (...e então)
Armei
Pic-nic na Mesa do Imperador
E na Vista Chinesa solucei de dor
Pelos crimes que rolam contra a liberdade
Reguei
O Salgueiro pra muda pegar outro alento
Plantei novos brotos no Engenho de Dentro
Pra alma não se atrofiar (Brasil)
Brasil, tua cara ainda é o Rio de Janeiro
Três por quatro da foto e o teu corpo inteiro
Precisa se regenerar
Eu sei
Que a cidade hoje está mudada
Santa Cruz, Zona Sul, Baixada
Vala negra no coração
Chorei
Com saudades da Guanabara
Da Lagoa de águas claras
Fui tomado de compaixão (...e então)
Passei
Pelas praias da Ilha do Governador
E subi São Conrado até o Redentor
Lá no morro Encantado eu pedi piedade
Plantei
Ramos de Laranjeiras foi meu juramento
No Flamengo, Catete, na Lapa e no Centro
Pois é pra gente respirar (Brasil)
Brasil
Tira as flechas do peito do meu Padroeiro
Que São Sebastião do Rio de Janeiro
Ainda pode se salvar


A versão postada aqui se encontra no disco Vitória da Ilusão (1995), do Moacyr Luz.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Pandeiro assuecado

Vou abrir uma exceção à epígrafe deste blog, pelo menos em parte. Isso porque o protagonista deste post nasceu em Västerås, uma cidade nada brasileira na Suécia! Com vocês Magnus Lindgren!

Aí você me pergunta. Tá, o cara é sueco e aparentemente toca sax. Mas por qual razão ele apareceu neste blog? Para responder basta escutar o novo projeto de Magnus, intitulado "Batucada Jazz". Gravado entre o Rio de Janeiro e Estocolmo, o disco terá as músicas com uma levada bem carnavalesca. Uma verdadeira batucada.

No site oficial do músico é possível ouvir um esboço do que será o novo disco, mas o Vermute selecionou alguns aperetivos:





50 anos de samba - Parte II

Conforme prometido, segue a segunda parte do artigo do Jornal O DIA de 1972. A primeira parte você encontra aqui.

ATRAVÉS DOS ANOS

De 1917 em diante antes desse ano o samba era apenas tango - o samba cresceu, agigantou-se e centenas de musicos se projetaram compondo e interpretando o ritmo brejeiro, que tinha o condão de fazer com que todo o mundo mexesse as cadeiras aos seus primeiros acordes.

Nomes famosos se mantiveram por muito tempo em cartaz, tais como Heitor dos Prazeres, Caninha, Ismael Silva que com Donga, Pixinguinha e Sinhô integraram a "Turma da Velha Guarda". Com o passar dos anos, novos compositores talentosos foram surgindo, como Ary Barroso, Noel Rosa, Lamartine Babo etc. Pelos  idos de 1920 começaram a surgir os grandes interpretes do samba e um deles, Francisco Alves que se iniciara cantando em teatros, acabou se constituindo no maior de todos, só encerrando a sua gloriosa carreira de "Rei da Voz" em setembro de 1952, vitimado por um tragico desastre de automovel. Mas durante o seu reinado, outros cantores celebres surgiram, tais como Araci Côrtes, Aracy de Almeida, as irmãs Carmen e Aurora Miranda, as irmãs Marilia, Dircinha e Linda Batista, entre as mulheres, e Orlando Silva, Roberto Silva, Moreira da Silva, o "Rei do Breque", Ciro Monteiro, Ataulfo Alves, Silvio Caldas, Mário Reis, enfim, uma plêiade de cantores inspirados e que valorizavam os ritmos brasileiros através de interpretações sensacionais que nos furtamos de enumerar para não alongar muito esta discriminação despretenciosa do que foi  e é nosso muito bem amado samba.

DESTAQUES

Se é justo afirmar-se que Francisco Alves foi o maior cantor brasileiro de todos os tempos; se é justo também dizer que Donga foi o primeiro sambista a surgir no campo da musica popular brasileira, justiça também se faça a alguns compositores que se tornaram imortais pelo muito que deram em favor dos nossos ritmos. Noel Rosa, por exemplo, nascido na rua Teodoro da Silva, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, no dia 11 de dezembro de 1910, foi dos mais prolificos autores, e aí estão "Com que roupa", "Palpite infeliz", "João Ninguém", Côr de cinza", e o mais belo samba de todos, o magistral "Ultimo desejo", para contar o seu valor como poeta popular. Suas letras apresentavam magistral originalidade, mracante lirismo e sentimento, ao mesmo tempo que transbordava ironia e inegavel espirito satirico. Foram 212 as peças musicais que compôs e que entraram para a historia do nosso samba.

