sexta-feira, 30 de julho de 2010

Leny Eversong

Confesso que nunca havia ouvido falar em Leny Eversong. Hoje quando vi o nome dela num vídeo do youtube até achei que fosse uma jazzista ou coisa parecida. Qual não foi minha supresa em descobrir que era brasileira e com uma voz muito potente. Achei no site Cliquemusic, um artigo bem completo sobre Leny. Leiam escutando as músicas dos vídeos abaixo.







quinta-feira, 29 de julho de 2010

Elizeth no IMS

Muito bacana o hotsite do IMS em homenagem a Elizeth Cardoso. Além de fotos, músicas e de ensaios sobre a Divina assinados por Sérgio Cabral e Hermínio Bello de Carvalho, há também um depoimento inédito da própria gravado no Canecão. Vale a visita.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Roberta Sá, Trio Madeira Brasil e Roque Ferreira: uma pedida para melhor disco do ano.

Ouvi ontem um excelente concorrente ao melhor disco de música popular brasileira do ano: "Quando o canto é reza". Realmente a receita não tinha como dar errado: Roberta Sá e Trio Madeira Brasil interpretando músicas de Roque Ferreira.



Para dar o gostinho aos visitantes do Vermute com Amendoim, coloco duas belas músicas que compõe o disco:

Mandingo


Tô Fora

terça-feira, 27 de julho de 2010

Anhanguera não dá mais samba

Recebi hoje um triste e-mail. O projeto "Anhanguera Dá Samba" será interrompido por tempo indeterminado. No texto assinado pelo Arthur Tirone, ou Arthur Favela, que é quem organizava a bagunça, não há nenhuma justificativa. Qual será a chave deste mistério?

Para quem quiser, eis o e-mail enviado pelo Arthur:

"Em meu nome e em nome dos Inimigos do Batente comunico a todos que o projeto Anhangüera dá Samba! será interrompido por tempo indeterminado. O que mais me deixou realizado, nestes três anos, foi ver o nome do Anhangüera estampado várias vezes nos guias da Folha, do Estadão, ser notícia na Carta Capital (clique aqui para ler a reportagem), na Veja (clique aqui para ler a reportagem), no Estadão (clique aqui para ler a reportagem), além dos inúmeros sites e blogs especializados em
música.

Após três anos - não são três meses -, o clube Anhangüera, hoje, é falado em TODOS os cantos de São Paulo, em Santos, no Rio de Janeiro... E isso justamente pelo motivo que SEMPRE nos consagrou: o social, acima do esporte. Nestes três anos, o nome do Anhangüera viajou mais longe que nos outros oitenta de nossa belíssima história.
Todos sabem da relação umbilical que eu, particularmente, tenho com o clube. Aliás, quem quiser conhecer melhor um pouco da história do clube, e ver todas as edições do Anhangüera dá Samba!, pode conferir no meu blogue: www.anhanguera.blogspot.com

Imagino que esta mensagem pegou a muitos de surpresa, assim como a nós mesmos. Perdoem-nos que o e-mail tenha chegado até vocês poucos dias antes da realização do que seria a nossa 37ª edição do Anhanguera Dá Samba! Aguardei posicionamento da atual diretoria do Clube Anhanguera até hoje mas não houve resposta e muito menos flexibilidade.

Gostaria, acima de tudo, de agradecer profundamente a todas as pessoas que valorizam e compartilham conosco essa grande realização que é o Anhangüera dá Samba!

Assim que tivermos novidade, comunicamos a todos. Aguardem novidades.

Até breve!
Arthur Tirone"

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Lançamento no RJ


Breque Moderno
Com Marcos Sacramento, Soraya Ravenle e Luis Filipe de Lima

Direção Inez Viana
Dias 30 e 31 de julho
sexta e sabado às 20 hs
Teato Rival Petrobras
Rua Alvaro Alvim, 33 - Cinelândia - Centro RJ
Fone: 22404469

Disco da semana: Jair Rodrigues - Minha Hora e Vez (1976)

Este é o vigésimo álbum de Jair Rodrigues, lançado em 1976. Há mais de 10 anos, ele já havia feito um baita sucesso com a música "Deixa isso pra lá", aquela que ele faz a graça com as mãos, precursora do rap nacional.

Mas como o papo aqui é samba...vamos à ele, que aliás percorre quase todo o disco com exceção da genial "Galos, noites e quintais", de Belchior. O ponto alto, porém, é o samba de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, que mistura samba-canção com samba de enredo em uma declaração de amor à Portela.

