terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Vermute conta o samba: A Flor e o Espinho

Quem concebeu "Vou-me Embora pra Pasárgada" não precisava invejar a ninguém. Mas Manuel Bandeira, o poeta que afirmou nos versos tristes de "Testamento" ser "poeta menor", deu mais uma prova de sua bela humildade ao se deparar com o samba "A Flor e o Espinho", composto por Guilherme de Brito, Nelson Cavaquinho e Alcides Caminha.

Os versos "Tire seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor" foram considerados por Bandeira como os mais belos versos já escritos na Língua Portuguesa. A opinião era compartilhada por outro nome de peso: Sérgio Porto, também conhecido como Estanislaw Ponte Preta.

E como a imensa maioria dos grandes sambas antigos, a idéia inicial surgiu em um botequim. Desta vez, na Praça Tiradentes, rodeada de cerveja e em meio a fumaça dos cigarros, o golaço foi de Guilherme de Brito.

Em uma entrevista ao Caderno C, do campineiro Correio Popular de 21 de agosto de 2002, Guilherme conta a história:

Em uma noite da década de 50, Guilherme de Brito foi à Praça Tiradentes depois de ter assistido a um show do cantor Augusto Calixto. Como era de costume foi ao botequim que freqüentava na região e se sentou. "...sempre aparecia por lá, no final da noite, uma mulher da vida, muito escandalosa, que ria demais, falava muito alto. Então eu escrevi no maço de cigarros: 'Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor'. Passei para o Nelson a primeira parte e ele completou de um modo muito bonito".

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua

É no espelho que eu vejo a minha mágoa
É minha dor e os meus olhos rasos d'água
Eu na tua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor


A música foi gravada em 1957 por Raul Moreno no disco Todamérica, mas não fez muito sucesso. O reconhecimento veio na voz de Elizeth Cardoso, quando em 1965, foi gravada no LP "Elizeth sobe o morro".

A parceria entre Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito durou 40 anos, até a morte de Nelson em 18 de fevereiro de 1986. Teoricamente havia um pacto de fidelidade, em que um apenas poderia compor com o outro, mas Nelson freqüentemente se esquecia disso: "O Nelson disse que eu só poderia compor com ele e vice-versa, mas só eu fui fiel. Ele gostava de umas biritas a mais e acabava se esquecendo do pacto, vendia samba pra pagar a conta do bar..."

Depois da morte de Nelson, Guilherme compôs com outros grandes nomes do samba como Monarco, Alcyr Pires Vermelho, Nelson Sargento. Mas Bandeira gostou mesmo é da obra-prima daquela parceria conturbada.

Vale a pena escutar, pelo menos, duas versões do samba, já gravado por muitos outros artistas como Beth Carvalho, Paulo Moska e Luciana Souza. Na primeira, Guilherme de Brito canta (após a recusa de Nelson Cavaquinho) "A Flor e o Espinho" e o belo samba "Quando eu me chamar saudade". A música está no álbum "Os quatro Grandes do Samba".

Uma segunda versão, com Guilherme de Brito cantando e acompanhado do Trio Madeira Brasil também vale a pena ser conhecida. O Álbum leva o nome da música.

A Flor e o Espinho/Quando eu me Chamar Saudade

A Flor e o Espinho

Um comentário:

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