Mas há Ary Barroso, nascido em Ubá, Minas Gerais, o celebrado autor de "Na baixa do Sapateiro", "Faceira", "Um samba em Piedade", "Terra Sêca", "Rancho Fundo", "Falsa de Consciência", "Maria" etc. Ary Barroso permanecerá para sempre como uma das grandes figuras do nosso patrimônio artístico-musical, mas há também Lamartine Babo, nascido no Rio de Janeiro, na rua Teofilo Otoni, a 10 de janeiro de 1904, o mais bem humorado compositor daquela época de ouro da nossa musica.

Lamartine Babo foi autor prolifero. O conhecimento intimo que teve com Nazareth, um dos mais geniais autores brasileiros e talvez o criador sem contestação dos chôros que entraram para a história como o verdadeiro motivo das gostosas serestas brasileiras. Figura admiravel de compositor, faleceu em 1963, mas a safra de suas composições é enorme: em 1924, êle compusera "Nunca, jamais, em tempo algum" e "De paleto curtinho", cantadas e gravadas na velha Casa Edison por Francisco Alves e Frederico Rocha. Talvez a unica restrição que se possa fazer a Lamartine Babo é que ele não era realmente um sambista cem por cento, eis que preferia extravasar a sua bossa através das queridas marchinhas de então e que foram cantadas por todo o Brasil. "A tua vida é um segredo"e "Na virada da Montanha", podem ser apontados como dois de seus mais inspirados sambas, que Mario Reis e Francisco Alves, respectivamente, deram cores e conduziram à fama merecida que até hoje desfrutam.

Porém a lista dos grandes autores de samba é enorme. Forçosamente temos que mencionar João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga); Custódio Mesquita; André Filho, Jonjoca (João de Freitas Ferreira); Mario Travasso de Araujo; Alcebiades Barcelos e Armando Viera Marçal; Orestes Barbosa; Benedito Lacerda; Romualdo Peixoto, o Nonô; Francisco Queiroz Matoso, José Gelsomino, o Kid Pepe, Germano Augusto; Assis Valente; Gadê e Walfrido Silva; J. Cascata e Leonel Azevedo; Valdemar de Abreu; o Dunga; o grande Ataulfo Alves; Herivelto Martins e Lupicinio Rodrigues. Impossivel é apontar todos os grandes sambistas dos ultimos cinquenta anos, mas há que se fazer justiça a outros mais como Nilton Bastos, Ismael Silva e Dorival Caymmi.

Propositalmente misturamos cantores e autores, porque a bem da verdade, deve-se frizar que todo cantor brasileiro em geral faz samba também, assim como todo autor , também sabe bem ou mal interpretar as suas composições.

Não queremos encerrar este capitulo dedicado aos cantores e compositores , sem fazer referência a uma dupla extraordinária que tantos louros colheu, a integrada por Joel de Almeida (o Magrinho Elétrico) e Gaucho, os admiráveis interpretes de "Estão batendo". Depois de muitos anos, Joel ainda está por aí em atividade, sempre elegante, sempre jovial e cantando os seus maravilhosos sambas entre os quais destacamos "Madureira Chorou", um dos melhores que temos noticia. E não nos esqueçamos também, (pois seria grande pecado nosso), de citar Mário Reis, o elegante advogado carioca que se transformou num dos maiores sambistas de todos os tempos e ao qual se pode adjudicar o titulo de "primeiro sambista bossa nova" da nossa história musical.

Há quatro décadas, Mario Reis cantava com sabor modernissimo o "Se você jurar",  samba que lhe deu fama e o introduziu  de corpo e alma na nossa musicografia popular, às vezes fazendo dupla com Francisco Alves (Chico Viola). Ainda recentemente, um novo LP de Mario Reis foi lançado e por êle a atual geração de interessados no samba poderão notar que o seu estilo inimitavel é sempre o mesmo, confundindo-se em certos aspectos com a nova escola, que é forçoso dizer, não guarda resquicios do verdadeiro samba do morro, do samba-escola, do samba-contagiante.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Disco da semana: Tributo a Caco Velho - Germano Mathias


No dia em que a cidade de São Paulo faz 455 anos, o disco desta semana não poderia ser de outro sambista que não um que é a própria tradução da cidade, Germano Mathias. No disco Tributo a Caco Velho, Germano presta uma homenagem ao seu amigo e principal influenciador na maneira de cantar. Caco, que ostentava o apelido de sambista infernal por conta dos improvisos e do domínio rítmico, era natural de Porto Alegre. Porém, foi em São Paulo que ele se tornou conhecido.

Além de algumas composições do próprio Caco, há um samba de Padeirinho que nunca havia sido gravado. Outra coisa curiosa, é que a música "Tempo Feliz" é do autor do livro sobre a vida de Germano Mathias. Aliás trata-se de um livro muito bem escrito, sobre o qual falarei mais para frente.