Perdão, Portela


Galos, noites e quintais


O samba de Zuzuca, que já apareceu neste blog, "Lembrando Zé Pereira", também é um achado que Jair gravou.

Lembrando Zé Pereira


Só esses dois já são bons motivos para ter o disco no acervo. Isso sem falar em "Rosa", o clássico de Pixinguinha, a bonita "Um filho meu" e "Na beira do mangue", que é a música que o grupo "Gera Samba" copiou na cara larga para pasteurizar um de seus sucessos.

1 Na beira do mangue (Ary do Cavaco - Otacilio)
2 Um filho meu (Chico Xavier)
3 Minha hora e vez (Di Galvão - Beto Scala)
4 Minha preta (Zé Di)
5 Madrugando madruguei (Edil Pacheco - Jair Rodrigues)
6 Perdão Portela (Jair Amorim - Evaldo Gouveia)
7 Popurri exaltação
Aquarela do Brasil (Ary Barroso),Brasil (Aldo Cabral - Benedito Lacerda),Rio de Janeiro (Isto é meu Brasil)(Ary Barroso), Canta Brasil (David Nasser - Alcyr Pires Vermelho)
8 Lembrando Zé Pereira (Zuzuca)
9 Galos, noites e quintais (Belchior)
10 História do Brasil (Samba enredo 1977 G.R.E.S. Nenê da Vila Matilde)
(Astrogildo Silva)
11 Qualquer hora é hora (Beto Scala - São Beto)
15 Rosa (Pixinguinha)
16 Morena brasileira (José Messias)

Baixe este disco no Poeira e Cantos

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Milton e Clementina

Grande dueto de Milton Nascimento e Clementina de Jesus.



Circo Marimbondo (Milton Nascimento)
Circo Marimbondo
Circo Marambaia
Eu cheguei de longe
Não me "atrapaia"
Vê se não me amola
Larga a minha saia
Circo Marimbondo
Circo Marambaia
Se eu te der um tombo
Tomara que caia

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Feliz Aniversário, Elton!

Hoje é aniversário de Elton Medeiros. O grande Elton que, há dois anos, foi tema de um trabalho de conclusão de curso meu e da grande amiga Mariana Romão. Elton tem hoje 80 anos e em março sofreu um enfarte. Para a sorte de toda a comunidade do samba, esse velhinho genial está bem.

Desde que terminamos o trabalho e entregamos a ele, nunca mais voltamos a nos falar. Principalmente depois que li um texto de Pedro Alexandre Sanches na Carta Capital em que Elton dizia: "ele tem me incomodado muito". Quem está disposto a incomodar um senhor? Até ler aquilo nós estávamos. Nunca mais tive coragem nem de enfrentar a secretária de Elton Medeiros (ele filtra as ligações pela secretária eletrônica).

Hoje é aniversário de Elton Medeiros. Uma ótima matéria no Estadão faz uma justa homenagem a este grande nome.



Vida longa a Elton Medeiros!

Update: Falei hoje com Elton Medeiros (não houve nem secretária eletrônica no caminho). Ele realmente não gostou do livro, mas conversamos por alguns minutos. Talvez eu incomode este grande artista mais algumas vezes.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Tamborim feito de gato

"Aquele gato não é mais gato hoje é tamborim". É o que diz o samba "Couro de Gato", composto por Grande Othelo, Rubens Silva e Popó. Antes dos tempos chatos de Luisa Mell, gato no morro servia mesmo para duas coisas: matar a fome e fazer batucada. E duvido que hoje ainda não aconteça dos bichanos entrarem para a panela, como há muito tempo atrás fazia o Mestre Waldomiro da Mangueira, que diz orgulhoso: "Sempre gostei de um gato".



Viu que tem até receita para curtir o couro do miau? Agora vamos ao samba do Grande Otelo:

Couro de Gato


Outro grande que retratou o cotidiano dos gatos no morro foi Geraldo Pereira, no samba "Ministério da Economia", cantado aqui por Nadinho da Ilha:

Ministério da Economia

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O carnaval da Vila Esperança

As histórias que explicam o surgimento de uma música são sempre muito interessantes. O que a gente nem sempre atenta, é que algumas músicas se inserem de tal maneira na vida das pessoas, que pouco importa em que circunstância ela nasceu. Elas acabam adquirindo um sentido todo próprio e incorporando várias histórias que, às vezes, chegam a ser até mais profundas do que a original.

