sexta-feira, 14 de março de 2008

O Mercado Informal do Samba

Vender samba nunca foi novidade. Grandes nomes da música ajudaram a construir sua reputação gastando alguns trocados. A fórmula era simples: os nomes consagrados do rádio da década de 20 e 30 subiam nos morros para buscar "inspiração" dos compositores espontâneos e por uma soma barata podia se arrumar uma parceria.

Outros nem se davam o trabalho de gastar dinheiro. Baseados na máxima de Sinhô que dizia que “Samba é que nem passarinho, é de quem pegar”, alguns malandros usavam das mais sórdidas técnicas para sair com um sambinha nas mãos. Brancura, por exemplo, pedia a Benedito Lacerda para que ficasse atrás da parede escutando e copiando as músicas de sambistas ingênuos.


Mais honesto, Francisco Alves, o rei da voz, era um desses garimpeiros de samba. Não se sabe ao certo quantos sambas Chico Alves comprou, mesmo porque em muitos só entrava o nome do “contratante”, enquanto o verdadeiro compositor acabava caindo no esquecimento. Contemporâneo de Chico, Mário Reis efetuou a transação de uma importante transação, deixando depois o samba para o companheiro, por não conseguir cantá-lo adequadamente.


O samba era de Cartola, chamado de “Infeliz Sorte”. Em uma entrevista dada ao Diário de Notícias de 20 de julho de 1974, Cartola lembra como foi o processo da compra: “Em 1931 o Mário Reis veio no morro. Ele chegou com um rapaz chamado Clóvis, que era guarda municipal e tinha dito que era meu primo, coisa e tal. O Clóvis subiu pra falar comigo, mas o Mário ficou lá embaixo. Chegou dizendo que o Mário queria comprar um samba meu. Pensei que ele estava maluco. Como, vender samba? Clóvis disse que era pro Mário gravar, e tanto insistiu que eu acabei descendo e cantando um samba para ele, que, por sinal, ele já conhecia. Pergunta quanto eu queria. Fiquei sem resposta. Já ia pedir uns cinqüenta mil réis, mas o Clóvis cochichou e disse pra eu pedir quinhentos. Pedi trezentos e ele me deu”.

Vídeo retirado do Balaio do Carl Ole e O couro do cabrito

Comprositores



A grana era boa, visto que um maço de cigarros custava em torno de 500 réis. Mesmo assim não era suficiente e quem acabava lucrando mais, definitivamente, era o comprador que fazia sucesso.


A música estourou e Cartola passou a ser um comerciante de sambas. Somente para o Chico Alves vendeu “Não faz amor”, “Tenho um novo amor”, “Divina Dama” (que foi gravado em 1933, pela Odeon e também acabou se tornando um sucesso) e “Diz qual foi o mal que eu te fiz”. Todos pelo mesmo preço.


Cartola, porém, não deixava margem para pilantragem. Em todos os sambas que vendeu o acordo era que seu nome saísse no disco. A malandragem, porém não era dom de qualquer um. Babaú da Mangueira também vendeu um samba por mixaria e depois de arrependeu, mas isso é papo para uma próxima vez.

Saiba mais sobre o samba "A flor e o espinho", que Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito venderam

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...