Músicas:
01- Meu Fraco é Mulher (Conde / Heitor de Barros)
02- Uma Crioula (Caco Velho / José Saccomani)
03- Barriga Vazia (B. Fonseca / Luiz Alex)
04- Por um Beijo Teu (Cyro de Souza)
05- Tempo Feliz (Caio Silveira Ramos)
06- Que Baixo! (Caco Velho / Lupicínio Rodrigues)
07- Samba do Meu Tio (Caco Velho / Haroldo Maranhão)
08- Onde Está (Caco Velho / Lúcio Martins)
09- Vida Dura (David Raw / Jucata)
10- Alegria de Pobre (Cyro de Souza)
11- Moleque Vagabundo (Antonio Almeida / Marino Pinto)
12- Tonalidade Original (Pacheco Viola)
13- Nega Velha (Padeirinho)
14- A Palhaçada (Habib José Henrique / Heitor Carillo)

Baixe esse disco no Um Que Tenha.

Morre Tia Doca

Morreu neste domingo a pastora portelense Tia Doca. No último dia 18, a sambista foi levada ao hospital por conta de um derrame. Ao lado de Clementina de Jesus e de Geraldo Filme, integrou o elenco que entoava diversos cânticos no importante disco O canto dos escravos.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Daniela Mercury no 455º? Ou Germano, Inah e Jair?

Na comemoração dos 455 anos da cidade de São Paulo deixe o tradicional Parque da Independência pra trás! Que Daniela Mercury, que nada! Dê um pulo no Mercadão, na Rua da Cantareira nº 306, e caia no samba.

As festividades estão programadas para rolar a partir das 12 horas do dia 24 (esse sábado) e irão até 0h30. E como todo festival, tem altos e baixos. O auge mesmo será só depois da queima da fogos, quando entram em cena Jair Rodrigues, Dona Inah e Germano Mathias.

Antes disso vale a pena dar uma passada na hora do almoço, comer um bom sanduíche de mortadela e assistir aos chorões que estão sempre na loja da Contemporânea. Quem ainda não se contentou, dê uma olhada na programação toda do evento:

70 no samba - uma homenagem ao samba paulistano
12h - 14h30. Chorinho da Contemporânea
15h - 16h30. Berço do Samba de São Matheus
17h - 18h30. Samba da Laje
19h - 20h30. Samba da Vela
21h - 22h30. Quinteto em Branco e Preto
22h30 - 23h30. Trovadores Urbanos
0h. Queima de fogos
0h30. Jair Rodrigues, Dona Inah e Germano Mathias

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Paulo César Pinheiro conta o samba

Neste vídeo, Paulo César Pinheiro conta como compôs o samba Portela na Avenida. Uma parceria sua com Mauro Duarte, que faria grande sucesso na voz de Clara Nunes.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

10 Discos para aprender a ouvir samba (Anos 70)

Sou um evolucionista. E, por preconceituoso que possa parecer, temo em dizer que acredito que todo pagodeiro possa um dia virar sambista. Mas é nisso mesmo que tenho fé. Que os encaminhamentos melódicos infantis e as letras que rimam ‘amor’ com ‘dor’, só agradam a pessoas que não deram devida atenção aos cânones do verdadeiro samba. Coletei uma prova cabal no último final de semana, quando apresentei a um pagodeiro de primeira o disco da Cristina Buarque e Terreiro Grande. Mesmo sem conhecer a grande maioria das músicas, ele foi só elogios. Isso me motivou a fazer este post:

10 Discos essenciais para aprender a ouvir samba (Anos 70)

1 – Cartola (1974)
O primeiro disco que Cartola gravou é talvez o melhor dele. Com 66 anos, depois de passar por duras penas, Angenor de Oliveira consegue espaço na gravadora de Marcus Pereira. A emoção com que canta seus sambas é impressionante. Todas as músicas são excepcionais.

2 – Cartola (1976)
Quem ouviu o primeiro, é obrigado a partir para o segundo. Com clássicos como “O Mundo é um Moinho” e “As Rosas Não Falam”, Cartola deixou o público da época abismado com sua imensa capacidade. Um compositor do morro apresentava seus versos simples, sem deixar de ser profundos.

3 – Candeia - Axé! Gente Amiga do Samba (1978)
O último disco de um dos grandes mestres portelenses é considerado por muitos o melhor dele. Com participação de Dona Ivone Lara e Clementina de Jesus, o disco tem apenas sete músicas, mas todas são de altíssimo nível. Destaque para pout-porri dos partidos-alto Gamação – Peixeiro Granfino – Ouço uma voz – Vem.