Um destes exemplos é a história de Ana Maria dos Santos, que num depoimento ao Museu da Pessoa, contou o outro lado da marcha-rancho "Vila Esperança" (Adoniran Barbosa / Marcos César).

O carnaval da Vila Esperança (Ana Maria dos Santos)

Ana Maria dos Santos nasceu em 1956 em São Paulo. Quando criança, não conheceu seus pais. E uma série de coincidências curiosas a levaram a acreditar que finalmente havia revelado esse segredo. Ela contou sua históira ao Museu da Pessoa em janeiro de 2010.

Quando nasci, isso a mais de cinquenta anos, minha mãe estava sem condições e encontrou uma mulher muito bondosa para me criar. Essa senhora morava então na Rua Maria Carlota, na Vila Esperança. Essa rua ainda não havia sido asfaltada e, na época que asfaltaram, virou a alegria da molecada e a tristeza das mães, com surras e tudo, pois o danado do piche grudava em nós e em nossas roupas, dava o maior trabalho para tirar. Isso quando saía.

A filha da minha mãe de criação me batizou, era a minha madrinha muito querida, e de vez em quando eu falava que queria ter um pai. Às vezes, elas me arrumavam um (acho que era um parente distante do interior) e lembro que recebemos a visita da comadre que elas tanto falavam. Foi quando ela me contou que era a minha mãe verdadeira e que eu tinha de recebê-la (pensava que o nome dela era Rosa Maria?!).

A partir daí comecei a me esconder quando ela vinha me visitar. Eu simplesmente sumia. Até dentro de um cesto de vime enorme eu me escondia, tanto era o pavor que ela me levasse embora. Porém, aos meus sete anos ela teve que me levar para estudar num internato em Pinheiros. Aos onze anos, fugi com mais duas meninas, por causa dos maus tratos desse colégio de freiras, correndo a pé pela rua Cardeal Arcoverde, de Pinheiros até o Pacaembu. Foi tragicômico, pois a família que deu garantias que nos abrigaria, e era também o único lugar mais perto que eu sabia como ir, era do diretor da instituição.

Tudo isso para tentar voltar para minha Vila Esperança. Era fevereiro e eu queria também matar a saudade do meu querido e velho carnaval da infância, que subia pela Rua Evans e descia pela Rua Maria Carlota: as matinês, a batalha de confetes, eu tinha de ir.

Como naquela época eu não tinha muita aproximidade física, afetiva, com minha mãe verdadeira e estava muita revoltada por causa da ida pro colégio interno, apesar dos esforços dela para fazer algo por mim, quase não conversavámos. Sabia muito pouco sobre ela, somente que trabalhava demais como empregada doméstica. Um dia, mexendo em seus documentos, li que seu nome era Maria Rosa!? Aí eu, muito infantil, quando escutei a música, marchinha de carnaval do Adoniran Barbosa, "Vila Esperança" - "Foi lá que conheci Maria Rosa, meu primeiro amor/Primeira Rosa, primeira esperança, primeiro carnaval, primeiro amor, criança".

Criança!? Pensei: sou eu!! Pensei comigo: "Desvendei a segredo da minha mãe!" Que ilusão de mente fértil! Só dando risada mesmo. Mas a Esperança, o carnaval, ainda moram bem profundamente nesta velha criança. Por outro lado, até hoje não consigo cantar essa música inteira até o fim sem conter o choro. Nos últimos anos de vida da minha mãe, conseguimos restaurar muita coisa, principalmente a compreensão.


Disco da semana: O Som Sagrado de Wilson das Neves

Em 1996, o baterista Wilson das Neves lançou o "O som sagrado de Wilson das Neves" pela gravadora CID, com 14 composições suas, 13 em parceria com Paulo César Pinheiro e uma em parceria com Chico Buarque.



O disco, repleto de pedradas, já começa com um clássico de Das Neves, "O Samba é meu dom"

O samba é meu dom


Segue com outros sambas de primeira, como "Som Sagrado", "Tentação", "Grande Hotel", "O dia em que morro descer e não for carnaval" e "Taça de Vinho", uma composição e tanto para afogar uma dor de amor.

