domingo, 27 de janeiro de 2008

O microfone e a bossa de Mário Reis

Em 1928, o jovem de 20 anos Mário da Silva Meirelles Reis foi um dos primeiros a gravar um disco com a então moderna técnica de captação de som: o microfone. Na época, o então estudante de direito e colega de escola de Ary Barroso, não sabia que revulocionaria a canção brasileira com sua nova forma de cantar, influenciando o inventor da bossa nova, João Gilberto.

Para o jornalista e crítico de música Luís Antônio Giron, que escreveu o livro Mário Reis – O fino do samba (publicado pela Editora 34), “João está encapsulado no cérebro de Mário”. Em entrevista publicada na Agenda do Samba-Choro, Giron conta por que João não existiria sem Mário Reis:

"Existiria como indivíduo biológico e até como cantor semi-impostado, ao estilo de Lúcio Alves. Mas sua maneira especial de explorar as sutilezas da linha melódica e da fala baiana não teria sido possível sem a aparição da técnica de Mário. João levou adiante a descoberta da "bossa". Porque Mário não foi apenas um genial intérprete da ironia e do desencanto amoroso; foi um inventor de uma técnica vocal, de um estilo de cantar que pode ser chamado tranqüilamente de "brasileiro", em contraposição ao estilo lírico "italiano". A bossa nova, de certa forma, é filha da bossa. E bossa era um termo que significava, na época, um jeito suave de cantar, com sábia ironia. "

Mário Reis canta “Cadê Mimi?”, no Filme Alô Alô Carnaval -1936

Antes de Mário, apenas Francisco Alves tinha soltado a opulente voz, em 1927, com a canção “Morena”, de Eduardo Souto. Ainda em 1927 muitos cantores se arriscaram a gravar, sem sucesso, frente ao desafiador microfone.

A dificuldade estava justamente na captação eletromagnética do som feita pelo microfone. Até então era usado o autofone, um sistema mecânico no formato de um cone que sensibilizava o diafragma de borracha, que, por sua vez, fazia a agulha vincar a matriz de cera, rodando em um torno.

O processo obrigava os artistas a cantarem em um volume elevado, chegando inclusive a gritar. Isso condizia com a maneira operística de se cantar e ajudava nomes como Vicente Celestino ou Carlos Galhardo a desempenhar seu papel nas gravadoras.

Mas no estúdio Odeon, na cúpula do Teatro Phoênix, localizada na conhecida Praça Tiradentes, Mário revolucionou a história da música. A voz suave, sincopada e marcada por uma harmoniosa escanção silábica também influenciou o poeta da Vila, Noel Rosa.

Aproximadamente 80 anos depois, pouco da ironia da bossa de Mário Reis passou para as canções da bossa nova de João Gilberto. Mas uma coisa não se pode negar. Entre um e outro ficou uma intensa relação com o microfone.

Mário Reis - 1971*
1. Cansei (Sinhô)
2. Amar a uma só mulher (Sinhô)
3. Moreninha da praia (João de Barro)
4. Fui louco (Bide)
5. Nem é bom falar (Nilton Bastos - Ismael Silva - Francisco Alves)
6. Voltei a cantar (Lamartine Babo)
7. A banda (Chico Buarque)
8. Filosofia (Noel Rosa)
9. Rasguei a minha fantasia (Lamartine Babo)
10. Gosto que me enrosco (Sinhô)
11. Se você jurar (Nilton Bastos - Ismael Silva - Francisco Alves)
*Músicas em Mp3

Mário Reis (1971)

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