segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Disco da semana: Brasil, flauta, cavaquinho e violão


Semana passada, visitando um sebo e comprando uns discos, me deparei com "Brasil, flauta, cavaquinho e cavaquinho", lançado em 1973. Com a palavra Marcus Pereira:

"Preparem os seus corações para as coisas que vocês vão ouvir. São músicas conhecidas, tradicionais, algumas até da nossa antologia da nossa música popular. E seus corações talvez precisem de uma trégua que abrande as vibrações dos sons eletrônicos à sua volta. Os sons eletrônicos é possível que fiquem, é possível que não fiquem. Mas os sons que vão ouvir, fabricados pelo talento de intérpretes que talvez se inscrevam entre os melhores do país, em seu gênero, êsses ficaram. Repare como seu coração está alegre, repare como seus pés, à sua revelia, acompanham o ritmo extraordinàriamente preciso do pandeiro do Fritz. Você talvez sinta vontade de dançar, eis um sintoma frequentemente revelado em situações do gênero. Há as convenções, sim, no entanto é preciso dançar.

Êste foi possível graças, em primeiro lugar, à descoberta do disco, há décadas. Depois, a existência de "O Jogral", bar onde se pratica a mais completa e sadia boemia músical neste país, e que vem sendo paulatinamente descoberto por brasileiros de tôdas as partes, principalmente de São Paulo, onde se apresentam os intérpretes dêste disco. Recentemente, na redação de um jornal do Rio de Janeiro, organizou-se um concurso literário no qual o 1° colocado ganharia como prêmio um fim de semana em São Paulo. Ao segundo colocado, caberia um prêmio surpreendente: dois fins de semana em São Paulo. Isto porque São Paulo tem a fama de ser uma cidade chata. Isto não é verdade. Quem duvidar, que vá ao "Jogral", mesa sempre reservada para os amigos como você.

Ressalvadas a descoberta do disco e a descoberta do "Jogral", deve-se, êste disco, na verdade, ao surpreendente talento do Manoelzinho, do Dito, do Adauto, do Geraldo Cunha e do Fritz. Manoelzinho diz que é sobrinho do Pixinguinha, enriquecendo a crença popular: sobrinho de peixe, peixinho é. Benedito Costa, tocando para o internacionalmente conhecido guitarrista flamenco Pedro Soler, levou o artista espanhol ao espanto, tocando com incrível precisão um instrumento, o cavaquinho, que, comparado à guitarra clássica, parece uma miniatura. Adauto prometeu nunca mais lavar as mãos, depois que foi entusiàsticamente cumprimentado por Duke Ellington, num "show" de música brasileira especialmente apresentado no "Jogral" por ocasião de sua visita a São Paulo. Geraldo Cunha, não há quem não o conheça na noite paulistana. Quanto a Fritz, é um dos componentes do "Trio Mocotó". Este disco foi produzido pelo Carlos Paraná, fundados do "Jogral" e da maior saudade que guardo no coração. É o segundo lançamento do selo "Discos Marcus Pereira" que, um dia, pretendemos, identifique música popular brasileira de qualidade".

Marcus Pereira

Músicas:
1. Carinhoso (Pixinguinha)
2. Flamengo (Bonfiglio de Oliveira)
3. Gosto que me enrosco (Sinhô)
4. Brasileirinho (Waldir Azevedo)
5. Camundongo (Waldir Azevedo / Risadinha do Pandeiro)
6. Bem-te-vi atrevido (Lina Pesce)
7. Primeiro estudo (Benedito Costa)
8. Apanhei-te cavaquinho (Ernesto Nazaré)
9. Chiquitita (Waldir Azevedo)
10. Tico-tico no fubá (Zequinha de Abreu)
11. Brejeiro (Ernesto Nazaré)
12. André de sapato novo (André Victos Corrêa)
13. Flor do mal (Anacleto de Medeiros)
14. Lamento (Pixinguinha)

Baixe esse disco no Pirata do rock.

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