Taça de Vinho


Tem ainda participações de Chico Buarque, Paulo César Pinheiro e João Nogueira. Não foi à toda que o álbum ganhou o Prêmio Sharp em 1996.

Grande Hotel


1. O samba é meu dom (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
2. Debaixo do cobertor (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
3. Soberana (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
4. Som sagrado (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
5. Tentação (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
6. Taça de vinho (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
7. Grande hotel (Chico Buarque e Wilson das Neves)
8. Anfitrião (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
9. Um samba pro Ciro Monteiro (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
10. Partido do tempo (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
11. Mestre Marçal (Zé Trambique, Wilson das Neves, Paulo César Pinheiro)
12. Bisavó Madalena (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
13. O dia em que o morro descer e não for carnaval (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)
14. Fundamento (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro)

Baixe este álbum no Um que Tenha

quinta-feira, 15 de julho de 2010

As últimas notas de Paulo Moura


O Vermute com Amendoim dá adeus ao grande Paulo Moura com um vídeo enviado por Marcelo Neder na lista de discussão da Agenda do Samba e Choro.

O vídeo foi feito por Eduardo Escorel no dia 10 de julho, três dias antes da morte deste grande músico. Nele, Paulo aparece tocando "Doce de Coco", de Jacob do Bandolim, e acompanhado de Wagner Tiso, Daniela Spielmann e Vicente Alexin.

Despedida from Eduardo Escorel on Vimeo.



Ouça também ele tocando "Espinha de Bacalhau", de autoria de Severino Araujo, que certamente ocupa o primeiro lugar na lista dos choros mais difíceis de serem executados.

Espinha de Bacalhau


Saiba mais de Paulo Moura e veja a notícia do seu falecimento.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Pepeu Gomes e o Tico-tico

Outro dia baixei um disco de Pepeu Gomes de 1981 e encontrei uma versão que só ele e Lanny Gordin poderiam fazer. É "Tico-tico no fubá" com um som sujo de guitarra, um teclado e um clima totalmente psicodélico. Vai pra seção "Outras levadas"

Tico-tico no fubá


Curtiu? Baixe no Um que tenha

Quer ouvir a música cantada em Esperanto? Clique aqui Ou prefere uma versão cheia de sintetizador? Aí você clica aqui

terça-feira, 13 de julho de 2010

É o Zicartola, meu!

Vi no site do Estadão esta reportagem bem bacana que trata de um "Zicartola Paulistano". Veja aí:

Bem que Cartola tentou
Em 1974, Cartola e sua mulher, Dona Zica, chegam a São Paulo para abrir um bar na Vila Formosa, zona leste. Se deu certo? Não. Mas as histórias ficaram para sempre

Seu Joca, em frente ao prédio onde funcionou o Zicartola, na Vila Formosa. MARCIO FERNANDES/AE

A história do Rio de Janeiro tem um capítulo recheado de música e boa comida chamado Zicartola, o mítico bar aberto por Cartola e sua mulher, dona Zica, na década de 60. Esse símbolo do samba, poucos sabem, não é exclusividade dos cariocas. O bar que promoveu encontros memoráveis com gente do calibre de Zé Ketti, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola, além do próprio anfitrião, viveu tempos paulistanos.

Foi em meados da década de 70 que o Zicartola, também sob o comando de Cartola na música e dona Zica na cozinha funcionou na afastada Vila Formosa, zona leste. Apesar de vida curta, menos de seis meses, a casa marcou história na biografia do casal Marília da Silva Chagas, de 70 anos, e João Ferreira Chagas, o Joca, de 80. Amigos de longa data do casal de honra da Mangueira, os dois foram sócios do bar da capital paulista.

A presença de Cartola é como uma trilha sonora das lembranças também povoadas pelo carinho de Euzébia Silva do Nascimento – a Dona Zica, falecida em 2003. Foi ali na sala daquela casa que surgira a ideia de remontar o saudoso Zicartola.

O ano era o de 1974. Cartola, então com 65 anos, visitava São Paulo para gravar o que seria seu primeiro disco. “Um dia estávamos conversando, enquanto eu fazia o almoço, e comentamos sobre abrir o bar num salão que estava vazio aqui perto. Cartola topou na hora”, conta Marília. Por pouco, aquela conversa não evoluiu para o que seria uma ‘segunda Mangueira’. “A ideia era abrir uma escola de samba. A gente com cinco filhos, tendo de correr atrás, não dava para pensar numa escola”, diz Joca.

