segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Disco da semana: 1974 - Cartola


A conversa abaixo eu tive com o amigo Enrico. É um cara boa gente, mas quando o assunto é samba ele confunde tamborim com agogô.

- Esse disco do Riachão não é clássico, né?
- De clássico tem o “Cada macaco no seu galho”. Até banda de axé já gravou esta.
- Mas não é um disco clássico, né?
- Não, mas é muito bom.
- Ah mas já que eu vou baixar um disco de samba, quero baixar um clássico.

Atendendo a pedidos, o disco que figurará esta semana no Vermute é um clássico com “C” maiúsculo. Com vocês: o Divino Cartola. Uma infinidade de pessoas que já escreveram sobre este LP, torna a minha tarefa bastante difícil. E qualquer observação que eu fizer aqui, terá grandes chances de cair em um lugar mais que comum.
Portanto, não direi nada, deixarei com vocês o texto da contracapa do disco, escrito por Sérgio Cabral:

"Finalmente um LP com o grande Cartola! Foi preciso que nascesse uma nova gravadora, a Marcus Pereira, para que fosse dada ao fundador da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, ao maior compositor de todos os tempos dos morros cariocas, a mesma honra já concedida a centenas de nomes surgidos com a mesma rapidez com que desapareceram do panorama de nossa música popular.

Aos 65 anos de idade, Cartola mostra neste disco a razão pela qual é uma legenda e uma lenda do samba. A legenda todo mundo entende. Quanto à lenda, explico melhor. Houve um tempo – bem depois de Cartola ter sido descoberto nos idos de 1930 pelos grandes cantores da época – que o sambista desapareceu do morro e do samba. Muita gente pensava até que ele tivesse morrido e vários sambas falavam dele: “Tenho saudades do terreiro da escola/Lindos sambas do Cartola”, dizia um de Herivelto Martins; “Antigamente havia grande escola/Lindos sambas do Cartola”, dizia outro de Pedro Caetano. E Cartola só foi redescoberto em fins dos anos 50 pelo inesquecível Sérgio Porto numa atividade nada condizente para a grandeza do seu nome: era lavador de carros de uma garagem de Ipanema.

Mas hoje todas as pessoas ligadas de qualquer forma ao samba reconhecem a sua importância. Ele não só fundou a Estação Primeira como lhe deu nome e as cores verde-e-rosa. Foi o seu primeiro diretor de harmonia. Um dos seus sambas, “Quem me vê sorrindo”, foi gravado por Leopoldo Stokovsky para a Columbia norte-americana, por indicação de Villa-Lobos. Villa-Lobos, aliás, era um grande admirador de Cartola e o convidou várias vezes para participar de espetáculos que promovia. Foi parceiro de Noel Rosa e seus sambas foram gravados por intérpretes como Francisco Alves, Mário Reis, Sílvio Caldas, Carmen Miranda, Elizeth Cardoso e Paulinho da Viola. São muitos, portanto, os títulos de Cartola, o mestre de tantos compositores importantes (o próprio Paulinho da Viola o aponta como a sua grande influência). Mas talvez nenhum seja tão expressivo quanto ao que lhe foi atribuído pelo extraordinário Nelson Cavaquinho numa entrevista que me concedeu. Perguntei a Nelson qual, na sua opinião, é o maior compositor da nossa música. Ele não hesitou:
- Cartola!"

Sérgio Cabral.

Músicas:
01 - Disfarça e chora (Cartola / Dalmo Casteli)
02 - Sim (Cartola / Oswaldo Martins)
03 - Corra e olhe o céu(Cartola / Dalmo Casteli)
04 - Acontece(Cartola)
05 - Tive sim(Cartola)
06 - O sol nascerá (Cartola / Elton Medeiros)
07 - Alvorada (Cartola / Carlos Cachaça / Hermínio Belo de Carvalho)
08 - Festa da vinda (Cartola / Nuno Veloso)
09 - Quem me vê sorrindo (Cartola / Carlos Cachaça)
10 - Amor proibido(Cartola)
11 - Ordenes e farei (Cartola / Aluízio Dias)
12 - Alegria (Cartola)

Baixe esse disco no Som do Roque.

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