sexta-feira, 4 de abril de 2008

Revelações guardadas de Satã

João Francisco dos Santos jamais seria conhecido por João. Pernambucano de Glória do Goitá, João chegou ao Rio de Janeiro em 1907. Seu destino: Rua Moraes e Vale, número 27. Os arcos que dão guarida à Lapa estavam recebendo um dos maiores malandros que o Brasil já conheceu.

Satã, para os mais chegados, Madame Satã para os registros da história que o imortalizou como o homossexual mais macho do Rio. Mesmo assim tinha sete filhos. Todos adotados, é claro.
Aos 39 anos foi preso depois que sua arma disparou contra um policial. 26 anos no xadrez.

Em uma entrevista que deu para o Pasquim em maio de 1971, Satã nega ter atirado no oficial. “O revólver que disparou da minha mão. Casualmente”. Cabral insiste:

- Mas foi a bala que matou?
- A bala fez o buraco. Quem matou foi Deus, conta Satã.

Satã também é acusado de matar o compositor Geraldo Pereira. O motivo: um copo de cerveja e um monte de desaforos. “Eu entrei no Capela e estava sentado tomando um chope. Ele chegou com uma amante dele (ainda vivia com essa mulher), pediu dois chopes e sentou ao meu lado. Aí tomou uns goles do chope dele e cismou que eu tinha que tomar o chope dele e ele tinha que tomar o meu. Ele pegou o meu copo e eu disse: ‘Olha esse copo é meu’. Aí ele achou que aquele copo era o dele e não o meu. Então eu peguei meu copo e levei pra minha mesa. Aí ele levantou e chamou pra briga. Disse uma porção de desaforos, uma porção de palavra obscenas, eu não sei nem dizer essas coisas. Aí eu perdi a paciência, dei um soco nele, ele caiu no meio-fio e morreu. Mas morreu por desleixo do médico, porque foi pra assistência vivo”.

Um senhor afirma que conheceu Satã e conta uma de suas histórias

Apesar das milhares de brigas, dos 29 processos, dos três homicídios, Satã conviveu tranquilamente com importantes nomes da música brasileira. Francisco Alves, Noel Rosa, Orlando Silva e Vicente Celestino são alguns nomes que Satã lembra na entrevista feita pelo Pasquim.


A entrevista inteira é riquíssima. Satã conta de sua fuga do presídio, da surra de deu em um delegado que o perseguia, dos sete nomes que tinha para evitar muitos processos em um só e dos outros malandros que a Lapa conheceu, como Edgar, o Meia-Noite.

Também na entrevista, Satã que tinha 71 anos diz que morreria com 84. “Pode anotar aí. Se o senhor não estiver vivo, talvez seus filhos estejam. Deixe gravado aí porque eu vou morrer com 84 anos”. Madame Satã errou. Morreu quatro anos depois, vítima de uma forte pneumonia.


Baixe a entrevista completa

2 comentários:

Jazzca / Jessica disse...

Tem como postar essa entrevista do Satã ao Pasquim novamente??

Desde já agradecida.

Murilo Mendes disse...

Vou procurar... Eu mesmo perdi esse arquivo. Se achar reposto.

Murilo

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...