4 – Paulinho da Viola – Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida (1970)
A suave voz de Paulinho cantando um dos seus maiores clássicos é impagável. A música que dá nome ao disco se tornou um hino portelense, mas não é o único destaque do disco. Valem ser citados “Jurar com Lágrimas” e “Sinal Fechado”, um samba com novo conceito, que alfinetava os ditadores.

5 – Clementina de Jesus – Marinheiro Só (1973)
Um resumo da negritude. É essa a maneira mais simples de descrever Clementina de Jesus, uma partideira de mais alto nível. O destaque do disco, sem dúvida, vai para “Na linha do Mar” do mestre Paulinho da Viola.

6 Candeia, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito – Os Quatro Grandes do Samba (1977)
Um encontro desse porte não podia ter ficado pra trás. É uma boa oportunidade de conhecer ao mesmo tempo, Candeia, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e seu principal parceiro, Guilherme de Brito. Destaque para “A Flor e o Espinho” e “Quando eu me chamar saudade”.

7 – Martinho da Vila – Memórias de um Sargento de Milícias (1971)
A grande maioria das pessoas não conhece muito mais do Martinho do que “É devagar, é devagar...”. Mas o mestre da marcha lenta tem coisa muito boa por aí. Este disco é a prova cabal. O alto nível se nota já na primeira música.

8 – Cristina Buarque – Cristina (1974)
Com apenas 24 anos Cristina Buarque gravaria seu primeiro disco e um dos seus maiores sucessos. O samba “Quantas lágrimas”, de Manacéa até hoje é cantado em rodas de samba por aí. Também merece destaque “Tatuagem”, a bela música do seu irmão que já era peixe grande na época.

9 – Velha Guarda da Portela – Passado de Glória (1970)
A versão original de “Quantas Lágrimas” já seria motivo suficiente para este disco estar na lista. Mas há mais. Um deles, a presença de um dos maiores violonistas do samba: César Faria. Além disso, é uma oportunidade e tanto para entrar em contato com uma Velha Guarda que o tempo está desintegrando.

10 – Adoniran Barbosa – Adoniran (1974)
É o primeiro disco deste ítalo-caipira. Com um repertório cheio de sucessos, não dá para escutar essa obra-prima sem sair plenamente satisfeito. O destaque vai, sem sombra de dúvidas, para a música “As Mariposas”.

A intenção não é fazer uma mera lista dos 10 melhores, mas sim discos bons e de fácil audição. Sei que há muitos outros discos de igual qualidade que poderiam ser colocados aqui. Por isso aguardamos sugestões para a sequência, que será sobre a década de 60.

*Fonte de Pesquisa de datas: Discos do Brasil

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

50 anos de samba - Parte I

No dia 7 de setembro de 1972, o extinto jornal paulista O DIA publicava um artigo não assinado sobre a história do samba. Devido ao seu grande tamanho, o dividi em três partes que serão disponibilizadas nas terças-feiras subsequentes. A grafia segue tal qual foi publicado no jornal.

"Pelo Telefone" surgiu em 1917, e foi o primeiro samba que surgiu na história da música brasileira. Antes ele não passava de tango e tinha outro sabor, outros ingredientes diferentes que afastavam o gosto popular. A partir de então o samba cresceu, agigantou-se e dominou todo o ambiente musical popular brasileiro, só vindo a sofrer minimização quando autores inspirados em ritmos alienigenas e fazendo o jogo de terceiros tiraram-lhe a beleza ritmica e transformaram em bossa nova...

Um veterano locutor de radio paulista - Luiz G. Alves - escreveu certa vez que "a ofensiva vitoriosa do samba na sociedade carioca - nós diriamos brasileira - seria um fenomeno, porém, perguntava: transitorio ou permanente? A sua descida do morro para os salões das metropoles não é remota assim, e a profilaxia da musica e o saneamento do verso virão com as sanções fatais que êsse absolutismo produzirá hoje ou amanhã".

Realmente tinha razão Luiz G. Alves, pois o samba, nos ultimos 10 anos tem sofrido uma diversificação de suas linhas - melódicas e poéticas - descambando para o terreno instavel em que a sensibilidade do sambista é sacrificada em favor de uma cacofonia que somente pode agradar aos que surgiram justamente na ultima decada; Os que conhecem o samba como êle era, sincero, descritivo e evocativo não se conformam com a introdução de bossas novas - ou coisas que o valham relacionadas com a sua modificação total para pior. Dai o sucesso de um Martinho da Vila, de um Paulinho da Viola e outros compositores e intérpretes de sambas que embora vivendo no ambiente corrompido da nossa musica popular, ainda se mantêm fiéis àquela linha estrutural que era realmente que havia de melhor para a sensibilidade da gente brasileira.