Quando Cartola e dona Zica estavam em São Paulo, nada de hotel. Eles se hospedavam na casa de Marília e Joca. A confiança era fruto de uma amizade nascida em Mangueira, ainda no final da década de 40, quando Joca chegou ao Rio, vindo do Recife. Na capital carioca envolveu-se com o samba e conheceu outros mestres, como Carlos Cachaça. Por lá também encontrou Marília, moça paulista que passava uns tempos na casa de parentes. Em 1958 o casal já se mudou para São Paulo, casaram, tiveram os filhos, mas os laços verde e rosa sobreviveram.

O Zicartola paulistano funcionou na Rua Guaxupé, nº 893, em cima de uma padaria. “Aqui nem tinha asfalto, a rua era de paralelepípedo. Em volta, tudo era mato”, diz Joca. Os donos do prédio abraçaram o projeto e liberaram o aluguel. Marília lembra, com memória prodigiosa, que a inauguração ocorrera no dia 13 de dezembro de 1974, uma sexta-feira de tempo quente. “Quando o Zicartola abriu só vinha gente de faculdade, a rua ficava cheia de carros. Mas o pessoal daqui nem conhecia”, diz.

Quem visitou o botequim teve o privilégio de conhecer as habilidades culinárias de dona Zica e ouvir algumas das pérolas do samba na voz do compositor. Da cozinha, saíam delícias como xinxim de galinha, bobó de camarão e vatapá. O salão era grande e o palco se estendia por quatro metros quadrados. “Antes de cantar, o Cartola se sentava, tomava meia cerveja, conhaque e fumava seu cigarro”, conta Marília, que assumia o caixa. Quando subia ao palco, apenas composições próprias. “Fazia-se um silêncio para ouvi-lo.”

Com batidinhas na mesa e voz agitada pela emoção, Joca entoa, no meio da conversa, alguns dos clássicos que o mestre cantava, como “a sorrir eu pretendo levar a vida...” O olhar carinhoso de Marília para o marido evidencia as profundas raízes que o samba tem naquela família. Além do fundador da Mangueira, passaram por ali nomes como Dona Ivone Lara e Nelson Cavaquinho. Músicos da região leste também se revezavam, como os já esquecidos e nunca gravados Principais do Samba.

Abrir o Zicartola exigia esforço e doação. Toda sexta-feira, o casal vinha do Rio de Janeiro para São Paulo de trem. Nilcemar Nogueira, neta de Dona Zica e Cartola, lembra que a tentativa era remontar tudo que o Zicartola foi no Rio. “Os dois iam empolgados para São Paulo, o clima era bom e a proposta era a mesma. Mas a distância dificultou muito”, diz ela.

O desafio da locomoção e os compromissos que começavam a surgir para Cartola depois do primeiro disco o afastavam da capital paulista. Segundo Joca, o bar até que enchia, mas funcionava sem bilheteria. “Não dava para cobrar, o samba não tinha muita força por aqui”, diz ele. Em junho de 1975, o Zicartola de São Paulo já não abria mais, deixando apenas lembranças. “Quando o Nelson Cavaquinho vinha, ficávamos até de manhã fazendo serenata na porta”, lembra Marília. “Imagine se fosse hoje? Ia explodir”, reflete Joca, que garante não ter conseguido lucro com o empreendimento.

No lugar do Zicartola funciona atualmente uma academia de musculação. Nada remete às noites de samba de outrora. O asfalto já chegou, mas o bairro ainda mantém um ar provinciano, sem muitos prédios por perto e nenhuma vida boemia.

Em 1979, dois anos após Cartola voltar a desfilar na Mangueira, ele esteve na casa de Joca e Marília pela última vez. “Era gente muito boa, mas de falar pouco”, diz Joca. Quando morreu, em 1980, o casal não conseguiu ir ao Rio, mas ligaram para a família. Dona Zica continuou a aparecer até sua morte. “Era uma pessoa maravilhosa e bondosa. Apesar da simplicidade da casa, sempre preferia ficar aqui”, diz Marília.

Até hoje, quando a Mangueira desfila, a emoção se instala pela casa. Joca, que saiu na escola tocando tamborim por muitos anos, fica com olhos marejados quando canta os versos que, inspirados no amigo poeta, escreveu em homenagem à escola. “Brilha lá no céu uma estrela, iluminando a passarela pra ver a Mangueira passar.”

