segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O apito de Pato N´água

Wálter Gomes de Oliveira, era esse o nome de Pato N´água, um mestre de bateria como poucos. Aliás, mestre não, Pato N´Água era apitador como se dizia antigamente. Comandando o cordão do Vai-Vai, o batuque saía perfeito, sem nenhum probleminha na afinação ou ritmo. "Ele passou pelo Bixiga, pela Vila Santa Isabel que hoje é a Escola de Samba Acadêmicos do Tatuapé, Peruche, Camisa Verde...", conta Geraldo Filme no seu Ensaio à TV Cultura.

Geraldo Filme, um dos compositores deste lindo samba

O cara era mesmo uma fera. Bom de dar pernada na tiririca, Pato era um malandro completo. Um negrão alto, forte e valente. E como bom bamba que era, Geraldo Filme conta que Pato era cheio de "comadrinhas" por aí. E foi num dia que o homem foi visitar suas moçoilas que o bicho pegou. Pato alugou um táxi e começou a rodar a cidade. Visitou uma aqui, tomou um café acolá, bateu um papo noutra esquina. Enfim, ficou o dia todo com o mesmo motorista que acabou desconfiando e avisando a polícia. Como já naquela época o pessoal atira primeiro pra depois perguntar, Pato acabou dançando. Em uma manhã de 1969 foi encontrado morto em uma lagoa de Suzano.

"O laudo dava infarte. Mas de susto não morreu porque era bravo. Afogado também não porque era Pato N´Àgua porque nadava bem demais", lembra Geraldo Filme, "Aí o motorista do carro funerário disse pra mim, o Carlão do Peruche: 'Dá uma olhada na japona dele que ela tá com uns furos meio estranhos' Aí quando o Carlão pegou a japona, o dedo dele já entrou no buraco. Aí fomos tirar a roupa dele pra ver, mas não tinha marca de furo. Aí fomos tirar a roupa dele pra ver e não tinha marca de furo. Aí explicaram pra gente que se foi baioneta ou punhal, na água fecha".

Pra contar o final da história, Plínio Marcos, em um texto que saiu no dia 13 de fevereiro de 1977 na Folha de S. Paulo: "O que se sabe é que a notícia chegou no Bexiga à tardinha, na hora da Ave-Maria, e logo correu pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. E por todas as quebradas do mundaréu, desde onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos, o povão chorou a morte do sambista Pato Nágua. E o Geraldão da Barra Funda, legítimo poeta do povo, chorou por todos num bonito samba chamado Silêncio no Bexiga".

Silêncio no Bixiga

Silêncio
O sambista está dormindo
Ele foi mas foi sorrindo
A notícia chegou quando anoiteceu
Escolas
Eu peço silêncio de um minuto
O Bixiga está de luto
O apito de Pato N'água emudeceu

Partiu
Não tem placa de bronze
Não fica na história
Sambista de rua morre sem glória
Depois de tanta alegria que ele nos deu
Assim
Um fato repete de novo
Sambista de rua, artista do povo
E é mais um que foi sem dizer adeus

Silêncio...

3 comentários:

LuBoniBlog disse...

Conheci várias interpretações do Silêncio no Bixiga, mas penso que a última que ouvi, cantada pelo Vesper, grupo vocal feminino e no qual a Mazé Cintra arrasou na percussão, tocando o surdo em funeral, foi maravilhoso. Dali pra cá comecei a procurar conhecer melhor a figura do "seu" Pato e entender o que significa ser amante do samba.
Ontem, 17/02/2010, a chuva me reteve um tempo a mais na estação Sé do Metrô. E lá no saguão do piso de entrada, bem no fundão, vi uma retrospectiva de carnavais antigos de Sampa. E vi uma foto do Pato N"água, todo sorridente e paramentado pra mais um desfile;
daí me deu vontade de registrar no livro de visitas:
Herói da Paulicéia
"Nas noites de Piratininga choviam estrelas / Riam-se as mariposas/ Trinavam os apitos/ e o sambista desvairado/ passaria a mártir da democracia/ Porisso, hoje, o surdo não rufa / uma melodia patética/ acabou-se a alegria/ foi o fim da ética"
Precisamos divulgar mais essa gente.
Luiz A. Bonini

Anônimo disse...

Gostei da poesia..

Unknown disse...

ATENCAO QUANDO SE ESCREVE OU LE ALGUM ARTIGO ELE FALECEU EM 1965 NAO EM 1969 AFINAL EU TENHO O ATESTADO DE OBTO DELE NAO FOI BEM ASSIM A MORTE DELE

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