Ainda lembrando o locutor e colunista Luiz G. Alves lá pelos idos de 1938, época de ouro do samba, "havia uma só coisa séria no Rio; era o samba com os seus saracoteios".

Mas não se pense que Luiz G. Alves era favoravel ao samba. Absolutamente. Ele combatia ferrenhamente, a ponto de mais adiante afirmar:

Onde está a sua beleza? o seu ritmo? a sua harmonia? Ninguém sabe e nem procura saber. Todos se deixam levar pelo entusiasmo "patriótico" inexplicavel sem atentar para as suas causas lógicas".

Esses conceitos do cronista mesmo sendo do "contra", servem para por em relevo o que era o samba em épocas que se foram e que quase foi destruido graças aos "modernistas" que baseados em ritmos alienigenas puseram por terra o que havia sido edificado por nossos autores populares através de muitos decênios de lutas e esforços.

QUANDO COMEÇOU 

O primeiro samba digno desse titulo foi " Pelo Telefone" de Ernesto dos Santos, o Donga. A gravação foi da Casa Edison, do Rio de Janeiro. Constituiu-se um grande sucesso no carnaval de 1917 e dali teve as portas abertas para o sucesso do ritmo que até então os cortejadores das musicas européias teimavam em chamar de barbaro.

Nesta época de sons eletronicos, estereofonicos e de alta fidelidade, nos parece bem distante os dias dos fonógrafo de Thomaz Edison e dos famosos discos com etiquetas côr de abóbora, que eram procurados com afã nas casas de artigos musicais ao preço de cinco mil reis cada um! Um dinheirão, um verdadeiro rombo no orçamento das familias humildes, mas que se orgulhavam de ter seu gramofone sôbre uma mesinha, com as pesadas campanas voltadas para a rua e cobertas com toalhas bordadas. Casa em que não existisse um gramofone, não merecia grande conceito...

Voltando porém a falar de samba, confirmamos a assertiva de que êsse ritmo endiabrado somente entrou para o dia a dia da gente brasileira após a gravação de "Pelo telefone", um samba satirico à ação policial no Rio de Janeiro que combatia tenazmente a jogatina desenfreada em clubes nas ruas e em casas particulares.

A primeira gravação de "Pelo telefone" foi em disco "Odeon" (121 313), com interpretação da Banda Odeon. Mas logo após, devido ao exito da musica, o samba foi levado a cera pelo famoso cantor da época Baiano, e um coro bastante elogiável. O disco ganhou o numero 121.322. Era o tempo heroico da musica brasileira que surgia, e cuja sobrevivência repousava num reduzido grupo de elementos entre os quais sobressaiam as figuras desse mesmo Donga, autor de "Pelo telefone"; Alfredo Viana, o nosso muito bem-amado Pixinguinha, José Barbosa, Sinhô e outros que seria longo enumerar.

Donga nasceu a 5/4/1891, na Aldeia Campista no Rio de Janeiro, e era filho de Pedro Joaquim e Maria Amélia e invariavel frequentador da casa da célebre Tia Ciata, onde a boêmia da época se reunia para gostosas tertulias sonoras, e onde precisamente o "Pelo Telefone" viria a nascer. Desde Menino Donga se dedicou a musica popular tocando cavaquinho, violão e banjo, mas somente aos 26 anos comporia a musica que deu ritmo à letra de autoria do jornalista Mauro de Almeida, que então assinava uma coluna carnavalesca como "Peru dos Pés Frio". Consoando as próprias declarações de Donga o motivo do samba (primeiro verso) lhe fora dado por Didi da Gracinha, outro frequentador da casa da Tia Ciata, e o resto da letra foi composta por Mauro de Almeida.

Interessante que, acerca desse samba, o Jornal do Brasil, de 4 de fevereiro de 1917, publicou uma nota assim redigida: "Será cantada domingo, o verdadeiro tango "Pelo Telefone", dos inspirados carnavalescos, o imortal João da Mata, o mestre Germano, a nossa velha amiguinha Tia Ciata e o inesquecivel bom Hilário; arranjo exclusivamente pelo bom e querido pianista J. Sillva (Sinhô)". Como se vê sete autores disputam o direito de autoria do "Pelo Telefone", sem contar o arranjador, um mistério que jamais será resolvido, mesmo porque Donga, o sobrevivente sempre fez valer os seu direitos exclusivistas. De qualquer forma por seu longo e valioso trabalho musical provou ser sambista dos bons, guardando as tradições dos nossos ritmos e romanticismos. "Passarinho bateu azas" "Tira Canga, Tira o meu Nome do Meio", "Pobre vive de teimoso", "Quando você morrer" etc.. são outras composições que equivalem ao famoso "Pelo Telefone", provando que era mesmo sambista inspirado.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Carioca, suburbano, mulato e malandro

Flamenguista e portelense no mesmo tanto. Nasceu carioca e aprendeu a malandragem nas esquinas da vida. Faz um samba sincopado, suburbano e cheio de bom-humor. Com vocês, João Nogueira.