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Jongo do Tamandaré

Algumas rodas de samba realmente conseguem evocar uma energia que não se explica. Nunca tive a oportunidade de acompanhar uma autêntica roda de jongo. Imagino que deva ser a energia do samba potencializada. O pequeno documentário abaixo mostra, entre outras coisas, que o jongo é muito mais do que um ritmo. É, de fato, um ritual.

Disco da Semana: Macalé canta Moreira (2001)

Um ano após a morte do grande Moreira da Silva, Jards Macalé prestou-lhe o devido tributo. Amigo, parceiro e herdeiro do chapéu panamá de Moreira, dizem que a ideia surgiu em um aeroporto enquanto Jards e Moacyr Luz esperavam um voo. Saiu em 2001 pela Lua Discos o ótimo "Macalé canta Moreira".



Com uma seleção primorosa de hits moreirianos, o disco tem a intepretação sempre inovadora de Macalé, como em "Acertei no Milhar"

Acertei no Milhar


Um serviço que Jards fez aos ouvintes foi unir a música de "Amigo Urso" com sua resposta. Também tem a úniva parceria dos dois "Tira o óculos e recolhe o homem", da qual já falei em outro post.

Amigo Urso


Um ótimo disco para quem curte Moreira. Ou Jards. Ou os dois.

1. Acertei no milhar (Geraldo Pereira, Wilson Batista)
2. Piston de gafieira (Billy Blanco)
3. Amigo urso / A resposta do amigo urso (Maria Nazaré Maia, Moreira da Silva, Henrique Gonzales)
4. Margarida (Zózimo Ferreira, Moreira da Silva)
5. Na subida do morro (Ribeiro Cunha, Moreira da Silva)
6. Olha o Padilha (Bruno Gomes, Ferreira Gomes, Moreira da Silva)
7. O rei do gatilho (Miguel Gustavo)
8. Choro esdrúxulo (Zé Ferreira, Moreira da Silva)
9. Samba aristocrático (José Dilermando, Moreira da Silva)
10. O último dos moicanos (Miguel Gustavo)
11. Tira os óculos e recolhe o homem (Jards Macalé, Moreira da Silva)
12. Moreira na ópera (Henrique Batista, Marília Batista )

Baixe no Um que Tenha

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Calçadão

O vídeo a seguir é um tanto quanto estranho. Trata-se de uma animação feita apenas com um imagem. Não dá muito para explicar, tem que assistir. Em último caso vale pela música que é bem legal.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Boceta de rapé

Nunca pensei que o funk é que fosse precursor nas músicas cheias de erotismo e, até pornografia. Imaginava que isso fosse coisa dos anos 1960 e 1970, quando o mundo passou por diversas revoluções, quebras de tabus, enfim a era: sexo, drogas e rock ´n roll. Mas nada disso.

Ao ouvir o mais novo lançamento da EMI, o disco Sexo MPB (muito bom, por sinal), compilado por Rodrigo Faour, descobri que o tema está presente no nosso cancioneiro há muito, mas muito mais tempo. Como Faour conta no disco, quem começou com isso foi Domingos Caldas Barbosa, ainda no começo do século XX.

Mas foi especificamente uma música que me chamou atenção. Principalmente por deixar no chinelo qualquer funk carioca considerado obsceno. Esta cançoneta é de 1906 e cantada por Mário Pinheiro. Seu nome dá uma ideia do que está por vir: "Boceta de rapé".


Boceta de rapé


Em tempo: Além do significado que nos é obvio, boceta também é a caixa usada para guardar o rapé, um pó de tabaco muito popular no começo do século XX.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Máquina de Lavar Cartoliana

Eu nunca tinha visto essa propaganda, mas parece que foi feita por volta de 2007 pela Agência Click. Não vi na televisão, nem vi no cinema, mas o fato é que a peça é pra lá de boa. Um sambinha cantado por uma máquina de lavar? Ainda inspirado em Cartola?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Samba e futebol

Como todo mundo já está careca de saber, na última sexta-feira, a nossa seleção foi eliminada da Copa. No entanto, em meio a tanta decepção que este time nos causou, acho que há um faixo de esperança nisso tudo.

