terça-feira, 2 de junho de 2009

Um bate-papo de primeira

Este é um daqueles segredos que você tem que contar para alguém.

Todas as terças-feiras, o jornalista e sambista diletante André Domingues leva uma seleta plateia de admiradores do samba a um mergulho na música brasileira. As palestras, que não passam de divertidos bate-papos muitíssimo bem ilustrados com exemplos sonoros, ocorrem no Centro Cultural e de Estudos Superiores Aúthos Pagano, na Lapa. Nesta terça começa uma nova etapa do curso de História da MPB, sobre a Era de Ouro. E o melhor, a inscrição é gratuita!

Centro Cultural e de Estudos Superiores Aúthos Pagano
Rua Thomé de Souza, 997, City Lapa.
Tel.: 11-3836-4316

Autor do livro Batuqueiros da Paulicéia, André dá uma palhinha do que rola nos encontros:
"Apesar de estarmos vivendo um momento bastante fértil em iniciativas de registro da cultura popular brasileira, a chamada “grande mídia”, especialmente no campo musical, tem apresentado uma sensível tendência à cultura estrangeira. Nada de muito preocupante. Afinal, o país tem uma longa tradição de assimilar a música do exterior e remodelar à nossa maneira, assim como fizeram Dick Farney e Lúcio Alves nos anos 40 e 50, no auge da expansão cultural norteamericana. Cada um deles tinha como referência uma vertente forte da canção dos Estados Unidos: Dick na linhagem dos pianistas cantores de jazz e Lúcio, na dos conjuntos vocais. Ambos, porém, se destacaram fazendo música brasileira, sobretudo samba-canção, aproveitando a sofisticação harmônica e interpretativa do jazz. O público que os acompanhava não era dos mais numerosos – Lúcio até ganhou a bem-humorada alcunha de “O Cantor das Multidinhas” -, mas tinha entusiasmo e fidelidade suficientes para se por a disputar sobre qual dos dois carregava melhor a bandeira da modernização jazzística da MPB. De um lado, formou-se o Sinatra-Farney Fan Club (traçando uma relação direta entre o ídolo brasileiro e o mito Frank Sinatra) e de outro, pouco depois, o Dick Haimes-Lúcio Alves Fan Club (nesse caso, o mesmo movimento se esboça, mas com um cantor que, embora consagrado nas terras do Tio Sam, era argentino de nascimento). Dick e Lúcio, adeptos de um estilo low-profile, obviamente não alimentavam essa rivalidade juvenil, mas a situação foi ficando cada vez mais incômoda. Não adiantou nem Dick convidar Lúcio para uma reunião do Sinatra-Farney e falar aos seus fãs da amizade e da admiração recíproca que tinham. A solução foi gravarem juntos, em 1953, o delicioso samba “Tereza da Praia”, de Billy Blanco e do então novato Tom Jobim. Por dois minutos e 48 segundos os dois foram como um só, mostrando as incríveis possibilidades abertas pelo aprendizado dos padrões jazzísticos de interpretação. Uma certa disputa se percebe aqui e ali, quando Dick e Lúcio parecem competir na potência dos graves ou na inventividade dos melismas. Ao final, porém, soam harmoniosos, como dois testemunhos de uma mesma vontade de absorver e transformar em brasileiras as referências recebidas de fora."

Um comentário:

Anônimo disse...
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