Mas para apresentar melhor esse sambista de primeira, nada melhor do que um curtinha já exibido no Canal Brasil. "Carioca, suburbano, mulato e malandro" foi dirigido por Jom Tob Azulay. Com participação especial de Sérgio Cabral, um dos nomes mais importantes do samba, sem necessariamente ser um sambista, e de grandes componentes da portela, eis o vídeo em duas partes:



Disco da semana: Peso na Balança - Wilson Moreira


Há 23 anos era lançado o primeiro disco solo de Wilson Moreira. O disco caiu na internet há muito tempo, e não é difícil achar sites que o disponibilizam para download. O curioso é que cada site destaca uma música diferente, provando ser um dos melhores discos do Wilson. No O Couro do Cabrito, vi que o violão é comandado pelo Raphael Rabello, grande violonista. Vale a pena tentar ficar procuando o áudio do violão nas músicas.

Como não podia deixar de ser, eu também vou destacar uma música, que é um samba típico de Wilson Moreira, cheio de influências dos sons rurais.

Canteiro de Obra (Wilson Moreira / Sérgio Fonseca)



Veio de longe lá do fim da trilha
Lá das quebradas secas do sertão
Matar o corpo no sul maravilha
Que a alma já morreu na arribação

Trouxe a esperança
Que não se envergonha
De não ter tempo de esperar em vão
Pois tudo aquilo que o seu peito sonha
Se concretiza em outra construção

O peão entrou na obra, o peão
O peão entrou na obra
Roda peão, bambeia peão
Roda peão na mão do patrão

O peão só pega a sobra, o peão
O peão só pega a sobra
Roda peão, bambeia peão
Roda peão na mão do patrão

Guarda na mente
Na lembrança esperta
Tanto repente, tanta oração
Dessas mentiras uma coisa é certa
Quanto mais reza, mais assombração

Só pensa um dia em voltar pro norte
Virando a sorte que Deus lhe deu
Quem sabe um dia até mesmo a morte
Seja maior do que o destino seu

O peão entrou na obra, o peão
O peão entrou na obra
Roda peão, bambeia peão
Roda peão na mão do patrão

O peão só pega a sobra, o peão
O peão só pega a sobra
Roda peão, bambeia peão
Roda peão na mão do patrão

Músicas:

1-Peso na balança (Wilson Moreira)
2-Portela e seus encantos (Wilson Moreira)
3-Um samba para ela que chora (Wilson Moreira)
4-Canteiro de obra (Sérgio Fonseca / Wilson Moreira)
5-Quero você (Wilson Moreira / Nei Lopes)
6-Incompreensão (Wilson Moreira)
7-Luanda, luandê (Wilson Moreira)
8-Meu apelo (Wilson Moreira)
• Valeu a pena (Wilson Moreira / Ratinho)
• Vivo bem com ela (Wilson Moreira)
• Deixa clarear (Wilson Moreira / Nei Lopes)
9-Já diz o velho ditado (Wilson Moreira)
10-Chorar, sorir (Wilson Moreira)
11-Forró no cafundó (Wilson Moreira)

Baixe esse disco no Cápsula da Cultura.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A Moema do banheiro

Em 1971 Paulinho da Viola lançou dois LP´s somente com o seu nome. A história que será contada aqui ocorreu durante a gravação do primeiro:

Com quase todo o repertório do disco pronto, faltava apenas uma música para finalizar o trabalho. Paulinho então pediu ajuda a Elton Medeiros, que junto com Mestre Marçal era responsável pela percussão do disco.

Sem conseguir concentração por conta do barulho dos outros músicos dentro do estúdio, os dois foram procurar um lugar mais calmo. E então diretamente do banheiro da EMI saíram os seguintes versos:

Moema morenou
A água do mar quem molhou
O Sol da Bahia te queimou
Teu corpo morena morenou

Logo foram feitas as duas partes que complementavam o samba, e ele entrou pro disco e resolveu o problema. Elton contou essa história em um dos shows que fez em São Paulo. Após, falar o causo, soltou "sorte que samba não vem com cheiro". Confira o resultado final:



Moema morenou
A água do mar quem molhou
O Sol da Bahia te queimou
Teu corpo morena morenou

No samba de roda
Morena faceira
Mexeu a cadeiras
Foi um desacato
Tirou o sapato
Dançou miudinho
E quase que mata
Um pobre mulato

Moema morenou
A água do mar quem molhou
O Sol da Bahia te queimou
Teu corpo morena morenou

Eu fui à Bahia
Paguei a promessa
Estava com pressa
Queria voltar
Mais uma morena
Num samba de roda
Me deu uma volta
Que me fez ficar

Moema morenou
A água do mar quem molhou
O Sol da Bahia te queimou
Teu corpo morena morenou


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Wilson das Neves anima noites em São Paulo

O post anterior foi uma recomendação de um show. Este também, só que muito mais imediato:

São três quartas de samba no Studio SP. Isso mesmo, a casa de shows na Augusta (rua onde circulam os mais diversos rockers, indies, emos, putas, putos e outros esterótipos) deve receber centenas de amantes do samba nas próximas três quartas.