O fracasso de 2006 fez com todos pedissem uma seleção mais séria, sem todo aquele circo com treinos televisionados e invasão de torcedores. Em 2010, Dunga fez justamente o inverso. Isolou o selecionado canarinho de qualquer contato com torcedores e imprensa. Além de privilegiar a confiança ao invés do talento. Creio que agora, o clamor será por um time que resgate aquele futebol ofensivo que nos consagrou. Claro que isso tem influência direta da nova safra de jogadores que vêm surgindo, liderados pela dupla Neymar e Ganso.

Enfim, que a derrota para Holanda sirva para colocar nosso futebol nos eixos. Deixo aqui o samba "Brasil Holandês, Homenagem a Maurício de Nassau", de Mano Décio, Abílio Martins e Chocolate




Pernambuco teve a glória
Divulgada na história
Do Brasil colonial
Do governo altaneiro
Para o povo brasileiro
De João Maurício de Nassau
O progresso foi marcado
E por ele foi deixado
Na expansão comercial
Como governador
Conseguiu incrementar
A produção nacional
João Maurício de Nassau
Que desenvolveu no Brasil
Na indústria açucareira
E o transporte da nossa madeira
João Maurício de Nassau
Culto e sereno, jovial
Deu assistência social
Ao grande Brasil colonial

Disco da Semana: Prisma Luminoso (1983)

"Prisma Luminoso" é o último disco de Paulinho da Viola com a gravadora Warner. Foi lançado em 1983 em vinil e 1987 em CD.

Há quem diga que é um dos preferidos do próprio. Se é verdade ou mito, não importa. A coisa é que este disco reúne uma pedrada atrás da outra. "Retiro" é uma delas, um daqueles sambas classudos, típicos de Paulinho:

Retiro


Além disso, tem aquela clássica "Mas quem disse que eu te esqueço". Já a faixa que dá nome ao disco, feita em parceria com Capinan, é um samba de terreiro pra lá de bonito. Saca só:

Prisma Luminoso


Agora um trecho do programa Roda Viva em que Paulinho fala do álbum "Quando eu fiz o último disco, chamado Prisma luminoso [1983], ele foi lançado em um momento, que eu acho que todos se lembram, em que havia um certo ceticismo em relação à chamada MPB, até por parte de alguns autores que reclamavam, alguns músicos, alguns compositores, alguns artistas, que estavam reclamando em não ver seus trabalhos reconhecidos e executados como achavam que tinha que ser executado. E também havia uma mudança naquele momento. Quer dizer, as gravadoras estavam investindo maciçamente, acreditando maciçamente em um grupo emergente, que era o pessoal do chamado rock de garagem, pessoal novo, que estava começando e alguns já com sucesso. Então, os investimentos eram muito para isso. Quando fiz esse disco, Prisma luminoso, e comecei a viajar, comecei a perceber que havia uma resistência muito grande com relação ao trabalho de divulgação do que eu havia feito e de outros. Comecei a perceber que outros artistas também ...A gente não ouvia nas rádios, principalmente nas FMs, e era uma enorme dificuldade fazer o trabalho se tornar conhecido."

01 - O tempo não apagou (Paulinho da Viola)
02 - Retiro (Paulinho da Viola)
03 - Cadê a razão (Paulinho da Viola)
04 - Mas quem disse que eu te esqueço (Ivone Lara - Hermínio Bello de Carvalho)
05 - Mais que a Lei da Gravidade (Capinan - Paulinho da Viola)
06 - Prisma luminoso (Capinan - Paulinho da Viola)
07 - Documento (Eduardo Gudim - Paulo César Pinheiro)
08 - Quem sabe (Élton Medeiros - Paulinho da Viola)
09 - Cisma (Paulinho da Viola)
10 - Não posso viver sem ela (Bide - Cartola)
11 - Só ilusão (Paulinho da Viola)
12 - Toada (Paulinho da Viola)

Baixe no Um que Tenha

quinta-feira, 1 de julho de 2010

As letras de Paulo César Pinheiro

A sensação de ouvir uma das dezenas de obras-primas de Paulo César Pinheiro sem saber qual foi sua fonte de inspiração pode ter chegado ao fim. Isso porque agora temos o "Histórias das Minhas Canções", lançado pela editora Leya.



O livro, com 256 páginas, sai por algo entre 30 e 40 reais dependendo da livraria. Tem histórias sensacionais de músicas como "Lapinha", "Além do Espelho", "Tudo o que mais nos uniu", "Caboclo Guaracy" e "Tô voltando".

Indispensável para aqueles tipos quase chatos que ouvem uma música e adoram ficar contando a história dela.
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