domingo, 30 de março de 2008

Vermute Entrevista: Caio Bassitt

Ele vive em uma fina linha criada entre o samba e o blues. Desde pequeno ouve nomes como Stevie Ray Vaughan e Buddy Guy. Na adolescência caiu em suas mãos uma coletânea de discos do Noel Rosa, feita pelo seu professor de biologia, o especialista Omar Jubran. O resultado dessa equação é Caio Bassitt, que divide seu tempo entra a guitarra da banda Australopitecus, o violão e as aulas do curso de letras na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Puc-SP).

Seu maior ídolo na música não é sambista, mas foram os versos do samba que o ampararam depois de uma desilusão amorosa. Para ele, o elo entre as músicas que cria está no lamento e nas raízes africanas.

Em 2005 lançou um disco com composições próprias (algumas delas feitas nos idos dos seus 16 anos e a primeira faixa composta quando Caio ainda nem ouvia samba) e parcerias. Com uma variedade musical ampla, o disco intriga quem escuta com cuidado. Entretanto ainda guarda um Caio um pouco verde, buscando o amadurecimento nas letras e melodias.

O Vermute com Amendoim entrevistou este paulista e descobriu mais algumas histórias de Caio, contadas aqui:

Vermute com Amendoim: Uma das coisas que me fascina é sua passagem do blues para o samba. Como foi essa história?
Caio Bassitt: Eu sempre toquei guitarra desde os oito anos. Tinha uma banda de blues e de rock na adolescência e sempre considerei, por puro desconhecimento, o samba esse pagode que a gente ouve nas rádios. E quando eu namorava, a família da minha namorada sempre ouvia Vinícius [de Moraes], Chico Buarque, mas eu não dava muita atenção. Curtia um Rock! Aí, quando o namoro terminou... Primeira desilusão...Você sabe como é!(risos). Fui viajar com um amigo e vi uma roda de samba com um pessoal mais velho tocando um samba. Noel, Nelson Cavaquinho, Ataulfo Alves, Cartola... Eu comecei a prestar atenção nas letras e identifiquei muito com o momento que estava passando. A partir daí, comecei a pesquisar o samba e a freqüentar rodas em São Paulo, e entendi sua beleza, importância e sua origem de lamento. Acabei comprando o Box do Noel rosa e deixei a guitarra de lado. Passei uns seis anos sem tocar guitarra, e comecei a estudar violão.

VCA: A guitarra ficou definitivamente de lado?
CB:
Depois de um tempo, uns amigos me convidaram para fazer um blues. Nós formamos uma banda, ensaiamos e tocamos em alguns eventos e bares.

Como chama a banda?
CB:
Australopitecus.

VCA: Que tipo de som vocês tocam?
CB:
A gente toca muito Stevie Ray Vaughan... Buddy Guy ,Jimi Hendrix, Chuck Berry, Beatles...

VCA: E como é viver no limite entre o samba e o blues?
CB:
É engraçado, porque o samba e o blues têm uma raiz parecida. Os dois têm essa questão do lamento, essa raiz africana. Estou embasado nas duas. O blues eu ouço e toco desde moleque e o samba veio mais tarde, mas no fim e eles se complementam... Mesmo os trabalhos sendo diferentes.

VCA: A Teresa Cristina foi no show do Iron Maiden, você também?
CB:
Não. Gosto de algumas músicas do Iron Maiden. Acho que são grandes músicos e artistas. Admiro a presença de palco deles. Eu prefiro o Rock mais Clássico...Elvis, Chuck Berry...

VCA: Quando seu disco foi lançado? Como foi a seleção das músicas?
CB:
O disco começou em 2005 e terminou em 2006. Foi, na verdade, uma homenagem aos meus amigos, que me acompanhavam pelos bares da cidade tocando e cantando. Porque o samba existe nesse ambiente. No ambiente de instabilidade, da madrugada, da desarmonia, da angústia, do “Desconcerto do mundo”...E, queira ou não, vivemos essa oscilação todos os dias.

VCA: Ficou muita coisa de fora?
CB:
Ficaram algumas músicas.

VCA: E você já pensa em lançar outro?
CB:
Por enquanto não. Vou esperar amadurecer esse. Estou com algumas músicas mais recentese algumas que ficaram fora da seleção do cd, mas ainda não é o momento de gravá-las.

VCA: Alguma música neste disco tem uma história curiosa?
CB:
Quando eu fiz a 1ª música do CD (“Pra Você”), eu tinha uns 16/17 anos. Não ouvia samba na época. Foi uma coisa engraçada. O samba saiu...Com uma mistura de blues, mas saiu. Tem uma história pra “Você que levou meu violão” (também do CD) que foi um fato real. Eu estava tocando em um sarau com bastante gente conhecida. Ai, me chamaram pra cantar... E como havia um violão na roda já sendo usado, deixei meu violão num canto. Quando eu voltei o violão não estava mais lá. Gostava muito daquele violão. Fiquei namorando ele um tempão, e quando eu estava com ele alguém leva embora assim... Aí fiz esta música como vingança...Pra evitar assassinato (risos).

VCA: E a “Vinho de Dionísio”?
CB:
Essa eu compus a partir de uma conversa profundamente calorosa com dois amigos sobre namoro, casamento... E uma amiga falou pra gente que gostaria de casar virgem. Aí começou uma discussão sobre isso... Sobre ela querer viver como uma freira...Até que ponto seria uma hipocrisia de pensamento moldado pela sociedade para preservar uma imagem ou um desejo realmente puro e transparente...Enfim... “Vinho de Dionísio” é uma reflexão sobre o sexo santificado e o amor profano.

VCA: Um ídolo na música?
CB:
Stevie Ray Vaughan... Noel Rosa.

VCA: Qual disco de samba você considera indispensável no acervo?
CB:
Tem vários...O Box do Noel Rosa e todos do Stevie Ray.

Veja a entrevista que o Vermute com Amendoim fez com o diretor do filme Noel, o Poeta da Vila.

Saiba mais sobre Stevie Ray Vaughan

Ouça as músicas de Caio Bassitt

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