Isso porque no dia 14 (Hoje!), 21 e 28 de janeiro Wilson das Neves subirá no palco para mandar seu animado repertório e colocar a galera pra sambar. Se você ainda está em dúvida, confira o vídeo a seguir:



A dica quente é mandar seu nome pra lista da casa e economizar 10 pratas! Quem resolver ir de última hora terá que desembolsar 25 reais. O email é studiosp@studiosp.org.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Terreiro Grande e Cristina Buarque em homenagem a Candeia

Já estão à venda os ingressos para o show que o Terreiro Grande e Cristina Buarque farão em homenagem ao mestre Candeia no Teatro FECAP, em São Paulo. O evento ocorrerá nos dias 13, 14 e 15 de fevereiro às 21 horas na sexta e no sábado. No domingo o espetáculo terá início às 19 horas. Nos vemos lá!

Teatro Fecap:
Av. Liberdade, nº 532 -
Bairro: Liberdade - São Paulo/SP

Compre aqui seu ingresso.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O ano de Villa-Lobos

Acabou o ano da Bossa Nova (ufa!). Vem aí o ano de Villa-Lobos!
Ainda faltam mais de 10 meses, mas os 50 anos da morte de um dos mais importantes maestros brasileiros já começaram a ser comemorados. Há exatos quatro dias a Folha de S.Paulo deu na capa da Ilustrada uma matéria falando do que já está rolando em homenagem ao Villa. Por todo o mundo já estão sendo executadas composições do maestro de soube misturar a música erudita com tonalidades da música brasileira.

No Brasil, a cena para Villa ainda é tímida. Por enquanto apenas o pianista Luis Carlos Moura deu um recital em homenagem. Mas a coisa parece que vai melhorar. A Filarmônica de BH, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro (Brasília), a Sinfônica Municipal de Campinas e a OSB (Rio) terão peças de Villa-Lobos em sua temporada. Uma série de DVD´s também será lançada. "Alma Brasileira", da Biscoito Fino promete sair ainda em fevereiro.

A data precisa da efeméride é 17 de novembro, mas eu acho que já vale a pena ir comemorando.

Uma prova de como Villa é adorado ao redor do mundo: o violonista ucraniano Andrey Shilov executa o Choro nº1


Visite o site
do Museu Villa-Lobos.

Disco da semana: 1981 - João do Vale


Com um pouco de atraso, peço licença para falar de um disco que não se trata nem de samba, nem de choro, ritmos que dominam o Vermute com Amendoim.

Apesar de morrer somente no ano de 1996, em 1981 João do Vale lançou seu último LP. Com a ajuda de Jackson do Pandeiro, Tom Jobim, Clara Nunes, Amelinha, Fagner, Chico Buarque, Zé Ramalho, Luiz Gonzaga Jr. (Gonzaguinha) e Alceu Valença, João revisita seus maiores sucessos. Destaque para os xotes "Na Asa do Vento" e "Pisa na Fulô" e os baiões "Pé do Lajeiro", "Canto da Ema" e "Carcará".

Músicas:
01 - Na Asa do Vento (Luis Vieira / João do Vale)
02 - Pé do Lajeiro (Aonde a Onça Mora) (João do Vale / José Cândido) - com Tom Jobim
03 - Estrela Miúda (Luis Vieira / João do Vale) - com Amelinha
04 - Bom Vaqueiro (João do Vale / Luis Guimarães) - com Fagner
05 - O Canto da Ema (Alventino Cavalcanti / Aires Viana / João do Vale) - com Jackson do Pandeiro
06 - Carcará (João do Vale / José Cândido) - com Chico Buarque
07 - Morceguinho (O Rei da Natureza) (José Cândido / João do Vale) - com Zé Ramalho
08 - Morena do Grotão (João do Vale / José Cândido)
09 - Oricuri (Segredo do Sertanejo) (João do Vale / José Cândido) - com Clara Nunes
10 - Fogo no Paraná (João do Vale / Helena Gonzaga) - com Gonzaguinha
11 - Pipira (João do Vale / José Batista) - com Nara Leão
12 - Pisa na Fulô (João do Vale / Ernesto Pires / Silveira Júnior) - com Alceu Valença
13 - Minha História (João do Vale / Raimundo Evangelista)

Baixe esse disco no Loronix.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Favela

Hoje resolvi colocar aqui um samba inspiradíssimo de Jorginho Pessanha em parceria com Padeirinho. Trata-se do samba Favela. Composto nos idos dos anos setenta, ainda hoje permanece bastante atual. A gravação disponibilizada é de Jorginho Pessanha, e se encontra no disco Jorginho (Império) Pessanha - O autêntico, de 1973.

