terça-feira, 27 de janeiro de 2009

50 anos de samba - Parte II

Conforme prometido, segue a segunda parte do artigo do Jornal O DIA de 1972. A primeira parte você encontra aqui.

ATRAVÉS DOS ANOS

De 1917 em diante antes desse ano o samba era apenas tango - o samba cresceu, agigantou-se e centenas de musicos se projetaram compondo e interpretando o ritmo brejeiro, que tinha o condão de fazer com que todo o mundo mexesse as cadeiras aos seus primeiros acordes.

Nomes famosos se mantiveram por muito tempo em cartaz, tais como Heitor dos Prazeres, Caninha, Ismael Silva que com Donga, Pixinguinha e Sinhô integraram a "Turma da Velha Guarda". Com o passar dos anos, novos compositores talentosos foram surgindo, como Ary Barroso, Noel Rosa, Lamartine Babo etc. Pelos  idos de 1920 começaram a surgir os grandes interpretes do samba e um deles, Francisco Alves que se iniciara cantando em teatros, acabou se constituindo no maior de todos, só encerrando a sua gloriosa carreira de "Rei da Voz" em setembro de 1952, vitimado por um tragico desastre de automovel. Mas durante o seu reinado, outros cantores celebres surgiram, tais como Araci Côrtes, Aracy de Almeida, as irmãs Carmen e Aurora Miranda, as irmãs Marilia, Dircinha e Linda Batista, entre as mulheres, e Orlando Silva, Roberto Silva, Moreira da Silva, o "Rei do Breque", Ciro Monteiro, Ataulfo Alves, Silvio Caldas, Mário Reis, enfim, uma plêiade de cantores inspirados e que valorizavam os ritmos brasileiros através de interpretações sensacionais que nos furtamos de enumerar para não alongar muito esta discriminação despretenciosa do que foi  e é nosso muito bem amado samba.

DESTAQUES

Se é justo afirmar-se que Francisco Alves foi o maior cantor brasileiro de todos os tempos; se é justo também dizer que Donga foi o primeiro sambista a surgir no campo da musica popular brasileira, justiça também se faça a alguns compositores que se tornaram imortais pelo muito que deram em favor dos nossos ritmos. Noel Rosa, por exemplo, nascido na rua Teodoro da Silva, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, no dia 11 de dezembro de 1910, foi dos mais prolificos autores, e aí estão "Com que roupa", "Palpite infeliz", "João Ninguém", Côr de cinza", e o mais belo samba de todos, o magistral "Ultimo desejo", para contar o seu valor como poeta popular. Suas letras apresentavam magistral originalidade, mracante lirismo e sentimento, ao mesmo tempo que transbordava ironia e inegavel espirito satirico. Foram 212 as peças musicais que compôs e que entraram para a historia do nosso samba.

Mas há Ary Barroso, nascido em Ubá, Minas Gerais, o celebrado autor de "Na baixa do Sapateiro", "Faceira", "Um samba em Piedade", "Terra Sêca", "Rancho Fundo", "Falsa de Consciência", "Maria" etc. Ary Barroso permanecerá para sempre como uma das grandes figuras do nosso patrimônio artístico-musical, mas há também Lamartine Babo, nascido no Rio de Janeiro, na rua Teofilo Otoni, a 10 de janeiro de 1904, o mais bem humorado compositor daquela época de ouro da nossa musica.

Lamartine Babo foi autor prolifero. O conhecimento intimo que teve com Nazareth, um dos mais geniais autores brasileiros e talvez o criador sem contestação dos chôros que entraram para a história como o verdadeiro motivo das gostosas serestas brasileiras. Figura admiravel de compositor, faleceu em 1963, mas a safra de suas composições é enorme: em 1924, êle compusera "Nunca, jamais, em tempo algum" e "De paleto curtinho", cantadas e gravadas na velha Casa Edison por Francisco Alves e Frederico Rocha. Talvez a unica restrição que se possa fazer a Lamartine Babo é que ele não era realmente um sambista cem por cento, eis que preferia extravasar a sua bossa através das queridas marchinhas de então e que foram cantadas por todo o Brasil. "A tua vida é um segredo"e "Na virada da Montanha", podem ser apontados como dois de seus mais inspirados sambas, que Mario Reis e Francisco Alves, respectivamente, deram cores e conduziram à fama merecida que até hoje desfrutam.

Porém a lista dos grandes autores de samba é enorme. Forçosamente temos que mencionar João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga); Custódio Mesquita; André Filho, Jonjoca (João de Freitas Ferreira); Mario Travasso de Araujo; Alcebiades Barcelos e Armando Viera Marçal; Orestes Barbosa; Benedito Lacerda; Romualdo Peixoto, o Nonô; Francisco Queiroz Matoso, José Gelsomino, o Kid Pepe, Germano Augusto; Assis Valente; Gadê e Walfrido Silva; J. Cascata e Leonel Azevedo; Valdemar de Abreu; o Dunga; o grande Ataulfo Alves; Herivelto Martins e Lupicinio Rodrigues. Impossivel é apontar todos os grandes sambistas dos ultimos cinquenta anos, mas há que se fazer justiça a outros mais como Nilton Bastos, Ismael Silva e Dorival Caymmi.

Propositalmente misturamos cantores e autores, porque a bem da verdade, deve-se frizar que todo cantor brasileiro em geral faz samba também, assim como todo autor , também sabe bem ou mal interpretar as suas composições.

Não queremos encerrar este capitulo dedicado aos cantores e compositores , sem fazer referência a uma dupla extraordinária que tantos louros colheu, a integrada por Joel de Almeida (o Magrinho Elétrico) e Gaucho, os admiráveis interpretes de "Estão batendo". Depois de muitos anos, Joel ainda está por aí em atividade, sempre elegante, sempre jovial e cantando os seus maravilhosos sambas entre os quais destacamos "Madureira Chorou", um dos melhores que temos noticia. E não nos esqueçamos também, (pois seria grande pecado nosso), de citar Mário Reis, o elegante advogado carioca que se transformou num dos maiores sambistas de todos os tempos e ao qual se pode adjudicar o titulo de "primeiro sambista bossa nova" da nossa história musical.

Há quatro décadas, Mario Reis cantava com sabor modernissimo o "Se você jurar",  samba que lhe deu fama e o introduziu  de corpo e alma na nossa musicografia popular, às vezes fazendo dupla com Francisco Alves (Chico Viola). Ainda recentemente, um novo LP de Mario Reis foi lançado e por êle a atual geração de interessados no samba poderão notar que o seu estilo inimitavel é sempre o mesmo, confundindo-se em certos aspectos com a nova escola, que é forçoso dizer, não guarda resquicios do verdadeiro samba do morro, do samba-escola, do samba-contagiante.

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