Favela (Jorginho Pessanha / Padeirinho)
Numa vasta extensão
Onde não há plantação
Nem ninguém morando lá
Cada um pobre que passa por ali
Só pensa em construir seu lar
E quando o primeiro começa
Os outros depressa
Procuram marcar
Seu pedacinho de terra pra morar
E assim a região sofre modificação
Fica sendo chamada de a nova aquarela
É aí que o lugar então passa a se chamar favela...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Xangô da Mangueira morre aos 85 anos

O samba perdeu mais uma das suas potentes vozes. Com 85 anos, o compositor e partideiro Olivério Ferreira, o Xangô da Mangueira, morreu na noite dessa quarta-feira, no Hospital de Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro. Xangô completaria 86 anos no próximo dia 19. Ele foi vítima de uma infecção renal crônica, agravada pelo diabetes.


Veja a festa de 85 anos para esse ícone mangueirense proporcionada pelo Projeto Samba de Terreiro de Mauá:

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Aniceto do Império no cinema

O curta-metragem Dia de Alforria... (?) conta um pouco da história de Aniceto do Império e sua relação com a serrinha e seu trabalho no Cais do Porto. O filme é datado do ano de 1981 e tem o roteiro feito em conjunto por Zózimo Bulbul e o próprio Aniceto.A direção fica por conta de Bulbul.

Dia de Alforria... (?)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Jota Canalha - A Voz do Botequim


Num tempo em que o politicamente correto começa a ganhar cada vez mais adeptos, o lançamento de um disco como esse é realmente para se comemorar. O trabalho em questão é o CD A Voz do Botequim (Rob Digital). Nele, Henrique Cazes assume a pele do ácido Jota Canalha, que logo nas três primeiras faixas já atira contra os chatos (presença garantida em todo boteco que se preze), as lésbicas, as ONGs e contra essa mania realmente inconveniente de tudo agora mudar de nome, como diz o verso:

Mendigo agora é morador de rua
E aleijado é só deficiente
Não tem favela só comunidade
Crioulo chama afro-descendente

Outro samba com alvo bem explícito é o "Malas Madrinhas". Nele, Jota critica essa coisa de ficar apadrinhando todo mundo. Porém o que mais irrita nesse pessoal é o fato de eles gravarem, por exemplo, um disco em homenagem ao Cartola. Além de selecionarem as músicas mais batidas, ainda ficam com aquela pose de que mereciam uma medalha por pesquisar e descobrir a música brasileira. Aí Jota Canalha diz:

Sonha que ensinou o Cartola a fazer samba
E ao Nelson Cavaquinho mostrou a batida do violão
Que revelou ao Rildo Hora os segredos do estúdio

E ao Ubirany como é tocava repique de mão
Treinou o Zeca no suingue sincopado
E serviu o primeiro conhaque Domecq ao Paulão

Entretanto, engana-se quem pensa que Jota Canalha vem sempre com quatro pedras na mão. Há uma justa homenagem aos tãos criticados farofeiros e aos sambistas que não pensam duas vezes na hora de mandar um bom prato pra dentro.

Entre as doze músicas que compoem o disco, apenas uma não é da autoria de Jota Canalha. Mulher Indigesta, um clássico de Noel Rosa não poderia ficar de fora do disco, já que ele foi o precursor na arte de fazer samba com uma levada mais caricata.

Chatos em desfile



Músicas:
1- Chatos em desfile (Jota Canalha)
2- Onde é que já se viu? (Jota Canalha)
3- Lero-lero blá-blá-blá ou papo de ONG (Jota Canalha)
4- Fim de semana na serra (Jota Canalha)
5- Piquenique a beira-mar (Jota Canalha)
6- Dieta de sambista (Jota Canalha)
7- Casal perfeito (Jota Canalha) part. esp. de Alfredo del Penho & Pedro Paulo Malta
8- Baranga das dez, broto das duas (Jota Canalha)
9- Pra que reclamar? (Jota Canalha)
10- Malas madrinhas (Jota Canalha)
11- Mulher indigesta (Noel Rosa)
12- Que sorte! (Jota Canalha)

Compre aqui o CD A Voz do Botequim.

Voltamos

Ainda hoje, coloco minha primeira postagem de 2009!

Abraços
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...